Pouco mais de um ano separa duas entrevistas de Sergio Moro publicadas aqui no Correio. Em 7 de julho de 2019, o então ministro da Justiça estava às voltas com o vazamento de mensagens da Lava-Jato, que o colocaram numa posição delicada e deixaram clara a intenção de desmoralizar os principais atores da força-tarefa que, de certa forma, mudou o Brasil. Hoje, sem cargo político, com o mesmo cuidado em medir palavras, Moro falou ao Correio e voltou a defender seu maior patrimônio: a Operação Lava-Jato.
Em 2019, visto como herói nacional, o então ministro respondeu a uma pergunta sobre o futuro, caso saísse do governo e da política e não se tornasse ministro do Supremo Tribunal Federal, desta forma: “Faria que nem o Luke Skywalker. Sumiria por 20 anos e voltaria no episódio 8”, disse, com uma analogia ao personagem de Star Wars.
Moro não sumiu — tampouco pretende sumir. Quebrou as redes sociais, continua com alta popularidade e intenções de voto que o colocam em condições de concorrer à Presidência da República. Saiu do governo, levando o presidente Bolsonaro a responder por possíveis interferências na Polícia Federal e tornando público, também, o vexame da reunião ministerial que reverberou as falas mais absurdas do staff bolsonarista em uma sessão histórica.
O que aproxima o Moro juiz, o ministro, o professor? A defesa de sua causa. Gostem ou não da Lava-Jato, critiquem ou não seus métodos, o fato é que a força-tarefa jogou luz sobre esquemas sombrios de corrupção. Principal rosto da operação, Moro ainda pode colher dividendos políticos dela, embora por enquanto fale apenas de seu futuro profissional como professor. Sobre uma futura candidatura à presidência, ele diz que é mera especulação.
Enxerga agora, tanto quanto enxergava em 2019, tentativas contumazes de desqualificar as autoridades públicas e o trabalho de investigação da Lava-Jato – tal qual aconteceu com a Operação Mãos Limpas, na Itália. E deixa claro o abandono de Bolsonaro ao discurso político que o elegeu: a bandeira anticorrupção. “Ele deveria honrar as promessas de campanha, seria o correto a ser feito... É fundamental, por exemplo, retomar o projeto da execução após condenação em segunda instância. Não tenho visto o governo apoiar ou trabalhar por essas medidas”, alfineta Moro em entrevista a Ana Maria Campos, Carlos Alexandre de Souza e esta jornalista que já tem usucapião deste espaço aos domingos. O ex-ministro revela coisas que ainda não havia falado. Vale a pena ler.