Visão do Correio

Debate sobre vacinação exige bom senso

''A vacinação em massa da população não pode nem deve ser objeto de disputas políticas que serão travadas nas eleições de 2022. Em jogo, estão a vida de pessoas e a superação das mazelas sociais e econômicas causadas pela pandemia''

No passado, mães e pais não pensavam duas vezes para levar os filhos aos postos de saúde para vacinação. Havia filas e até prorrogação das campanhas. O Brasil ganhou notoriedade por ter a maior rede de imunização contra doenças virais. As metas, em sua maioria de 95% do público-alvo, eram alcançadas. O país chegou a erradicar várias doenças preveníveis por meio de vacinação, como sarampo, coqueluche, poliomielite e outras, que, mais tarde, acabaram voltando.

Em todo o planeta, negacionistas começaram a disseminar inverdades sobre as vacinas. O Brasil também foi infectado por essa onda de mentiras a respeito da eficácia das vacinas. Ousaram culpar as vacinas pelos casos de autismo, um distúrbio com causas ainda indefinidas pela ciência, mas absolutamente dissociado dos imunizantes. Desde o fim do século passado, as infecções virais e bacterianas voltaram a atormentar a humanidade.

Hoje, o mundo depara-se com a maior epidemia em mais de um século, causada pelo novo coronavírus. Mais de 1 milhão de vidas foram ceifadas no planeta. No Brasil, o vírus causou a morte de mais de 153 mil brasileiros, e o número de infectados supera 5 milhões. Vários países da Europa enfrentam uma possível segunda onda da covid-19. No Brasil, a primeira ainda não passou.

O fim dos vários estudos sobre uma vacina eficaz contra o coronavírus é esperado com ansiedade pela maioria dos países, independentemente de ideologias ou regimes de governo. A Organização Mundial da Saúde (OMS), diante do avanço dos testes com os imunizantes, criou um consórcio para distribuir a vacina pelo planeta. O Brasil aderiu ao grupo, sem prejuízo dos acordos bilaterais que fez para ampliar o número de doses que serão oferecidas gratuitamente no país.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro declarou que a vacina contra o coronavírus “não será obrigatória e ponto final”, respaldando afirmação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de que a adesão dos brasileiros deverá ser voluntária. Foi mais uma resposta direta à afirmação do governador de São Paulo, João Doria, adversário político do presidente, de que todos os paulistas deverão ser imunizados.

A vacinação em massa da população não pode nem deve ser objeto de disputas políticas que serão travadas nas eleições de 2022. Em jogo, estão a vida de pessoas e a superação das mazelas sociais e econômicas causadas pela pandemia. O Brasil e a maior parte dos países afetados pelo novo coronavírus pararam. A economia mundial ficou deprimida. Projetos e planos de governo ficaram contidos nas gavetas. É hora de todos deixarem as rivalidades políticas de lado e se unirem contra a doença. Neste contexto, a vacina desponta como a única solução possível para deter o inimigo invisível que ameaça a humanidade.