O novo normal da temperatura

A previsão do tempo sempre cativou o brasiliense. A seca prolongada é um fenômeno que existe desde a época da construção e consolidação da capital federal. Em 1970, por exemplo, foi registrada a maior estiagem da história. Exatos 137 dias, mais de quatro meses e meio sem cair uma única gota d’água. Só que em 2020 fomos apresentados de vez às ondas de calor.

Não se trata de um fenômeno novo, diga-se de passagem. Há tempos são registradas no hemisfério norte. As altas temperaturas ocorrem com certa frequência na Califórnia, em países europeus e no Japão. Neste ano, porém, as ondas de calor se intensificaram na parte sul do globo terrestre. Ocorreu na Austrália e agora atinge com força o território brasileiro. Nos últimos dias, quase metade do Brasil registrou temperaturas acima de 36ºC, com várias cidades batendo recordes históricos, como Cuiabá (44ºC) e Lins (43,5ºC), no interior de São Paulo.

E a tendência para os próximos anos, alertam cientistas e meteorologistas, é um agravamento do cenário, com temperaturas cada vez mais extremas e duradouras. Há um processo de mudança climática em andamento no planeta, com maior emissão de CO², independentemente das causas. E isso precisa estar no radar das políticas públicas. Não estou falando de combate ao desmatamento, mas de mais uma faceta da desigualdade social existente no país: a estrutura precária das moradias.

Na rua, o calor e a secura atingem a todos de forma igual. Mas, em casa, a situação é ainda mais complicada para quem vive em regiões carentes. Residências construídas de forma precária, sem ventilação correta ou com telhados que concentram o calor, são muito comuns em áreas periféricas das grandes cidades. Não se trata de ter ar-condicionado ou ventiladores para refrescar, mas, sim, de que não foram erguidas para suportar condições climáticas extremas, como chuvas fortes, vide a existência de áreas de risco. E isso tem que estar no radar das autoridades.

Pela previsão do tempo, o calorão vai dar uma folga nos próximos dias. Há (boas) chances de chover no Distrito Federal a partir de amanhã. Depois do feriado de segunda, o bloqueio atmosférico deve começar a se dissipar pelo país. Mas precisamos ter em mente que o novo normal, expressão tão nova e já batida, engloba também a temperatura, com impacto na saúde pública. Calor pode matar. A hipertermia existe e atinge principalmente crianças e idosos. Não duvide.