Sai ano, entra ano, a temporada de chuva pega as cidades despreparadas. Cenas dos estragos causados pelas águas se repetem com trágica monotonia. Ruas alagadas, pontes destruídas, moradores desalojados, famílias desabrigadas, dezenas ou centenas de cadáveres tornaram-se tão naturais que temos dificuldade de saber se são imagens de arquivo ou gravação ao vivo.
Deslizamentos de terra e destruição de moradias erguidas em áreas de risco se multiplicam à medida que as cidades incham e forçam a população vulnerável a se instalar na periferia distante. Sem fiscalização, sob o olhar cúmplice do Estado e da sociedade, residências precárias são erguidas sem preocupação com a segurança.
Governadores e prefeitos mostram-se surpreendidos com ventos, trovoadas e tempestades como se ainda vivessem na época dos pajés. Sem ciência para explicar os fenômenos, os sacerdotes indígenas atribuíam os fenômenos a seres sobrenaturais. Punham na conta de Tupã a responsabilidade pela violência das forças brutas da natureza.
As autoridades, ao desconhecer os avanços da ciência, reprisam o comportamento dos pajés. Lavam as mãos, atribuindo a tragédia à fatalidade, ao recorde dos índices de chuvas e às mudanças climáticas. Em adição, lembram gestões anteriores, que não fizeram as obras que deveriam ter sido feitas. Prometem estudos e ações para cobrir falhas pretéritas. Passada a comoção, nada ou pouco é feito.
É mais fácil transferir responsabilidades do que assumir que a tragédia é evitável. Existem políticas públicas capazes de antecipar-se aos dramas marcados por dor, sangue, lama e enchentes. O inferno não são os outros. São os governantes que, independentemente da experiência ou da cor política, pouco ou nada fazem para impedir as catástrofes.
Impõe-se prevenir. Além das medidas de curto e longo prazo, há as ações que devem ser tomadas agora, antes da chegada do dilúvio. São iniciativas simples, mas importantes, como recolher o lixo, limpar as bocas de lobo, tapar buracos, inspecionar pontes e viadutos, desobstruir o caminho das águas.
Urbes brasileiras nasceram sob o signo da improvisação. Subiram morros e encostas. Represaram rios. Passaram o trator sobre a vegetação. Resultado: asfalto e cimento roubaram o espaço de escoamento da água. Mesmo as cidades planejadas como, Belo Horizonte e Brasília, pagam o preço da imprevidência.
Em novembro, prefeitos serão eleitos ou reeleitos. É importante analisar o programa de governo e eleger os candidatos comprometidos com o verbo prevenir em vez de remediar. Vale lembrar: político não cai do céu para ocupar palácios, assembleias ou câmaras. É eleito. Voto tem consequência.
>> Sr. Redator
Crianças
Pela manhã, como faço na maioria dos dias, li a Crônica da Cidade. O jornalista Severino Francisco nos brinda com uma prece a São Cosme e São Damião (24/9), adaptada aos tempos atuais. No artigo, Severino roga aos santos protetores das crianças um elenco de bênçãos para que os pequeninos possam vivenciar plenamente uma infância, privados de toda sorte de infortúnios e violência, que elenca ao longo do texto. Porém, o grande Severino deixou de rogar aos gêmeos santificados que livre nossas crianças da cooptação dos fundamentalistas que se regozijam com a miséria e a morte e que podem induzi-las a serem cidadãs cegas ao sofrimento do mais despossuídos, submetendo-as a uma lavagem cerebral, a mesma que levou quase 60 milhões a darem vitória à extrema direita na disputa pelo comando no nosso país. Hoje, mais do que nunca, o Brasil precisa das energias e da luz de Cosme e Damião, para que crianças e jovens tenham futuro. Viva Cosme e Damião, que são festejados sempre em 27 de setembro.
» Assis Bhenz Mesquita,
Lago Sul
Parabéns, Gal!
Mais um espetáculo virtual muito aguardado pelo público está por vir. A cantora baiana Gal Costa vai celebrar o seu aniversário de 75 anos com um live show mais do que especial, que promete muita música boa e emoção. A apresentação acontece neste sábado (26/9), às 22h, com transmissão pela tevê e pelo canal da TNT no YouTube. É dela ainda a voz mais bonita e ousada da música brasileira. A voz da Gal é como se fosse um violino celestial.
