Durante os meses mais críticos de 2020, a indústria de alimentos manteve o seu compromisso de assegurar o abastecimento e preservar a saúde de todos que atuam em seu contexto operacional. Agora que há sinais de que a pandemia está entrando em uma fase de maior controle, temos o desafio de compreender e nos adaptar às mudanças de comportamentos e hábitos das pessoas, cujos impactos ainda estão em curso na economia e na indústria como um todo. Em função dessa perspectiva, os próximos anos representam para a indústria brasileira, simultaneamente, uma grande responsabilidade, muitas oportunidades e também o desafio de produzir alimentos de qualidade, com segurança e, cada vez mais, dentro de uma agenda sustentável, com bom uso dos recursos naturais.
Produzir alimentos não só é o que sabemos fazer, e, falando especialmente pela BRF, é o que fazemos com muita paixão. Então, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) divulga estudos apontando que a população mundial deverá somar 10 bilhões de pessoas em 2050, elevando em mais de 50% a demanda geral de alimentos, sendo que a necessidade de proteína animal poderá aumentar 70% em relação aos níveis atuais, certamente, este é um tema que está diretamente relacionado conosco no Brasil, já que estamos entre os maiores produtores e exportadores do mundo.
São muitas as oportunidades para o setor de alimentos do Brasil. Nossas exportações vêm crescendo num ritmo de 3,7% ao ano, desde os anos 1990. Em igual período, os embarques de frango e suíno cresceram acima da média, 5,9% e 6,2%, em média, respectivamente. O país é o segundo produtor mundial e primeiro exportador de carne de aves e quarto exportador de carne suína, dando como referência o mercado da BRF que, por sinal, responde sozinha por 3% da produção mundial de frango e, se fosse um país, seria o sétimo maior produtor de proteína de aves do planeta.
Além da expertise em gestão de uma cadeia extremamente complexa, que vai do campo à mesa, em 2020, a indústria de alimentos do Brasil vem avançando de forma consistente na agregação de valor. Do total da produção agropecuária nacional, 58% são processados pela indústria no próprio país. O setor também é o maior empregador, com 1,6 milhão de postos de trabalho diretos e formais. Nossas exportações chegam a milhões de pessoas em 180 países.
Esses são fatos e dados que precisam ser iluminados, por mostrarem que a produção de alimentos no Brasil está preparada para os desafios que temos à frente e que podemos superá-los dentro de uma agenda de desenvolvimento sustentável. Vejo toda a indústria se movendo nessa direção, investindo em inovação e tecnologia para ganhos de produtividade e melhoria de processos dentro de critérios ESG (Environmental, Social and Governance). Estamos otimizando nossas vantagens competitivas naturais, aumentando em nossa matriz as fontes de energia renováveis. A BRF, que é pioneira no uso de biomassa, tem, hoje, 94% de combustíveis renováveis, percentual superior à média nacional, de 43%, e mundial, que é 14%. Em energia elétrica, nosso índice é de 91%, frente aos 83% do país e aos 22% da média mundial.
Aprofundamos a consciência de nossa interdependência, atuando colaborativamente com cada elo da cadeia e setorialmente. Na BRF, temos um Comitê de Embalagens Sustentáveis, com profissionais de P&D, Sustentabilidade e Inovação, focado em redução do uso de materiais e no aumento da reciclabilidade, em conformidade com a legislação. Com outras grandes empresas, a BRF integra o programa Reciclar pelo Brasil, que é parte da estratégia empresarial para cumprir a política nacional de resíduos sólidos. Cito este exemplo por ter um componente importante de cooperação entre empresas e cooperativas de catadores. Avançamos também no melhor aproveitamento de todos os nossos insumos, reduzindo resíduos e perdas, como forma de combate ao desperdício.
Mas o importante é que há inúmeras iniciativas sendo implementadas por diferentes empresas em todo o país, buscando cada vez mais a sustentabilidade, e elas são a maioria. Estamos fazendo certo, do jeito certo, com senso de responsabilidade e muito cientes de que podemos e devemos fazer mais para o desenvolvimento sustentável. Este caminho, que a indústria de alimentos do Brasil vem trilhando, não tem volta. Temos muito orgulho de seguir nele, mostrando que é possível produzir os alimentos que necessitamos com respeito e cuidado com as pessoas e com o planeta.
* CEO da BRF