Imagem (des)construída!

Você já imaginou se olhar no espelho e não mais reconhecer a própria imagem? Para uma legião de jovens internautas, infelizmente, essa é uma realidade. Tudo começou com uma brincadeira — e, para muitos, ainda é: baixar filtros faciais que permitem manipular as fotos e deixá-las divertidas, acrescentando orelhinha e focinho de gatinho ou coelho, dando um efeito fluorescente ou colocando sardas fakes.

O problema é que, para além da diversão, muitos usuários passaram a ficar obstinados em conseguir a selfie perfeita e começaram a usar os filtros não só para brincar, mas para corrigir pequenas “falhas” do rosto — afinar o nariz, deixar a maçã da face mais saliente, tirar manchas e espinhas, arquear as sobrancelhas, enfim, o céu é o limite. Nas redes sociais, tudo é aperfeiçoável, inclusive a imagem que se deseja projetar.Daí para esse perfeccionismo se tornar uma doença, foi um passo. Especialistas já falam em uma geração com transtorno de disformia corporal. Nele, a pessoa encontra defeitos que só ela enxerga e busca uma perfeição impossível de se obter. Há relatos de que muitos chegam a procurar dermatologistas ou cirurgiões plásticos, querendo transformar a foto “filtrada” em uma imagem real.

Claro que estou me referindo a casos extremos. Afinal, não há problema algum em querer sair bem na selfie, nem que, para isso, precise, sim, aplicar um filtrinho. A preocupação maior é, sobretudo, com os adolescentes — fase que, por si só, com todas as mudanças hormonais e físicas, traz uma carga emocional pesada. E eles estão, sim, mais vulneráveis e influenciáveis a seguir um padrão estético propagado pelas redes sociais.

Não é preciso ser psicólogo ou psiquiatra para perceber que há algo de muito errado neste universo digital. Mais do que nunca, precisamos ficar atentos para manter uma relação saudável com nossa própria imagem e, até mais importante, ajudar os ainda jovens e inexperientes a não cair nas armadilhas que essas novas ferramentas e nossas cucas nos pregam.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior número de depressivos nas Américas. São 5,8% da população. Ficamos atrás somente dos Estados Unidos, com 5,9%. Apenas como comparação, essa doença afeta, em média, 4,4% da população mundial. O Brasil também é o país com maior prevalência de ansiedade no mundo: 9,3%.

A pandemia do novo coronavírus e todas as suas consequências já são motivos mais do que suficiente para nos preocuparmos. Que tal focarmos no lado bom da rede — sim, há vários — para passarmos por essa fase de forma mais leve e sem nos importar tanto com o que os outros pensam? Fica a dica desse cuidado que precisamos dedicar a nós mesmos e a todos que amamos, todos os dias.