» José Ribamar Pinheiro Filho,
Asa Norte
Brasília e qualidade de vida
Faz tempo que Brasília recebeu do programa das Nações Unidas (PNUD) o título de Capital da Qualidade de Vida. Foi considerada uma das cidades brasileiras com o maior índice de desenvolvimento humano. Muitas primaveras passaram. Hoje, existem vários problemas e desafios a enfrentar — crescimento desordenado, serviços públicos deficientes, criminalidade elevada e significativos segmentos da população vivendo em condições de grande carência. Tal situação pode ser abordada com trabalho e criatividade. O artigo Brasília e qualidade de vida publicado neste jornal apresenta de forma objetiva propostas que podem ser implementadas para possibilitar que a Capital Federal retome condições para usufruir de um adequado processo de desenvolvimento econômico e social.
» Norma Caballero,
Lago Sul
» Querida Elizabet Campos, li seu artigo Brasília e a qualidade de vida. Parabéns! Realmente a nossa querida e bela Brasília, é exemplo de ótima qualidade de vida. O que nos falta é integrar as cidades do Entorno aos bens sociais que, hoje, a nossa capital já usufrui, como muito bem você enfatizou. Empenho na manutenção da qualidade adquirida e o acréscimo de melhorias são essenciais para a retenção ao direito deste título.
» Wanzenir Edler,
Brasília
» Amiga querida! Parabéns pelo seu artigo! Retratou a realidade desta cidade linda, bem estruturada e que hoje deveria ser mais bem cuidada! Quando cheguei aqui, há 35 anos, vindo de uma metrópolis, Rio de Janeiro achei que não iria me adaptar nunca, pois era ainda muito barrenta, cheia de muitos prédios nas Asas sendo construídos. Hoje, acho que não justifica a falta de urbanismo que estamos vendo em suas quadras! Sou Brasília com amor e aqui construí minha vida familiar afetiva e profissional! Parabéns mais uma vez! Amo esta nossa cidade.
» Deise Avis,
Brasília
Correios
Ainda aproveitando o ensejo das missivas sobre a incompetência dos Correios, é interessante notar a abissal diferença entre as empresas privadas de entrega e os Correios. Utilizo-me bastante das vendas pela internet e sempre torço o nariz quando o site encaminha o produto pelos Correios, a ponto de evitar comprar novamente naquela loja on-line. Pedi um produto em um determinado site e enviaram pelos Correios no dia 9/9. Até agora não chegou e a previsão é até dia 29/9. Por sua vez, comprei um produto noutro site e enviaram por uma empresa privada no dia 22/9 e chegou três dias depois (25/9). Os Correios conseguem a façanha de, mesmo com monopólio postal, ter prejuízo, ser campeão de reclamações no Reclame Aqui e ainda arrumar dinheiro, sabe-se lá de onde. Dizem que só os Correios entregam nos rincões do país, mas até isso é discutível, pois mercado sempre acaba se autoajustando.E aí eu pergunto: a quem interessa manter os Correios como empresa pública e detentora do monopólio de cartas? A ECT é estratégica, sim, mas para o bolso dos políticos.
» Ricardo Santoro,
Lago Sul
Paulo Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes, levou um pito em público do presidente Bolsonaro. Depois ganhou um chega pra lá do deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Mais recente foi um puxão de orelha do ministro Braga em plena audiência. Ministro Guedes, vá para casa que é melhor para todos. Tem um ditado” sempre tem um bobo da corte”.
» Saulo Siqueira,
Asa Norte
Desabafo
>> Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Discurso na ONU: o mundo pôde constatar a cadeia de mentiras produzidas pelo nosso “Ogro” negócio.
Vital Ramos de Vasconcelos Júnior — Jardim Botânico
Existem 493 municípios no Brasil com mais eleitores do que habitantes. Surreal.
José Matias-Pereira — Park Way
Enquanto os verdadeiros médicos fazem o juramento de Hipócrates, os peritos do INSS, fazem o de hipócritas.
José Airton de Brito — Asa Norte
Pelas declarações do ministro da Educação sobre homossexualidade, notei que diferença entre ele e Weintraub é só a careca.
