COVID-19

Segunda onda de desespero

''Têm de deixar de lado a politicagem, os interesses mesquinhos e se unirem em busca de soluções para socorrer, em especial, a população carente''

Vivemos tempos desesperadores. Nada menos do que isso. Talvez, não sejam para uma parcela da população, mas são, principalmente, para quem tinha pouco ou quase nada e se viu em situação ainda mais angustiante com a chegada da covid-19. Gente que perdeu o emprego e não tem nenhuma perspectiva de recolocação, no curto prazo, neste mercado de trabalho fortemente impactado pela pandemia. Gente que não consegue meios de prover à família o mais básico, como comida. Uma agonia impossível de mensurar.

Até o auxílio emergencial, que teve o valor cortado pela metade, está, agora, sob risco de acabar. Como podem dormir pais e mães sem saber como sustentarão os filhos? Como pagarão aluguel e as contas que se acumulam? Tente se colocar no lugar dessas pessoas. É sofrimento demais.

E o tormento parece longe do fim. Mal baixamos os números de infectados e de mortes e eis que surge a segunda onda da covid. O que será deste país? O cenário mostra-se sombrio. Não só pela doença e as vidas que dizima, mas pela forma como autoridades públicas lidam com os impactos sociais e econômicos dela.

A sensação que tenho é de que o Brasil está à deriva. As promessas na área econômica foram, até agora, muito barulho para quase nada. O Congresso está paralisado, em meio a disputas políticas. O Ministério da Saúde, que — por óbvio — deveria estar à frente do combate a esta crise sanitária sem precedentes na história recente, age como se o problema não lhe fosse pertinente.

Para completar, o comandante do país é um negacionista da doença que já matou mais de 170 mil brasileiros. Ele tripudia e desrespeita quem leva a sério o vírus e atrapalha as ações de enfrentamento do mal. Não satisfeito, politiza vacinas, única forma à vista para começarmos a emergir deste pesadelo.

O futuro de incertezas afeta todos nós, mas o fardo é, incomparavelmente, mais pesado para os totalmente vulneráveis, que dependem da iniciativa de autoridades públicas. Governo e Congresso têm de lembrar que respondem ao povo. Têm de deixar de lado a politicagem, os interesses mesquinhos e se unirem em busca de soluções para socorrer, em especial, a população carente. Mas, é muito fácil ignorar a urgência dos mais necessitados quando se está de barriga cheia, com empregos e salários garantidos.