Visto, lido e ouvido

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Sem lideranças e sem coesão, o Brasil vai mal na pandemia

Estamos distantes ainda de um nível aceitável de Estado civilizado e coeso. Diferentemente de outros países desenvolvidos do Ocidente, onde, em tempos de aflição generalizada, sempre que o destino adverso pôs em risco a integridade da nação, mais e mais foi reforçado o sentimento geral de que a união de todos, em torno de um objetivo comum, era a solução ideal.

Não há fórmulas mágicas capazes de restabelecer a normalidade de um país, submetido a ameaças, ainda mais quando o que está em pauta é a sobrevivência da população. Em nosso país, o quadro é outro. Desde o anúncio da existência do vírus, o que era um desassossego geral, por falta de estratégias racionais e uníssonas para enfrentar a pandemia, transformou-se numa rinha política generalizada.

Nesse cenário surreal, até mesmo a chegada da tão esperada e redentora vacina passou a ser utilizada mesquinhamente como palanque político, onde passaram a se exibir, um a um, os candidatos a paladinos da saúde. A desfaçatez com que utilizam a vacina como propaganda política e partidária deixou patente a todos que, mesmo sobre caixões de mortos, e possível erguer-se palanques para campanhas.

Essa é a diferença básica a demonstrar o quanto ainda temos que percorrer até chegarmos no patamar em que estão outras nações no enfrentamento à pandemia. Nesta altura dos acontecimentos, não resta dúvida de que até a pandemia mortal pode ser colocada em segundo plano, quando o que está em jogo são as disputas por espaços políticos individuais.

No parlamento e mesmo na Justiça, o assunto é secundário e só ressurge quando a questão põe em risco projetos pessoais. Um estrangeiro, que circulasse pelos corredores do Poder, ficaria estarrecido com o grau de alienação da maioria de nossas lideranças, num momento como esse. Pensaria, inclusive, que o país estaria livre da virose, tal a pouca importância que a questão despertava em cada um.

As eleições de 2022 sobrepuseram-se à questão da pandemia. A tudo a população assiste, entre espanto e medo. Obviamente, os laboratórios internacionais, com a China na ponta, sabedores desse pandemônio em que o país parece mergulhado, por conta do vai e vem e das decisões sem projetos claros, cobrarão preços altos pelas indecisões.

É preciso lembrar que o setor da farmacoquímica internacional é, tradicionalmente, bafejado pela sorte e pelos lucros exorbitantes, toda vez que uma pandemia se anuncia no horizonte, não sendo diferente neste caso, em que a doença parece ter atingido o grosso da população mundial.

O noticiário geral dá como certo que, nesta batalha contra a pandemia, o maior perdedor será justamente o presidente da República, pela demora e pela insensibilidade com que tratou do tema desde o início. Nesse caso, tanto ele quanto o governador de São Paulo, pela exploração excessiva do assunto para fins eleitorais, igualam-se quando o assunto são as críticas da população à atuação de cada um.

Para complicar ainda mais um cenário que é confuso o bastante, os exemplos vindos dos governantes e a seriedade ou não com que tratam essa questão acabam refletindo no comportamento da população, que pouco a pouco vai relaxando nas estratégias de autodefesa, principalmente, a parcela mais jovem que vai se entregando aos antigos hábitos de aglomeração e de festas. Sem coesão e sem lideranças capazes, não será surpresa se viermos a ocupar, no ranking da pandemia, a posição de liderança mundial em infectados e mortos.

 

A frase que foi pronunciada

“O segredo da gestão de crises não é o bem versus o mal, é evitar que o mal piore”
Andrew Gilman, presidente e fundador da CommCore. Jornalista premiado e advogado


Déjà-vu
Jornalismo é uma profissão muito fácil quando as coisas não mudam. Basta mudar o nome dos responsáveis. Observe o que diz a história de Brasília registrada por Ari Cunha no final dessa coluna. Quase 60 anos e a invasão de terras no DF continua na mesma. A premiação, também.


Carpe Diem
Por outro lado, jornalismo torna-se a profissão mais desafiante quando as vaidades das autoridades se sobrepõem sobre os interesses do Brasil. Nem que seja uma linha a mais no currículo, às custas de acordos escusos.

 

História de Brasília

O regime de premiar os invasores com um lote, dar caminhão para transportar o barraco e ajuda de custo, afora ser dispendioso demais, é aviltante, porque premia os que se apossam do que não lhes pertence. (Publicado em 20/1/1962)