ANOS 80

Nem tudo dá saudade

''Sei que o governador dará solução eficiente e suficiente para esse caso e o retorno aos anos 1980 servirá apenas de título para festas da saudade e como expressão da moda e do entretenimento''

ROBÉRIO NEGREIROS
postado em 23/11/2020 06:00 / atualizado em 23/11/2020 09:38

A memória precisa ser seletiva. A desorganização da cidade tem de ficar no passado. Essa é uma obrigação do governo, dos Poderes Legislativo e Judiciário e de todos nós, cidadãos. Nós somos nostálgicos de natureza e há, inclusive, na indústria do entretenimento e da moda, uma certa onda review com os anos 1980. Mas esse saudosismo todo deveria ficar apenas nas mangas balonê e na vibe vinil que pulula nas várias tribos de meia idade que circulam por Brasília.

Digo isso porque, andando pelas ruas da capital — um hábito que adquiri desde o primeiro mandato —, tenho percebido o crescimento de invasões pelas asas Sul, Norte e cidades satélites. Um paisagem que era corriqueira nos anos 1980 e que está querendo nos revisitar. Comunidades inteiras, como a antiga invasão do Ceub, estão sendo erguidas sem sofrerem nenhum incômodo por parte do poder público.

Não se trata de elitismo, mas de uma questão social mais ampla. Essas famílias precisam ser assistidas e ajudadas a encontrarem seu lugar neste mundo, de maneira digna, universal e justa. Mas há, também, a reclamação que tenho escutado de muitos moradores com relação à deterioração da sensação de segurança e do aumento nos casos de criminalidade.

É evidente que a maioria daquelas famílias que estão acampadas nas proximidades da Universidade de Brasília, no fim da Asa Norte, ao lado da Rodoviária interestadual, no viaduto de acesso ao Park Way, próximo ao aeroporto, nas imediações do UniCeub e do Detran e em outras tantas áreas são formadas por pessoas de bem, mas nem todas. Recebo relatos de moradores que informam consumo e venda de drogas, cometimento de pequenos furtos e até roubos com armas brancas.

Não se trata de um caso de polícia, mas de atenção da Secretaria de Desenvolvimento Social. Essas famílias precisam ser triadas, atendidas, removidas para lugares com condições mais dignas e orientadas para acessos universais à saúde, à educação e ao trabalho. Hoje, como está, caracteriza um grave ofensa ao direito dos acampados e dos moradores dessas regiões.

É o retorno de uma situação grave que Brasília havia enfrentado no final dos anos 1980, ainda durante o governo tampão de Joaquim Roriz. Naqueles dias, o governador teve coragem para enfrentar essa questão social grave, agindo de forma justa, triando as famílias e entregando a elas o necessário para garantir uma vida digna.

Essa é uma pauta que tratarei com o nosso atual governador. Sei que ele é uma pessoa sensível a questões urgentes como essa, principalmente nesses dias em que a pandemia nos obriga, como políticos, a cuidar das pessoas de maneira ainda mais acurada. Sei que o governador dará solução eficiente e suficiente para esse caso e o retorno aos anos 1980 servirá apenas de título para festas da saudade e como expressão da moda e do entretenimento.




* Deputado distrital pelo PSD e segundo secretário da Câmara Legislativa do Distrito Federal  

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