PANDEMIA

Uma prece de Natal

''Lá se vão exaustivos nove meses de uma crise com sensação de eternidade, mas que haverá de passar''

São tempos tão estranhos e complexos que os caprichos do destino permitem, ao mesmo momento, validar o maior mandamento cristão, bem como uma máxima do célebre filósofo que anunciou a morte de Deus. ''Amai o próximo'', ensinaram os Evangelhos. ''Ame o distante'', pregava Zaratustra do alto do monte. Em verdade, eu vos digo: amai o próximo e também a distância, para bem passarmos o próximo Natal. Em época de pandemia de coronavírus, todas as estratégias são válidas para preservarmos afetos e salvarmos vidas.

Lá se vão exaustivos nove meses de uma crise com sensação de eternidade, mas que haverá de passar. E bem poderia, após uma tormentosa gestação, a humanidade renascer mais justa, fraterna e consciente dos desafios que ameaçam a prosperidade dos povos e a própria existência - a começar por esse terrível drama sanitário, que diariamente sacrifica milhares de pessoas em todo o mundo. Enquanto a solução vacinal não é efetivamente testada e aprovada, resta-nos aceitar a realidade presente e aprender a desfrutar o novo normal.

Se o bom e velho samba-rock do fim de semana segue suspenso, o convite à introspecção regada a ioga e meditação se apresenta como alternativa para a necessária conexão familiar ou com a própria individualidade. Como recomenda o saudoso professor Hermógenes, as urgentes ações de solidariedade, em múltiplas possibilidades - da atenção com a saúde dos idosos aos cuidados com as crianças (carentes de acesso à educação) -, são remédio para aliviar e mesmo sanar profundas crises depressivas ou de ansiedade.

A temática ambiental também urge, intricando aspectos que perpassam a segurança alimentar e energética. Mas, se parecemos incapazes de praticar respeito e compaixão com a biodiversidade do planeta, talvez, ao menos, seja prudente restaurar ecossistemas naturais para que o regime de chuvas se mantenha conforme a tradição e não nos deixe as baterias dos smartphones desabastecidas por algum inesperado e surpreendente apagão - seria trágico.

Por fim, como é Natal, que o sincero arrependimento se converta em perdão para aquilo que pode ser perdoado, mas, preferencialmente, cessem as paixões e desventuras de corações inebriados de poesia, antes de caírem em tentação. Que os sorrisos jamais deem lugar ao pranto e ao rancor. E que os amantes, próximos ou distantes, transformem áridas paisagens sertanejas em jardins de delícias terrenas pela magia que transborda de um verdadeiro romance. Amém!