O recado do Parlamento Europeu ao governo brasileiro foi claro e direto ao aprovar relatório que afirma que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (EU) não pode ser ratificado da forma “como está”. Os parlamentares do Velho Continente condicionam a futura aprovação do tratado comercial entre os dois blocos econômicos ao cumprimento do Acordo de Paris, firmado por 195 países com o objetivo de combater o aquecimento global e promover a preservação ambiental em todo o mundo.
O relatório encaminhado aos euroeputados para aprovação, ou não, dizia que o Parlamento estava “extremamente preocupado com a política ambiental de Jair Bolsonaro, que vai contra os compromissos do Acordo de Paris, em particular no combate ao aquecimento global e à proteção à biodiversidade”. O nome do presidente chegou a ser mencionado, mas foi suprimido no texto final, aprovado por 354 a 295 votos e 56 abstenções.
Mesmo com a retirada da citação a Bolsonaro, especialistas entendem que a decisão foi mais uma maneira de pressionar o Palácio do Planalto a mudar os rumos de sua política voltada ao meio ambiente. O relatório do Parlamento Europeu não tem poder resolutivo, mas é uma recomendação de peso, uma vez que o tratado comercial deve ser homologado pelos legislativos dos países da UE. A postura dos parlamentares demonstra as dificuldades que serão enfrentadas para a implementação do acordo de livre comércio que levou 20 anos para ser negociado — só foi concluído no ano passado.
Não são poucos os que acreditam que se medidas urgentes e concretas não forem tomadas para conter o desmatamento e as queimadas na Floresta Amazônica e outros biomas, dificilmente o pacto comercial será ratificado. Não se pode esquecer que, atualmente, a questão ambiental ganha relevância política crescente na Europa. Por isso, o Brasil necessita melhorar sua imagem nesse campo, já bastante desgastada pela devastação e queimadas de florestas e o negacionismo adotado por autoridades federais, que tentam de todas as formas minimizar a destruição de vastas regiões.
A votação dos eurodeputados é um forte alerta de que a pressão sobre o Brasil pode piorar, inclusive colocando em risco o relacionamento com outros parceiros comerciais de peso, cujos mercados estão se fechando para os produtos brasileiros. E é cada vez mais intenso o lobby dos agricultores europeus, sobretudo os franceses, para impedir a concorrência do agronegócio brasileiro, cuja pauta de exportações tem preços muito mais competitivos.
Para melhorar a imagem do país, de nada adianta o governo programar visitas guiadas de representantes diplomáticos europeus à Floresta Amazônica e a outros biomas, como as anunciadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão — ele preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. O que o governo precisa fazer é tomar medidas irrefutáveis para conter a destruição da Região Amazônica e de outros ecossistemas em perigo.
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