Rebecca Beatriz Rodrigues Santos e Emilly Victoria da Silva Moreira Santos. Esses são os nomes de duas meninas de 7 e 4 anos que se juntam à triste estatística de crianças que tiveram a vida interrompida por tiros. As duas brincavam na calçada em frente ao portão de casa na comunidade do Barro Vermelho, no bairro Jardim Gramado, em Duque de Caxias (RJ), quando foram atingidas. Segundo a família, as balas partiram de policiais que patrulhavam a rua. Já a corporação nega os disparos, dizendo que os militares se deslocaram ao local apenas após serem acionados para atender a ocorrência.
As meninas tinham sonhos. Rebecca, de ser marinheira. Emilly contava os dias para a primeira festa de aniversário. Os aguardados 5 anos, que seriam comemorados com o tema de Moana, uma das princesas da Disney e personagem favorita da menina. Todos esses anseios foram enterrados com elas, assim como os de tantas outras que foram assassinadas nos últimos anos no Brasil.
Só na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 2020, outras 20 crianças de até 12 anos foram baleadas, segundo informações do Fogo Cruzado, laboratório de dados sobre a violência armada no Rio de Janeiro e no Recife. Destas, seis morreram.
Em 10 de janeiro, Anna Carolina de Souza Neves, 8, morreu após ser atingida por uma bala perdida enquanto estava dentro de casa no Parque Esperança, em Belford Roxo. Em 23 de março, Maria Eduarda Pereira da Costa, 8 anos, também foi morta em Belfort Roxo. Em 7 de junho, Douglas Enzo Maia dos Santos Marinho, 4 anos, morreu durante a própria festa de aniversário em Piabetá, em Magé. No dia 26 do mesmo mês, foi Kauã Vitor da Silva, 11, ao levar um tiro na cabeça no Complexo da Maré. Numa festa junina, em 28 de junho, morreu Rayane Lopes, 10, em uma chacina no bairro Anchieta. Em São João do Meriti, Ítalo Augusto de Castro Amorim, 7, foi atingido por uma bala perdida e não resistiu.
O assassinato de crianças nas periferias e nas favelas brasileiras, infelizmente, tornou-se uma notícia amarga, que, com cada vez mais frequência, temos de acompanhar. Em setembro do ano passado, escrevi neste mesmo espaço um texto bem parecido. Tinha acabado de morrer Ágatha Vitória Sales Felix, 8, com um tiro nas costas dentro de uma Kombi que transitava pelo Complexo do Alemão. Ela era a quinta de 16 crianças que haviam sido baleadas até aquele período no Rio de Janeiro. Além dela, morreram Jenifer Gomes, 11, Kauê dos Santos, 12, Kauã Rozário, 11, e Kauan Peixoto, 12.
Até quando vamos suportar que as nossas crianças tenham as vidas interrompidas desta forma? A morte de cada uma delas é a certeza de que o primeiro direito fundamental elencado na Constituição Federal para crianças e adolescentes está sendo ignorado: o direito à vida.