“Vencer na vida é manter-se de pé quando tudo parece estar abalado. É lutar quando tudo parece adverso.” Dorina de Gouvêa Nowill — dama da inclusão no Brasil — não poderia definir melhor a vida dos milhões de brasileiros que vivem com alguma deficiência. Diariamente, é necessário reivindicar espaços, direitos e seguir firme rumo à inclusão cada vez mais ampla.
Hoje, 21 de setembro, é conhecido como Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência. A data, além de reforçar a importância da discussão de propostas e políticas públicas que visam a inclusão social destas pessoas de forma igualitária, celebra as conquistas obtidas com muita luta.
Nos últimos anos, o Brasil observou aumento substancial de pessoas com deficiência que tiveram acesso à educação, contribuindo para sua autonomia. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), nas escolas, o número aumentou em 381% entre 2003 e 2014.
No esporte — ótimo método inclusivo —, as Paralimpíadas vêm contribuindo para maiores investimentos em projetos esportivos voltados para atletas com deficiência. Já na área do direito, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006 pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi grande passo na luta por igualdade em todo o mundo. A mais importante das conquistas, no entanto, talvez seja a Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI). Instituída pela Lei no 13.146, de 6 de julho de 2015, além de garantir direitos, o Estatuto assegura o acesso à saúde e à educação, além de estabelecer punições para atitudes discriminatórias dirigidas a esse público.
A LBI inova quando estabelece que a deficiência não é problema do indivíduo, mas da sociedade. Ou seja, a condição não é mais tratada como individual, mas resulta da interação do homem com o meio ambiente no qual ele vive e trabalha. Se o meio impõe barreiras à deficiência, ela pode ser considerada mais acentuada.
Explico: um jovem em cadeira de rodas residente em região que não é servida por meios de transporte acessíveis terá dificuldade para chegar à escola, ao trabalho, ao posto de saúde. Há uma barreira imposta no transporte coletivo de responsabilidade do serviço público e não da pessoa propriamente.
Já no que se refere ao trabalho, a lei reforça que a inclusão da pessoa com deficiência pode ser realizada no modo colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, é necessário fornecer recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho.
Mas, apesar de o Brasil possuir uma das melhores e mais modernas leis para a inclusão, há muitas barreiras que precisam ser quebradas. A falta de acessibilidade — que impede a locomoção e a comunicação — e o preconceito ainda são as maiores delas.
Não bastam, apenas, as rampas para cadeiras de rodas. Quando falo em acessibilidade, refiro-me à possibilidade de uma vida independente e com plena garantia dos direitos. O direito ao mercado de trabalho, aos recursos de acessibilidade nos cinemas, como legendagem descritiva, audiodescrição e Língua Brasileira de Sinais (Libras), o direito de permanência do cão-guia em qualquer espaço físico.
Apesar de a LBI estar em vigor, sua aplicação na prática está ocorrendo de forma morosa porque é pouco conhecida, tanto por parte das pessoas com deficiência quanto por outros atores sociais. Para reverter esse quadro, se faz necessário ampla divulgação em diferentes canais de comunicação e recursos para torná-la popular. Com informação, cada um poderá tomar uma atitude, e a sociedade se tornará inclusiva de fato.
De qualquer modo, neste 21 de setembro, é importante lembrar as vitórias ao longo da história. Elas são motivação para continuar trabalhando por um futuro em que nós, pessoas com deficiência, sejamos vistos de forma igualitária e tenhamos nossos direitos assegurados. A luta não pode parar.
*Advocacy da Fundação Dorina Nowill para Cegos