Sou um brasileiro autêntico. Seguindo a ramificação da minha árvore genealógica, sou descendente de português, pelo lado materno; de negro e índio, pelo paterno. Da minha constituição genética prevalecem características próprias da raça indígena. Quando vim morar em Brasília, na década de 1960, passei a ser identificado, de imediato, como alguém originário da raça indígena. Meus companheiros de futebol, tanto no Elefante Branco (colégio onde cursei o segundo grau), quanto no Unidade de Vizinhança, da 108/109 Sul, me chamavam de Índio. Aceitava aquilo com naturalidade, mesmo sem ter, na época, a devida consciência da representatividade do nome.
Mais tarde, já trabalhando como repórter do Correio Braziliense, havia um colega que, quando eu pegava no pé dele, por alguma razão, fingindo zangado, mas em tom de brincadeira, retrucava: “Volta pra taba, Pataxó maldito”. Obviamente não o levava a sério, pois era apenas um momento de descontração no ambiente, por vezes estressante de uma redação. Aqui, ali, reencontro com ele em algum evento e a brincadeira sempre se repete.
Estou sempre atento a tudo o que ocorre em relação aos representantes da nossa ancestralidade. Fico indignado com a forma como as autoridades do país têm tratado a questão dos povos indígenas, inclusive — e principalmente — agora, no período da pandemia.
Divulguei no blog Trilha Sonora — hospedado aqui no Correio — e aplaudi de longe as lives que personalidades das artes, em especial, da música, apresentaram em prol da causa indígena. Em 21 de junho, foi a vez de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Carlinhos Brown, Sting, Mano Chao, a modelo Gisele Bündchen e o fotógrafo Sebastião Salgado, entre outros. Em 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, a solidariedade partiu de Chico Buarque, Maria Bethânia, novamente Caetano Veloso, Milton Nascimento, Zeca Pagodinho, Evandro Mesquita, Philip Glass e da atriz Camila Pitanga, com Maracá — Emergência Indígena. Houve a participação do Cacique Raoni, de Sonia Guajajara, de Shirlei Krenac e de outras lideranças indígenas.
No fim da semana passada, com tristeza, revi Martírio, filme de Vincent Carelli, exibido na mostra competitiva da 49ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O documentário analisa a violência sofrida pelo grupo Guarani Kaiowá, uma das maiores populações indígenas do país, em Mato Grosso do Sul, com relato de conflitos entre as comunidades tradicionais e os agentes do agronegócio, e de sucessivos massacres, em terras consideradas sagradas. Voltei a me indignar!
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