O depois...
Vivemos o que filósofos como o italiano Franco “Bifo” Berardi registra em Fenomenologia do Fim. Há, no horizonte, segundo pensa Berardi, uma bolha econômica no sistema financeiro que pode vir a estourar. Essas mudanças, a seu ver, provocarão um caos jamais visto, virando o mundo de cabeça para baixo.
Mas, é no caos que o filósofo enxerga a proliferação de comunidades autônomas, com experimentos igualitários de sobrevivência. O próprio planeta, por seu estágio de deterioração, não permite mais o prolongamento do atual modelo capitalista de consumo. “O crescimento”, diz, “não retornará amanhã ou nunca”.
As consequências do novo coronavírus não se fazem sentir apenas no seu âmbito de saúde da economia, mas se transformou numa espécie de doença psicológica e mental, que afeta, principalmente, a esperança no futuro. E isso, pondera, nos obrigará a imaginar novas formas de vida pós-economia, mais autônoma, centrada na autoprodução do necessário, na autodefesa, inclusive armada.
A rapidez e a complexidade dos eventos atuais são, na sua concepção, fortes demais para que haja uma elaboração emocional e consciente de tudo o que se forma à nossa volta. O vírus, acredita Berardi, é uma entidade invisível e ingovernável, e o mundo parece se desfazer debaixo de nossos pés, sem que possamos fazer nada a respeito de forma imediata e definitiva.
O mais sério parece ser a possibilidade de a vacina não decretar o fim da pandemia. Na impossibilidade de determos, a contento, as sérias consequências de um mundo pós-pandemia, o que parece ser mais efetivo é a criação de redes comunitárias autônomas, que não se firmem em conceitos como o lucro e a acumulação, mas baseada em hábitos de sobrevivência mais frugais.
Nesse ponto, o filósofo diz não acreditar em soluções de longo prazo. Não há tempo para isso. O mais sintomático é que as elites políticas, todas elas, não têm capacidade de apresentar soluções mínimas para o problema. A política, como um todo, tornou-se impotente diante de um colapso de tal magnitude. Nesse instante, a política tornou-se um jogo sem razão, sem conhecimento.
As soluções que podem apresentar, nesse momento, são, em sua visão, derivadas da raiva pela constatação da impotência diante da realidade. Ainda assim, a pandemia, diz, marca uma ruptura antropológica de profundidade abissal, justamente pela proibição de contatos mais íntimos. Trata-se, aqui, de uma epidemia de solidão que parece decretar a morte até da solidariedade. É uma verdadeira bomba atômica sobre nossas cabeças, acredita ele.
O mais afetado será, sem dúvida, o consciente coletivo, por meio do que chama de sensibilização fóbica, com o inconsciente de todos capturado de forma abrupta. Por outro lado, a aproximação do Estado com os grandes órgãos de controle informatizados, captando grande quantidade de dados, pode ocasionar maiores limitações das liberdades individuais.
As próprias palavras Estado, política e democracia parecem ter perdido o sentido e o significado. O Estado tornou-se, não uma organização da vontade coletiva, mas um conjunto da disciplina sanitária obrigatória, dos automatismos tecno-financeiros e da organização violenta de repressão aos movimentos trabalhistas, avalia.
Para Berardi, o Estado passou a ser o próprio capitalismo em sua forma semiótica, psíquica, militar e financeira, todos transmutados em grandes corporações de domínio sobre a mente humana e a atividade social. Embora se fale muito em globalização e outros sinônimos correlatos, o fato é que a pandemia impossibilitou a atuação na dimensão nacional, marcando, sobremaneira também o fracasso final de todas as hipóteses soberanas, da esquerda e da direita.
Por fim, Berardi diz que não existe mais o conceito tradicional de liberdade na era dos automatismos tecno-financeiros. “O inimigo da liberdade não é mais o tirano político, mas os vínculos matemáticos das finanças e os digitais da conexão obrigatória.” Vivemos um instante que parece decretar a morte da liberdade, tal como sonhávamos. Resta, em sua visão, no lugar da palavra liberdade, a palavra igualdade, única possibilidade de restaurar, nesse momento, algo humano entre os humanos.
O mais interessante nesse cenário é a constatação de que o dinheiro nada pode fazer para contornar a crise atual. Resta-nos, segundo o pensador, aguardar pelo imprevisível que tudo pode alterar, inclusive, essas previsões sombrias.
A frase que foi pronunciada
“Um grão de filosofia dispõe ao ateísmo; muita filosofia reconduz à religião.”
Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga
Só assim
» Levamos para o Blog do Ari Cunha um texto do presidente da Associação Brasiliense de Amparo ao Fibrocístico, Fernando Gomide, que desabafa sobre a necessidade de uma força-tarefa entre as corregedorias do Ministério Público, do Judiciário e dos Tribunais de Conta para que nunca falte medicação de alto custo nas farmácias.
Mais segurança
» Cada vez mais placas do Mercosul são vistas nos automóveis da cidade. Elas seguem o padrão para todos os países do bloco: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname.
Segredo
» No forno, a nova produção de Dad Squarisi: As 7 maravilhas de Brasília. Na linguagem que todos conhecemos, Dad revela a beleza do cerrado, das águas, do céu, o Plano Piloto, monumentos, paisagismo e, claro, sua paixão pelos brasilienses. Hoje, ela fala com o orgulho e gratidão de quem foi recebida pela capital de asas abertas. “Sou de Brasília.”
História de Brasília
Minha solidariedade aos companheiros do Última Hora, de São Paulo. O absurdo do atentado de que foi vítima é um atestado do espírito lutador do jornal, da unidade de pensamento de sua equipe. E, para terminar: o revide ao inimigo fantasma deve ser olho por olho, dente por dente. (Publicado em 14/01/1962)