Tanto nas eleições municipais quanto nas esferas estadual e federal, o debate político brasileiro é indigente. Os “líderes” acentuam o discurso em ataques pessoais, ofensas familiares e sexistas, raciais, ideológicas e de corrupção mútua porque dela dificilmente escapam. Nenhum deles revela uma visão mínima, clara e construtiva do que será o país a médio e longo prazos.
E isso nada tem a ver com a covid, uma vez que os dados que serão apresentados neste texto se referem ao ano de 2019. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nada menos do que 22,1% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos não estudam e nem trabalham.
Basta um olhar atento para entender algumas peculiaridades. Em qual estado a situação é pior? Em Alagoas — não por acaso o mais violento do país. Em segundo, o Maranhão, por mais de meio século governado como uma capitania hereditária. Depois, os demais estados nordestinos, berços de famílias políticas abastadas e de um presidente que angariava ali um número expressivo de votos, além de ser uma região bastante beneficiada pelos programas de bolsas oficiais.
Em paralelo vemos os estados da região Norte, os que mais têm áreas férteis e sustentáveis — se houvesse uma política de aproveitamento. Em vez disso, transformaram-se no paraíso de grileiros, desmatadores e de ocupação ilegal e desordenada. Detalhes a observar: Rondônia, uma região colonizada dentro do figurino de agropecuaristas do Sul, está longe de seus vizinhos e tangenciando São Paulo. O mesmo se pode dizer de Tocantins, o mais novo estado brasileiro e importante canal de recursos da iniciativa privada.
Os baianos — ao contrário do que apregoam as línguas fáceis — são os de melhor perspectiva entre os nordestinos, fruto dos avanços da indústria nas zonas metropolitanas, do turismo no litoral e da soja e do café nas áreas mais férteis do interior. Olhando para o Centro-Oeste, enxergamos um panorama mais favorável à ocupação dos jovens, graças às oportunidades levadas pelo agronegócio ao campo e às cidades-polo, além das capitais.
Lá embaixo, o Paraná (um pouco menos), Santa Catarina e Rio Grande do Sul formam a cereja do bolo. Ou seja, os estados em que há menos jovens sem fazer nada. Por quê? É direito de cada um fazer a própria interpretação e arrisco a minha. Os estados do Sul são os que mais conservaram a cultura europeia e, com essa disciplina, as tradições familiares, a vida em comunidade e a certeza do trabalho como forma de enriquecer honestamente. Contam, ainda, as pequenas propriedades, a religião e a indústria. Santa Catarina tem, hoje, um polo industrial de excelência comparável ao de São Paulo de 1950.
Os gaúchos são um caso à parte. Têm suas histórias e tradições e não costumam fazer feio diante do Brasil. O feio que estamos fazendo nós, paulistas e cariocas (fluminenses ficam distantes). São Paulo, especialmente a capital, onde o mundo inteiro veio trabalhar, não tem nada de novo a oferecer aos jovens. Já fomos de tudo e paramos no tempo. Uma realidade muito parecida com a dos cariocas.
Na região central de nosso país, abre-se um outro claro: o Distrito Federal, onde está a maior renda do país e os jovens conseguem se colocar melhor do que nos outros centros. Os “líderes” dirão: “Isso mesmo! Aqui os jovens acham emprego para fazer o Brasil crescer!” Nos concursos públicos, especialmente — que o Brasil inteiro resolveu imitar como a nova fonte de geração de renda. Será assim o nosso futuro?
Sei da luta dos meus parentes em busca de emprego na Itália e que, na Califórnia, o filho de uma amiga foi demitido e voltou a morar com ela. Não se trata, portanto, de uma dificuldade apenas brasileira, mas os Estados Unidos e os países europeus vivem outra fase de sua história.
Aqui, ainda temos muito a fazer. Faltam mão de obra, gente bem preparada e, principalmente, líderes. Políticos e empreendedores que convençam os jovens a acreditar mais no estudo e no trabalho e menos nas benesses do Estado.
* Jornalista