Rio de Janeiro capturado por um estado paralelo
Algum fenômeno bastante atípico, que as autoridades ainda não se deram ao trabalho de investigar a fundo, vem ocorrendo há anos no processo eleitoral da antiga capital federal do país. Estranha, uma sequência contínua de pretensas lideranças políticas têm sido, pelo escrutínio eleitoral, alçadas ao poder. A grande maioria delas, cedo ou tarde, acaba acusada e mesmo diretamente envolvida em graves crimes de corrupção e outros delitos ainda mais graves.
Quem assiste a essas cenas de longe chega a imaginar que a antiga cidade maravilhosa chegou às raias da ingovernabilidade, tantos são os casos de crimes que acontecem não apenas no Executivo local e que permeiam também o Legislativo e, não raro, respinga na Justiça fluminense.
De fato, o Rio de Janeiro vive o que seria no mundo místico, seu pior inferno astral. A sequência de governadores, de vice-governadores, de prefeitos, de deputados estaduais, de juízes e outras altas autoridades que foram processadas ou condenadas e presas é extensa e expõe uma realidade que, em outras sociedades mais democraticamente evoluídas e onde a justiça pudesse dar a palavra final, seria o caso de uma intervenção federal em todos os níveis da administração local.
Há muito se sabe da guerra aberta que vêm travando entre os traficantes e os milicianos pelo domínio de amplas áreas territoriais, ora com o predomínio de um, ora com a vantagem de outro. A população refém dessa verdadeira guerra civil que se instalou na cidade do Rio de Janeiro só tem como alternativa, nesse fogo cruzado, com armamento de guerra, se atirar ao chão para fugir de uma bala perdida.
A Polícia local, parte dela amedrontada ou mesmo abduzida pelas forças do mal, faz o que pode. As mortes de policiais viraram rotina e não sensibilizam nem ao menos quem deveria, por ofício, fazer algum esforço para deter esse estado de calamidade pública. Somadas, as penas impostas a esses malfeitores do colarinho branco, presos ou ainda em liberdade, tanto no Palácio das Laranjeiras, quanto no legislativo local, incluindo aí o próprio Tribunal de Contas do Estado, a conta chega a milhares de anos de reclusão.
Trata-se de um escândalo sem precedentes que, mais do que assustar todo o país, nos faz pensar que este estado de coisas fora do comum pode também, com toda a naturalidade, vir a ser frequente em outras partes do Brasil. Para isso, basta que não se observe o Rio de Janeiro como um laboratório onde o processo eleitoral, bem como a escolha de outros dirigentes para os poderes locais, seja tomado como exemplo a se evitar, sob pena de virmos adentrar num processo sem volta.
Alguns especialistas, ante esse fenômeno perturbador que assola o Rio de Janeiro, falam na influência do dinheiro e no poderio de forças do crime agindo livremente dentro do processo eleitoral local, financiando seus candidatos favoritos e ameaçando outros contrários a esse estado de coisa. De fato, o Rio de Janeiro tornou-se o laboratório vivo de como o processo político pode, por inoperância dos poderes, ser capturado por forças marginais que vão, aos poucos, instalando um estado paralelo, longe de tudo que lembre justiça e ordem.
A frase que foi pronunciada
“Um homem que nunca foi à escola
pode roubar um vagão de carga;
mas, se ele tem educação universitária, pode roubar toda a ferrovia.”
Theodore Roosevelt, 26º Presidente dos Estados Unidos, de 1901 a 1909
Absurdo total
» Impressiona a falta de protestos da sociedade diante das duas desculpas mais esfarrapadas tiradas da cartola para justificar a falta da biometria nas eleições: o leitor de impressões digitais não pode ser higienizado com frequência. Por que não? Álcool gel serve para limpar as mãos dos eleitores. Com as mãos limpas, uma flanelinha é suficiente para limpar o leitor. E a segunda desculpa é que a identificação biométrica tende a causar filas, favorecendo aglomerações, uma vez que o processo é mais demorado do que a coleta de assinatura. Mais vale uma fila de três horas do que quatro anos suportando a dúvida da vitória do candidato. Depois de o eleitor bancar R$ 2 bilhões para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, essa notícia foi demais.
Férias
» Reginaldo Marinho nos envia o texto que publicou sobre a cidade de Lençóis, na Bahia, que vai receber turistas com controle dos visitantes. Leia no Blog do Ari Cunha. Outro texto, também disponível no Blog, é assinado pelo professor e jornalista Aylê-Salassié F. Quintão e toca na autoestima do brasileiro, que, sem calendários festivos, perde a conexão com a própria cultura.
Por que não?
» Seria interessante se o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo federal começasse a trabalhar alguma forma de comunicação estruturada sobre os empenhos previstos na lei orçamentária para manter uma interface também com os contribuintes. Assim, a população acompanharia o prazo de execução e aplicação das emendas impositivas na sua cidade. Seria a volta dos “fiscais do presidente.”
História de Brasília
Prossegue a onda de terror, atingindo, agora, o Nordeste. Vários milhares de toneladas de cana de açúcar foram destruídas num bombardeio realizado por um avião não identificado em Pernambuco.
Publicado em 16/1/1962)