Há muito tempo — quando eu ainda era jovem —, tive um vizinho vítima de poliomielite. Ele era um danado. Ia para todo canto com as muletas e até batia bola com os amigos. Mas o esforço físico que empregava era marcante. Imagino o quão diferente seria a vida dele se não tivesse sido alcançado pela doença. Hoje em dia, nenhuma criança precisa mais passar por isso, porque a paralisia infantil pode ser evitada de uma forma muito simples: com vacina. No Brasil, desde 1989, não há registro de casos de polio. Uma bênção propiciada pela imunização.
Mas essa segurança corre risco. Apesar de ter ao alcance um modo fácil e gratuito de evitar a polio, parte da população brasileira não tem vacinado as crianças. No DF, a Secretaria de Saúde teve de prorrogar a campanha de vacinação até o próximo dia 27, porque apenas 40% de meninos e meninas, de 2 meses a 5 anos incompletos, tinham sido imunizados ao fim de outubro.
De acordo com a secretaria, no DF, a série histórica dos últimos 20 anos da cobertura vacinal contra a poliomielite, em menores de 1 ano, mostra uma tendência de queda. Em 2015 e de 2017 a 2019, a meta de 95% não foi atingida. Ainda segundo a pasta, de janeiro a abril deste ano, a cobertura foi de apenas 67,3%, enquanto, no mesmo período de 2019, era de 89,2%. O temor de infecção pelo novo coronavírus explica, em parte, essa baixa adesão, mas, e nos anos anteriores, o que aconteceu? Estamos baixando a guarda.
No Recife, a campanha foi retomada, nesta semana, porque a cobertura vacinal ficou em apenas 65%, longe do índice de 95%, recomendado pela Organização Mundial da Saúde. A capital pernambucana adotou, inclusive, o sistema de drive-thru, em vários pontos da cidade, para tentar aumentar o número de imunizados.
O governo de São Paulo também estendeu a vacinação, que será encerrada somente no dia 30. No estado, ao menos 1 milhão de crianças ainda não receberam as gotinhas. Até o último dia 12, a cobertura vacinal contra a polio atingiu somente 52,4%. Em Minas, a situação é melhor, mas não a ideal. Com 72% de meninos e meninas imunizados ao fim de outubro, o Executivo estadual deu continuidade à campanha neste mês — está marcada para acabar amanhã.
Um dos pontos positivos neste país — de tantos problemas e de desigualdade social atroz — é o programa de imunização. O Calendário Nacional de Vacinação oferece a crianças e adolescentes 18 vacinas, contra as mais diversas doenças. São todas gratuitas, pelo Sistema Único de Saúde. O governo assegura que as salas de aplicação dos imunizantes seguem os protocolos para evitar a disseminação da covid-19. Não deixemos males como polio e outras enfermidades impactar a vida de meninos e meninas. A prevenção é fácil e está ao alcance de todos.
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