Esperança e obstáculos

O anúncio do início da vacinação em massa contra a covid-19, a partir da semana que vem no Reino Unido, traz esperança de dias melhores. É o passo que faltava para sair dos laboratórios e virar realidade. Evidente que ainda vai demorar para ser aplicada em todos de forma universal, mas, mesmo ainda restrita aos grupos prioritários, faz ressurgir a possibilidade de termos uma vida com menos percalços nos anos que se avizinham.

Quanto tempo vai demorar para chegar aos brasileiros é uma incógnita. Com tantas etapas ainda a serem cumpridas, como aprovação pela Anvisa, definição de qual vacina será aplicada, planejamento da campanha de imunização e a devida execução, qualquer previsão não passa de chute. Ou melhor, “estimativa”. Os mais otimistas falam em janeiro. Os mais pessimistas pregam cautela e pedem para aguardar até o meio do ano. O importante é que seja feita com organização e com pessoas capacitadas, respeitando sempre a fila de prioridades.

E a discussão sobre a campanha de vacinação ganha ainda mais relevância porque é praticamente consenso no mercado de que o ritmo de recuperação da economia brasileira — a tal retomada em V de Paulo Guedes — depende dela. O setor de serviços, por exemplo, só vai voltar à normalidade e recuperar os níveis pré-pandemia quando for uma imunização em larga escala na população.

E, aqui, há um problema: segundo o planejamento detalhado pelo Ministério da Saúde, a vacinação em 2021 deve atingir um terço dos brasileiros ao longo de todo o ano. Aparentemente, é um percentual distante para garantir a proteção de todos, mas deve tornar o atendimento dos profissionais de saúde mais seguro, bem como contribuir para uma menor pressão sobre o sistema, com menor ocupação de leitos de enfermaria e de UTI, e diminuição de restrições a atividades do dia a dia.

Além disso, há que se levar em conta qual o grau de imunidade será atingido com a vacina. Temporário ou duradouro? Doses anuais ou de uma única vez? São respostas que surgirão apenas com a aplicação em larga escala, apesar dos números animadores da eficácia atingida nos testes. E, ainda, será necessário superar a barreira provocada pelos grupos antivacina. Há uma sensação de que um grande número de pessoas não vai se imunizar sem uma campanha nacional de comunicação e de educação da população. Vamos ver como vai agir o governo federal.