VISÃO DO CORREIO

Recado ao Planalto

''O presidente da Câmara assegurou que enquanto estiver dirigindo a casa não colocará na pauta de votação propostas consideradas populistas, como a extensão do estado de calamidade pública''

O alerta, agora, é do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para quem o governo vive momentos de indecisão e que medidas têm de ser tomadas com urgência para que o país possa superar a crise atual, com as contas públicas estouradas e pressões surgindo de todos os lados para que os gastos governamentais aumentem. Foi taxativo ao dizer que adotar programas de ajuda à população menos favorecida para substituir o Bolsa Família, sem respeitar o teto de gastos — ele limita as despesas do governo ao índice de inflação do ano anterior — é puro populismo.

Também afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é uma das últimas vozes na Esplanada dos Ministérios a defender a observância do teto de gastos, estando “quase sozinho, isolado, na defesa das regras atuais”. Garantiu que não existe entraves políticos para a solução dos problemas, mas sim indefinição do Palácio do Planalto. Para ele, ninguém tem certeza do que o governo pretende e, no meio disso tudo, ficam lançando balões de ensaio para elevar os gastos da União, o que vai ao encontro das aspirações de setores do próprio governo, mas assusta o mercado.

Maia questionou as mudanças nas posições do Executivo, o que deixa o país sem rumo. “A cada semana há uma linha de atuação. Uma semana você vê balão de ensaio para prorrogar o auxílio emergencial (criado para mitigar as perdas sociais e financeiras causadas pela pandemia do novo coronavírus) e, em outro momento, você vê balão de ensaio para prorrogar o estado de calamidade.” Movimentos que, sem dúvida, causam incerteza entre os investidores, ainda na expectativa da aprovação de reformas como a tributária e a administrativa.

O presidente da Câmara assegurou que enquanto estiver dirigindo a casa não colocará na pauta de votação propostas consideradas populistas, como a extensão do estado de calamidade pública. Em recado direto aos que tentam burlar o teto de gastos, Maia disse que “aqueles que sonham com jeitinho na solução do teto aproveitem com o novo presidente da Câmara. Que ele tenha a coragem de ser o responsável por uma profunda crise econômica e social no país”.

Outra questão levantada pelo parlamentar foi a necessidade de se discutir formas de redução do deficit primário, quando a dívida pública está prestes a chegar a 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Debate mais do que necessário, pois responsabilidade fiscal significa corte de gastos, e nunca elevá-los, como querem os que se preocupam com seus interesses imediatistas, em detrimento do bem comum.