Humberto Vieira — Asa Norte
Campos da maioria minorizada: territórios negros
Caio Gomez/CB/D.A Press
Noutro dia me perguntaram por que escrevo e insisto em escrever sobre a comunidade negra brasileira. Acreditem, o “insistir” existiu. O questionamento demostra a forma de olhar o trabalho intelectual do sujeito negro. Essa articulação denota a subjetiva percepção de que são registros “desnecessários”.
Respondi que insisto em retratar e compreender a inserção social da comunidade negra em meus escritos, da mesma forma que historicamente os não negros insistiram em registrar a nossa existência subalternizada, reforçar o nosso não lugar na construção nacional deste maravilhoso país e nos articular como objetos de laboratórios sociais.
Não é assim que se articula a formação das ciências sociais no Brasil? Questionei. Arrematei que falar do negro é visibilizar a nossa formação nacional em sua plenitude, pois nós somos a maioria minorizada.
É com essa perspectiva de registro sócio-histórico que escrevi Maioria minorizada — um dispositivo analítico de racialidade, minha mais recente obra em que “insisto” em seguir analisando a formação nacional e a brasilidade das formas de inclusões, subalternizações, cidadanias mutiladas e narrativas que denotam o não ser, um não lugar.
O livro tem a finalidade de introduzir ao público o dispositivo analítico de racialidade que denominei maioria minorizada. Um construto que delineei como signo de representação unificador do discurso e proposta de emancipação negra.
Compreendo como maioria minorizada o grupo social majoritariamente formado por pretos e pardos (negros) conforme categorização do IBGE que, embora conformem a maioria demográfica brasileira, constitui -se minoria em termos de acesso a direitos, serviços públicos, representação política.
Pessoas negras que, racializadas como seres inferiores, sofrem apagamento identitário, são desidentificadas, tornando-se, portanto, minorias no acesso à cidadania, e maiorias em todo o processo de espoliação econômica, social e cultural. Por fim, as maiores vítimas de todas as formas de violência.
No contexto literário e comunicacional, Maioria minorizada é uma obra aberta, a completar-se, representa o desejo de incidir positiva e propositivamente sobre a imagem da comunidade negra. O desejo da emergência de uma imagem discursiva e reconfigurada que desorganize subjetivamente e desconstrua efetivamente o imaginário racista de terror sobre os sujeitos negros no mundo branco. Que ponha abaixo as identidades pré-fabricadas sobre o mundo negro e reproduzidas por muitos sem crítica ou percepção da reafirmação de dominância racial a que estão inseridas.
A obra conta com a orelha escrita por Leci Brandão, prefácio de Maria do Carmo Rebouças dos Santos e pode ser vista como uma proposta teórica que vai na contramão do individualismo crescente nesta era neoliberal. O construto permite a relação com uma série de signos culturais existentes, mas de maneira que se configure um elemento novo.
Assim, o dispositivo analítico é um sintagma que possibilita a constituição de toda a significação paradigmática que dá valor ao cunho como maioria minorizada. Expresso a constituição de uma imagem sobre o dispositivo, pois este é fruto das interações sociais, da elaboração psíquica como um todo, dos resíduos memoriais da vivência, pesquisa social e consumo audiovisual. O dispositivo é resultado da relação recíproca entre consciente e inconsciente, acionados nas experimentações vividas.
Ressalto que, além de um lançamento por si, o livro inaugura a coleção Pensamento Negro Contemporâneo, que tem o objetivo de dar visibilidade aos saberes e produções teóricas de pensadores negros na academia e fora dela. É um convite a uma artesania de valorização da pluralidade e da geopolítica de saberes descentrados, produzidos por intelectuais e negros da diáspora e africanos, em conexão com os saberes da maioria minorizada de todo o Sul global.
Minha obra e trajetória são um compromisso intelectual de permanente justiça epistêmica articulado a um esforço de interpretação da realidade histórica e a produção intelectual daí advinda. Pesquiso, escrevo e estudo para romper, de uma vez por todas, com o complexo colonial, com o racismo e o epistemicídio.
"No palm oil"
Em países avançados, vem crescendo rapidamente a sensibilidade ecológica, impulsionada por inúmeros movimentos verdes. A cada ano, com visibilidade crescente, eles mostram que vieram para ficar. Há evidente relação entre o grau de civilização de um país e a força das correntes ecológicas. Elas estão mais enraizadas em nações onde o sentimento de pertencimento é mais forte. Quanto mais elevado for o Produto Interno Bruto (PIB), mais forte vibrará a corda ecológica.
