Gostaria de fazer uma pergunta logo de imediato, caro leitor: “Você confia na ciência?” É um questionamento que provavelmente terá “Em que grau?” como resposta. Pois bem, um estudo divulgado nesta semana, realizado em 20 países antes da pandemia do novo coronavírus pelo norte-americano Pew Research Center, mostra que os brasileiros estão entre os mais céticos do mundo, com 36% dizendo que têm pouca ou nenhuma confiança em pesquisadores científicos. É muita gente. Mais de uma a cada três pessoas.
Segundo o estudo, outros 36% dos brasileiros acreditam “às vezes”. E 23% “confiam muito”. Não fui entrevistado, mas faço parte do último grupo. Sou um devorador de notícias e estudos científicos, que apresentam ainda mais relevância social após a disseminação da covid-19 em todo o globo. Afinal, não é só o desenvolvimento da vacina que se mostra fundamental, mas, também, o mapeamento, prevenção, tratamento e forma de contágio em toda a população. Isso é o papel da ciência, e não de palpiteiros. É estudo, não achismo.
Avalio que muito da crise de confiança da ciência passa pela falta de diálogo com a sociedade. Negacionistas ganharam voz na última década com as redes sociais. Grupos defensores da Terra plana têm mais de 300 mil seguidores no Facebook. Vídeos com viés antivacina passam de 5 milhões de visualizações no YouTube. Ou seja, souberam utilizar as plataformas digitais existentes. E o que ocorreu com a ciência, de uma forma geral? Ficou fechada na redoma da academia. É preciso que mais divulgadores científicos surjam, descrevendo valores e a natureza dos estudos, mesmo que estejam sujeitos a ataques na internet.
Vejo, também, que negar a ciência é uma forma de atuação política, que acaba se tornando uma estratégia comum dos governantes. É mais cômodo para uma autoridade tentar desacreditar pesquisas sobre a evidência da ação humana nas mudanças climáticas, com aumento das queimadas ou do desmatamento, do que colocar em prática medidas restritivas a atividades econômicas, como a indústria do petróleo ou o agronegócio. É mais fácil alimentar teorias da conspiração sobre o surgimento da covid-19 do que admitir a negligência e falta de planejamento governamental no combate ao novo coronavírus. Só espalhando o conhecimento é que se combate a desinformação. É uma tarefa árdua, mas dá para virar o jogo e vencer essa batalha.