Opinião

Opinião: Um Setembro Amarelo de esperança

O Brasil é o país com o maior número de deprimidos da América Latina e de ansiosos do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)

A chegada da primavera é, para mim, prenúncio de boas notícias. O colorido das flores traz um sentimento de esperança que, especialmente este ano, precisamos manter vivo — até por uma questão de sobrevivência. Dá até a impressão de que, talvez por isso, o mês escolhido para falar sobre saúde mental tenha sido setembro; e a cor símbolo da campanha, o amarelo. Apesar de não ser este o motivo da escolha dessa cor e desse mês para simbolizar os esforços de prevenção ao suicídio, o fato mesmo é que o Brasil é o país com o maior número de deprimidos da América Latina e de ansiosos do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa situação se agravou ainda mais durante a pandemia. Dados da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontam que os casos de depressão no Brasil dobraram e os de ansiedade e estresse aumentaram em 80% desde o início das contaminações pelo novo coronavírus.

O mais grave disso tudo é que, segundo especialistas, os transtornos mentais permanecerão mesmo após a chegada da vacina e o fim da pandemia, como um dos danos colaterais causados pela própria covid-19. E o pior: a depressão, um dos fatores determinantes para o aumento dos casos de suicídio, ainda é vista por muitos com preconceito.

Isso foi comprovado por pesquisa realizada, em 2019, pela farmacêutica Pfizer. Dos 2 mil entrevistados, 72% entendem a depressão como mito ou não reconhecem que ela é mais comum em quem tem histórico deste problema na família. Além disso, quase metade dos entrevistados (47%) acredita que, para vencê-la, basta ter uma atitude positiva perante a vida.

Quem dera fosse assim. Depressão e ansiedade são doenças que, assim como qualquer outra patologia, precisam de tratamento — muitas vezes, medicamentoso. Mas, até entendo quem pense dessa maneira. Eu mesma, que sempre tive familiaridade com a cobertura jornalística do setor de saúde, não tinha noção de quão devastadora uma crise depressiva pode ser. Até sentir na própria pele.

Em março, fui diagnosticada com câncer de mama e tive que lidar com o diagnóstico — um tanto quanto desesperador — e o tratamento — que envolveu cirurgia e radioterapia — em meio a uma pandemia sem precedentes. Quando o pior passou e eu só tinha a agradecer, veio um sentimento que nunca tinha experimentado antes: uma tristeza e uma falta de energia que me deixaram prostrada.

Tive a sorte de, com o apoio do meu marido, procurar ajuda especializada e começar o tratamento logo no início, antes que aqueles sentimentos se instalassem de vez. Sei que sou uma privilegiada por ter apoio familiar e acesso a bons médicos. Imagina quem precisa enfrentar tudo isso sem essa retaguarda?
Que o Setembro Amarelo não seja apenas mais uma campanha esquecida quando outubro chegar. Que a esperança — e, sobretudo, a empatia — perdure por todas as estações.