Nesses países, político ajuizado não ousa desafiar, como faz nosso despreocupado presidente, a sensibilidade verde do eleitorado. Seria suicídio certeiro. Há que convir que a atitude de nosso dirigente-mor combina com o desinteresse de grande parte dos brasileiros, que se comportam como se a vida se resumisse ao hoje e não devesse haver amanhã.
“Après nous, le déluge” — depois de nós, (que venha) o dilúvio é máxima egoísta (mas profética) atribuída a um membro da corte do rei Luís XV e posta em prática no Brasil de hoje. A Revolução Francesa, que sobreviria anos mais tarde, despejou, de fato, um dilúvio. Não de água, mas de sangue.
Não acredito que a incúria do Planalto se deva somente à ignorância. Debaixo desse angu, tem carne — há militância por trás disso. O descaso ostensivo que o governo dedica ao tema faz desconfiar que, nos bastidores, lobbies poderosos estejam atuando. Tamanho é o desdém do Planalto pelo patrimônio de todos nós que fica a impressão de que há, no final, perspectiva de suculentos ganhos pessoais. Não é nenhum despropósito pensar assim.
Fôssemos um povo consciente de estarmos todos embarcados no mesmo planeta, nosso presidente seria, desde já, carta fora do baralho em matéria de reeleição. Na Europa — tanto nos zelosos países do norte quanto no resto do continente — candidato hostil à preservação do meio ambiente não seria eleito, nem muito menos reeleito. Que sejam de direita, de esquerda ou de outro quadrante, eleitores se assustariam com a ideia de eleger um patrocinador de desastres.
Desde o dia em que teve a ideia funesta de compartilhar um tuíte desairoso zombando da primeira-dama francesa, Jair Bolsonaro atraiu para si a indignação da mídia e das gentes de Oropa, França e Bahia. Antes disso, não passava de líder folclórico, daqueles que costumam brotar na América Latina. Perpetrada a ousadia, mudou de patamar: suas palavras e atos passaram a ser analisados com a suspeição que, em princípio, se reserva para líderes que vicejam nos arrabaldes da civilização.
Países ricos, justamente os bons clientes de produtos brasileiros, contam com universo de consumidores esclarecidos. Ao fim e ao cabo, são eles que estão na ponta das exportações brasileiras. Mesmo quando despachamos matéria-prima para consumo animal, o boi europeu alimentado com nossa soja ou nosso milho termina no prato deles. São esses consumidores os aliados preciosos que o Brasil está gratuitamente mandando às favas. Consumidores ressabiados — e conscientes da própria força — são um perigo.
Se não, vejamos. A Indonésia é o grande produtor mundial de azeite de dendê, óleo apreciado por conferir textura especial a produtos da doçaria industrial. No entanto, dado que se alastrou a informação de que a floresta equatorial indonésia está sendo abatida para dar lugar a dendezais, tornou-se de bom-tom recusar todo artigo que contenha esse azeite. Para não perder clientes, número cada dia maior de marcas importantes imprimem na embalagem, bem visível para o consumidor europeu, o logo: “No palm oil” — “sem azeite de dendê.”
Por mais que Bolsonaro proteste inocência, seu nome estará irremediavelmente ligado ao desmatamento. O presidente passará, como passam todos. Mas, permanecerá o sentimento de o Brasil estar aniquilando seu patrimônio florestal e agravando a desertificação do planeta. Nosso país continuará, por décadas, a pagar a conta desse pecado original. Nesse baile, dançaremos todos.
Não está longe o dia em que, nos supermercados europeus, todo produto passível de ter-se beneficiado da pilhagem criminosa da natureza brasileira deixará de ser posto à venda. Para tranquilizar o público, uma etiqueta será colada na embalagem: “Brazilian Forest Preserved” — “Floresta brasileira Preservada”. Isso valerá para suco de laranja, proteína animal ou ainda todo artigo que possa ter recebido insumos brasileiros. Virá em todas as línguas, para que fique bem claro. Estará assim estampilhada, numa logomarca padrão, a profundeza de nosso atraso.
