VISÃO DO CORREIO

Dia D para Trump e Biden

''Se Biden for o vitorioso, o cenário político e econômico muda completamente. O democrata anunciou que um dos seus primeiros atos será a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris''

Os norte-americanos decidem, hoje, quem comandará os Estados Unidos pelos próximos quatro anos. A disputa é acirrada entre o republicano e ultraconservador Donald Trump, que busca a reeleição, e o democrata Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama. Para o Brasil, a manutenção de Trump ou a chegada de Biden à Casa Branca não terá impacto violento nas relações comerciais entre os dois países na avaliação de especialistas. Os EUA continuarão sendo o segundo maior parceiro comercial do país, depois da China.

A reeleição de Trump seria mais confortável para o governo Bolsonaro, devido ao alinhamento ideológico existente entre ambos. Tanto o presidente quanto os bolsonaristas torcem pela vitória do republicano, sobretudo, para a manutenção da agenda negacionista e contra o meio ambiente. Durante a pandemia do novo coronavírus, ambos negligenciaram o isolamento social.

Trump recuou num segundo momento, diante do avassalador número de infectados e de mortos, principalmente em Nova York, que se tornou o epicentro da crise sanitária naquele país. Os Estados Unidos se mantêm como o campeão em número de casos e óbitos. Bolsonaro seguiu firme contra o isolamento social e o uso de máscaras de proteção. O Brasil está em terceiro lugar em infectados, atrás da Índia, que tem uma população seis vezes maior do que a brasileira, mas na segunda posição em mortos. Os dois presidentes também foram críticos das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em relação ao meio ambiente, ambos têm convicções idênticas. Desacreditam dos impactos das mudanças climáticas, em total divergência dos mais de 190 países que subscreveram o Acordo de Paris. Trump rompeu com o acordo. Bolsonaro ameaçou fazer o mesmo. Mas seu ímpeto foi inibido diante da reação da França e de outros países europeus, que se recusam a levar aos respectivos parlamentos a aprovação do acordo de livre mercado entre o Mercosul e a União Europeia, que foi fechado em junho do ano passado, após 20 anos de negociações.

Se Biden for o vitorioso, o cenário político e econômico muda completamente. O democrata anunciou que um dos seus primeiros atos será a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris. Diferentemente de Bolsonaro, ele defende a preservação ambiental e discorda do avanço da agropecuária na Amazônia. Também discorda do negacionismo de Bolsonaro em relação às orientações médicas e da ciência.

O sonho de Bolsonaro de integrar o Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o apoio do governo Trump não se concretizou. Dificilmente, Biden faria articulação nesse sentido. Mas o democrata, com um perfil conciliador e aberto ao diálogo, não criaria obstáculos. Além disso, ele não interferiria nas relações entre Brasil e China, que têm vultosos investimentos no país, como na modernização dos portos brasileiros. Provavelmente, avaliam os especialistas, Biden não faria campanha contra a chegada da tecnologia 5G asiática ao país. A sorte está lançada. Os rumos das políticas dos EUA para o Brasil e o restante do mundo nunca dependeram tanto do bom senso dos norte-americanos.