O TSE acabou de tornar público em seu site um conjunto de informações sobre candidatos que disputarão as próximas eleições municipais. Algumas delas chamam muita atenção por serem, em certa medida, uma radiografia da política nacional.
O primeiro aspecto é quanto ao número de candidaturas. Há 549.188 pedidos de registro, sendo 19.164 para o cargo de prefeito, 19.208 a vice-prefeito e 510.816 a vereador, representando acréscimo de quase 11% quando comparamos com as eleições de 2016.
A maior razão para o crescimento está na reforma eleitoral aprovada em 2015 pelo Congresso Nacional. Nela ficou estabelecido que, nas eleições para cargos legislativos municipais, estaduais e federais, a partir de 2020 os partidos estão proibidos de formar coligações, sendo obrigados a concorrer isoladamente. Daqui em diante, só é possível se coligarem nas eleições para cargos executivos.
Em relação à idade, há predominância da faixa etária de 35 a 59 anos, com 386.977 postulantes equivalendo a 70% do total. Já a juventude, entre 18 e 29 anos, participa com 46.123 nomes, apenas 8%. Muito pouco. No critério escolaridade, a maior fatia é de quem concluiu o ensino médio, seguido por quem tem o ensino superior completo, respectivamente 209.302 (38%) e 133.808 (24%).
Quanto à ocupação, temos uma distribuição mais equilibrada: agricultores (6,83%), servidores públicos municipais (6,43%), empresários (6%), comerciantes (5,52%) e donas de casa (3,91%). Agora, pasmem: 24.720 (4,5%) declaram ser vereadores. Ou seja, essas pessoas consideram que a atividade legislativa é profissão, não representação.
Outro dado interessante de observar é a proporção entre as legendas. Daquelas que contam com representantes na Câmara dos Deputados, as cinco primeiras em número de registros são MDB, PSD, PP, DEM e PSDB. Juntas, elas somam 187.455 candidaturas, 34% do total. Os restantes 66% estão vinculados aos outros 28 partidos.
Ainda nesse quesito, fazendo-se o recorte com base no posicionamento político nacional, temos 351.638 (64%) vinculadas a 16 partidos que apoiam o governo federal. Mesmo considerando que na ampla maioria dos municípios os temas locais prevalecem na disputa, trata-se de percentual bastante significativo. Principalmente quando se verifica que os partidos de oposição reúnem 123.457 (22%). É proporção de quase três para um na relação entre os dois grupos.
Olhando esses dados, é possível especular que há uma tendência dos resultados eleitorais de novembro indicarem provável fortalecimento do apoio ao governo federal com vistas à disputa de 2022. Claro que até lá muita água ainda vai rolar, mas não se pode minimizar o peso de vereadores e prefeitos eleitos no cenário daqui a dois anos.
Além disso, é importante ressaltar que as campanhas deste ano precisarão se adaptar ao quadro de crise sanitária. Em diversas cidades está decretada a proibição de aglomerações. Também vemos que boa parte das pessoas tem evitado o contato físico. Dessa forma, a realização de comícios e passeatas, muito comuns nesse período, fica comprometida.
Nesse sentido, ganha peso extraordinário o trabalho a ser realizado nas redes sociais. E aí temos situação muito delicada porque a maioria das pessoas que se candidatam ainda não dominam o conhecimento necessário para fazer campanha de modo eficaz nesse meio. Para tornar mais clara a reflexão, recorro a expressão icônica do filósofo canadense Marshall McLuhan: “O meio é a mensagem”.
Se antes as campanhas encontravam nas ruas e praças seu meio privilegiado, hoje o novo endereço da política são as redes sociais. Nesse território, a narrativa precisa ser comunicada de maneira objetiva, utilizando intensivamente recursos como vídeos e imagens que toquem a emoção das pessoas de modo a gerar interatividade como primeiro passo para o indispensável engajamento. Em contrapartida, é fundamental evitar a publicação de textos longos ou vídeos com mais de um minuto de duração. A comunicação nas redes é instantânea.
Por fim, o perfil do mais de meio milhão de candidaturas registradas reflete a diversidade de nossa sociedade. Portanto, em 15 de novembro cabe a cada um de nós exercer o direito de escolha com o foco em identificar quem pode melhor nos representar, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Não faltam opções.
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