Perigo sempre às voltas
Transformadas em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo o tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros pra lá de suspeitos. Esperar que algum dia uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Legislativa desvende este cipoal de irregularidades é esperança vã.
Ao lado das consequências do aquecimento global, o que tem provocado, em grande parte, a situação de escassez de água em Brasília, é a ocupação irregular das terras públicas, principalmente naqueles sítios que os ambientalistas denominam de áreas de recarga. Nas últimas décadas, sob a vista grossa dos principais órgãos de fiscalização, a capital sofreu um poderoso processo de inchaço populacional, com pessoas afluindo de todos os cantos do país, atraídas pelas promessas de doação de lote e casa, em troca de apoio político.
Que relação causa/consequência poderia existir entre o inédito racionamento de água na grande Brasília, que levou a uma séria crise hídrica sem precedente e o tipo de política partidária praticada na capital nas últimas décadas? O que pode, num primeiro momento, parecer situações díspares, é uma verdade íntima e poderosa.
Do dia para a noite, centenas de novos bairros foram sendo erguidos às pressas e sem planejamento algum. O que resultou dessa irresponsabilidade e ambição de algumas lideranças políticas locais, os brasilienses vão, agora, experimentando na pele. Não é só o esgotamento hídrico, alertado lá trás pelos ambientalistas, mas o colapso de toda a infraestrutura da cidade.
Políticos, na sua maioria, têm dificuldade para entender o que é e para que serve o planejamento urbano. O horizonte desses personagens esporádicos se estende, no máximo, até as próximas eleições. O congestionamento em hospitais, escolas e outros serviços públicos é o mesmo que vem se repetindo diariamente nas estradas e o mesmo que vem se agravando no abastecimento de água e no fornecimento de luz.
O padecimento atual da população resulta da ação inconsequente de hoje e de ontem das principais lideranças locais e ameaça não só com a falta de água, mas com a inviabilização da capital, infelizmente transformada em valhacouto de oportunistas e aventureiros de toda ordem.
Foi somente a partir da mudança da capital para o interior do Brasil, nos anos 1960, que o imenso bioma de campo cerrado, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, passou a ser explorado e pesquisado com mais atenção. Especialistas sabem, hoje, que o ecossistema, com idade média de 45 milhões de anos, reúne e concentra a maior biodiversidade de todo o planeta. Recentemente, com o aprofundamento das pesquisas, ficou patente, para os estudiosos do assunto que a preservação dessa área é de vital importância para o presente e o futuro do Brasil, principalmente por conta da questão hídrica.
Hoje, sabe-se que o cerrado é, por suas características ímpares, o berço das águas, concentrando nascentes que vão alimentar oito das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras. É nesta área que estão concentrados os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí que alimentam alguns dos grandes rios do país. Com a expansão das fronteiras agrícolas, o cerrado ganhou um protagonismo econômico inédito que, num primeiro momento, pareceu e ainda parece, para alguns, ser a redenção para toda a região.
A introdução de monoculturas, na maioria transgênicas, plantadas em vastíssimos latifúndios nas planícies, totalmente mecanizados, se, por um lado, vem fazendo a riqueza e a prosperidade de uma minoria de grandes produtores; de outro, vem arruinando irreversivelmente todo o ecossistema, comprometendo, de forma até criminosa a produção natural de águas.
Em tempos de aquecimento global generalizado, a cada ano que passa a situação de crise hídrica nas cidades localizadas na região do cerrado se agrava um pouco mais. O desaparecimento de pequenos e médios cursos de água já se tornou fato comum. A vegetação sofre com as queimadas criminosas e com a derrubada, feitas pelos agricultores. Com a degradação da flora, somem os animais da região e tem início o lento e irreversível processo de desertificação, em curso, segundo os especialistas. Na esteira dessa devastação, acentuada nos últimos anos, pela invasão de terras e áreas de proteção, não é de se estranhar que o GDF, à semelhança de outros estados da federação, tenha decretado, agora, o estado de “atenção”, ameaçando pôr em prática um rigoroso racionamento de água.
A rigor, a suspensão no fornecimento ou na distribuição de água escura para algumas regiões da capital vem acontecendo há algum tempo e tem se agravado nas últimas semanas. Na ocupação irregular de terras em troca de votos, começa a chegar o preço para a população e os valores serão altíssimos, inclusive com a ameaça de inviabilizar a própria capital dos brasileiros.
