Pela oitava vez consecutiva, o Brasil fechará o ano com as contas no vermelho. A primeira onda da pandemia do novo coronavírus derrubou todas as previsões para este ano. A equipe econômica prevê que o rombo fiscal de 2020 será de R$ 891,1 bilhões. Desse total, R$ 605 bilhões são atribuídos ao impacto da crise sanitária.
O Produto Interno Bruto (PIB), que teve um crescimento pífio em 2019 — 1,1% —, vai encolher neste ano 4,7%, segundo as previsões mais otimistas. O ano-novo será velho, com dificuldades ainda bem maiores. O esforço para levar o país ao caminho do desenvolvimento exigirá muito do governo. Atrair investidores nacionais e estrangeiros é imperativo para alavancar a economia. Mas isso não será conseguido sem que haja credibilidade e alinhamento do Brasil com a tendência global.
A política ambiental é ponto de tensão entre o governo brasileiro e os países desenvolvidos que aderiram ao Acordo de Paris, que tem entre os seus objetivos orientar a migração para uma economia verde, a preservação da natureza e a redução drástica da emissão de gases de efeito estufa. O propósito é evitar que a elevação da temperatura comprometa a vida humana e de todas as espécies do planeta.
Nos últimos dois anos, o Brasil perdeu a condição de líder mundial de governança ambiental e passou a ser “pária ambiental”, dada a reversão das políticas públicas para o setor. Neste ano, as queimadas no período de estiagem e os desmatamentos bateram recordes de perdas florestais na comparação com a década passada. Superou, inclusive, os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer, nos quais a questão ambiental foi relegada a segundo plano.
Nações como França, Alemanha, Noruega e outras têm capacidade e interesse em investir no Brasil, desde que a política ambiental não trafegue na contramão da tendência mundial. Isso implica preservação dos biomas e, principalmente, dos ecossistemas amazônicos, além de políticas públicas voltadas às populações originárias e tradicionais.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pretende reingressar a maior potência do mundo no Acordo de Paris e derrubar as regras editadas por Donald Trump, um negacionista das mudanças climáticas. Em relação ao Brasil, Biden se propõe a arrecadar pelo menos US$ 20 bilhões para garantir a preservação da Amazônia. Mas, até agora, a sua vitória não foi reconhecida pelo presidente Jair Bolsonaro, alinhado com Trump.
Bolsonaro pensa e age diferente. Ele entende que as condicionantes dos países defensores do meio ambiente são intervenções e ameaças à soberania nacional. Ele quer expandir a produção agropecuária, a mineração e outras atividades que implicam derrubada da floresta, com impactos ambientais inimagináveis, além de ameaça à vida das populações indígenas e tradicionais.
Desconsidera que é possível expandir o agronegócio sem invadir a floresta. O país dispõe de 55 milhões de hectares não antropizados disponíveis à produção de alimentos. Entre os setores que podem ser afetados pelos planos do presidente, está o agronegócio, com peso expressivo nas exportações nacionais. Nos primeiros nove meses deste ano, o setor arrecadou US$ 77,9 bilhões, com destaque para as vendas de soja, carne bovina e açúcar ao exterior. Há países que ameaçam boicotar os produtos agropecuários do Brasil, o que vem elevando o grau de preocupação dos empresários do campo.
Para um país com a economia arrasada, com quase 14 milhões de desempregados, a perda de investimentos nacionais e estrangeiros pode aprofundar ainda mais o caos social e econômico que permeia o Brasil. Hoje, o que está ruim poderá ser ainda muito pior, se o governo brasileiro persistir no isolamento em relação ao movimento global pela bioeconomia.