COVID-19

Esperança na vacina

''Hoje, no mundo, há seis estudos de imunizantes em fase final de desenvolvimento. Quatro deles estão em teste no Brasil''

É desumano e repulsivo politizar vacina, como tem acontecido no Brasil. Preconceitos e interesses mesquinhos e eleitoreiros ameaçam minar esforços por um imunizante para conter o flagelo da covid-19. Passam por cima de todo luto, desespero e terror trazidos pelo vírus a um país com estruturas econômicas e sociais já tão abaladas.

Somos uma nação que ainda conta seus mortos diários às centenas. Em oito meses, mais de 160 mil brasileiros perderam a vida para a doença que abala o planeta. E a tragédia vai além da mortandade. Por aqui, a pandemia assolou a combalida economia, forçou o fechamento de empresas, dizimou vagas no mercado de trabalho. O desemprego, uma chaga mesmo antes da crise sanitária, agora ganha contornos comoventes: 14 milhões estão sem ocupação. A fome, que batia à porta de um sem-número de lares país afora, agora se instalou de vez, sem perspectiva de ser expulsa tão cedo.

Por causa do novo coronavírus, milhões de crianças e adolescentes carentes estão fora das salas de aula. As implicações para eles são devastadoras. Para muitos, era na escola que conseguiam a principal refeição do dia. O ambiente educacional também propiciava um canal para denúncias de abusos sexuais, físicos e psicológicos. Hoje, confinados com seus agressores, não têm condições de pedir socorro. Há outro drama aí: o atraso nos estudos, justamente o caminho que têm de, no futuro, tentarem quebrar o ciclo de miséria em que vivem.

O panorama desolador dá a medida da urgência de uma vacina para enfrentar este inimigo feroz. Hoje, no mundo, há seis estudos de imunizantes em fase final de desenvolvimento. Quatro deles estão em teste no Brasil. Independentemente de bandeiras, são a esperança de frear as mortes e buscar saídas para as múltiplas crises. Torcer contra qualquer um deles, comemorar eventuais fracassos é de uma insensibilidade atroz, um total desrespeito ao sofrimento humano.