A frase que foi pronunciada
“O dinheiro é como esterco: só é bom se for espalhado.”
Francis Bacon, político, filósofo, cientista, ensaísta inglês.
Vergonha
» Aconteceu em frente a Sweet Cake. Uma pequena reclamação depois que o motorista ao lado havia aberto a porta com força e batido no carro, com um pequeno amassado. Finda a conversa, o dono do carro prejudicado entrou na loja. Ao sair, encontrou o carro todo arranhado. O serviço de segurança do local prestou todo apoio necessário e o homem foi localizado. Um diplomata que trabalha no Escritório Comercial de Taiwan. Um vexame.
História de Brasília
O juiz federal F. Murphy, segundo o mesmo telegrama ordenou a Pan-American que se livrasse de 50 por cento dos interesses que tem na Panagra, por meio da qual realizava as atividades declaradas ilegais. (Publicado em 17/1/1962)
Sobre técnicos negacionistas
O negacionismo chegou às pranchetas e aos discursos dos técnicos de futebol. A fuga dos “professores” brasileiros da realidade é explícita e inaceitável. De 2019 a 2020, os treinadores estrangeiros lideraram 35 das 49 rodadas recentes do Brasileirão. Os times comandados por gringos ocuparam o topo nas últimas 27 do ano passado e em 8 das 11 desta edição da Série A.
O português Jorge Jesus liderou 23 vezes. O argentino Jorge Sampaoli, seis. O compatriota dele, Eduardo Coudet, outras seis. Hoje, o Atlético-MG, de Sampaoli, é o primeiro. O Inter, de Coudet, segundo. Gringos à parte, Luiz Felipe Scolari, Dorival Júnior, Rodrigo Santana, Enderson Moreira, Cuca e Ramon Menezes são os brasileiros que degustaram o topo nas outras 14 das 49 rodadas.
A estatística é assustadora, mas alguns badalados técnicos brasileiros estão pouco se lixando. Insistem em relativizar ou menosprezar o sucesso dos colegas importados. Brilhante é o trabalho deles. Não admitem sequer a péssima qualidade do futebol apresentado pelos seus times.
Discursos negacionistas são atentados à própria biografia. Fui fã do Palmeiras (1993, 1994 e 1996), Corinthians (1998), Cruzeiro (2003) e do Santos (2004) de Vanderlei Luxemburgo. O técnico recordista de títulos brasileiros (5) disse, domingo passado, que o Palmeiras não tinha necessidade de fazer o segundo gol contra o Grêmio. Amargou o empate tricolor.
E pensar que o velho Palmeiras, de Luxemburgo, fez 102 gols em 30 jogos no Paulistão de 1996. O Cruzeiro campeão brasileiro, em 2003, também balançou a rede 102 vezes. O estilo ofensivo levou o técnico à Seleção. Em 1999, derrotou o Uruguai por 3 x 0 na final da Copa América. Hoje, o Palmeiras tem 17 jogos de invencibilidade — nove vitórias e oito empates — mas não arranca suspiros.
Renato Gaúcho é outro negacionista. Para o maior ídolo do Grêmio, o time dele jamais joga mal. Portaluppi vive preso ao passado. “No Grêmio, a crise é de excesso de títulos”. Lembra aquele discurso de que somos o único país pentacampeão para negar as mazelas do futebol brasileiro.
Alguns negacionistas tentam reinventar a roda. Fernando Diniz teve a cara de pau de dizer, na última terça-feira, que o São Paulo venceu o segundo tempo do jogo contra a LDU por 2 x 1. Porém, o time equatoriano ganhou o jogo por 4 x 2. Futebol ainda dura 90 minutos.
Cuca vai na contramão dos colegas, tenta viver o mundo real. No desemprego, estudou o sucesso dos Jorges. “O futebol cresceu com a chegada deles. Sampaoli é mais tático. Não dá para amarrar o time dele. Jesus tem uma filosofia. Conseguiu fazer com que os jogadores tenham ambição de buscar a bola o tempo todo no ataque”, avaliou. Por mais “Cucas” e menos “Luxemburgos”, “Renatos” e “Dinizes” na combalida escola brasileira de técnicos negacionistas.
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