Quem gosta de cinema vai me entender. Apresentar aos filhos um filme que você ama e eles curtirem não tem preço. Passei, recentemente, por essa experiência com a minha caçula ao apresentar a trilogia de De volta para o futuro, uma das minhas preferidas. Valeu até o sacrifício de assistir à versão dublada, tamanha a felicidade dela com as aventuras de Marty e Doc.
O sucesso foi tanto que ela quis logo emendar os três filmes e, no final, não se deu por contente: “Diz que tem um quarto, por favor”, foi a reação depois da maratona. Na aula on-line, ouvi quando ela perguntou à professora e aos amiguinhos se eles já tinham visto a obra de Steven Spielberg. O coração da mãe transbordou, claro.
Felicidade parecida eu tinha passado com o mais velho, quando ele assistiu a ET: o extraterrestre – e ainda tivemos o privilégio de ver em um telão, ao ar livre, no tempo em que aglomerar não representava perigo. O meu filho, então com uns 6 anos, nem conseguia ficar sentado, tamanho o envolvimento com a comovente trama da amizade de ET e Elliot – mais uma criação de Spielberg.
Mais que introduzi-los a clássicos da sétima arte, o meu prazer maior foi ter a oportunidade de estarmos juntos nesse momento de descoberta de um novo universo, cheio de magia. Claro que o cinema não é uma novidade para eles. Desde bebês, frequentávamos as salas que projetavam filmes infantis — nenhuma obra da Pixar passou batida por nós até hoje. Mas poder compartilhar algo que você via quando tinha a idade deles traz uma conexão ainda maior.
Estudos mostram que o contato com boas histórias ativa áreas do córtex motor, sensorial e frontal, regiões cerebrais fundamentais para assimilação de novas informações e para a construção de vínculos. Seguindo este raciocínio, a leitura, também, é peça fundamental nessa dinâmica.
Com o primogênito, acho que fiz um bom trabalho. Hoje, adolescente, ele compartilha comigo não apenas clássicos do cinema, como os lançamentos mais aguardados. Lembro-me de uma vez em que, quando ainda era filho único, fomos ao Píer 21, onde estava havendo um festival só com filmes infantis de vários países. Assistimos a cinco obras, uma atrás da outra. No final, já noite, e enjoado de tanta pipoca, ele mantinha o entusiasmo.
Com a caçula, pretendo trilhar o mesmo caminho. Depois de toda a fascinação por De volta para o futuro, tenho uma lista interminável de obras para apresentar a ela: De Indiana Jones a Forrest Gump, passando por Goonies e Harry Potter. Só não superei ainda o trauma da Caverna do dragão: quando mostrei o meu desenho favorito da infância ao meu filho, e ele, simplesmente, desdenhou, disse que era muito malfeito. Mas não dá para ganhar todas!