No mundo pós-pandemia do novo coronavírus, todos os esforços estarão voltados para a retomada do crescimento econômico nos cinco continentes, principalmente com o incremento do comércio exterior, mesmo com a existência de movimentos favoráveis às barreiras alfandegárias, como vem fazendo os Estados Unidos do isolacionista Donald Trump. Inquestionável que os países devem abrir seus mercados para que a economia mundial ganhe impulso, mas cuidados têm de ser tomados pela equipe econômica do ministro Paulo Guedes para que não haja uma abertura comercial descontrolada.
Em tempos de valorização do liberalismo, que defende uma abertura comercial ampla e irrestrita, as autoridades brasileiras têm de pensar em inserir o país nas chamadas cadeias globais de valor. Economistas entendem que uma simples abertura comercial pode trazer consequências nefastas para o Brasil. Acreditam que se for liberada a entrada de produtos estrangeiros sem controle, o país pode perder a oportunidade de gerar empregos e renda com a fabricação desses produtos por empresas de capital nacional.
Inegável que o relacionamento comercial do Brasil com outras nações nos é desfavorável, uma vez que a pauta de importações é composta, majoritariamente, por itens com alto valor agregado e uma pauta de exportações de produtos primários e semimanufaturados. Uma abertura ampla, segundo especialistas, aprofundaria este quadro e o país deixaria escapar a oportunidade de agregar valor localmente, o que significa criação de empregos e geração de riqueza.
O Brasil possui um bem que poucos países têm: seu mercado interno, que consome bens de capital, bens de consumo durável e bens de consumo em geral, além de serviços. E é a partir desse mercado que o Brasil deve buscar maior inserção no mercado internacional. O que não se pode negar é que o poder de compra de uma nação é um patrimônio do Estado e este poder de compra deve ser usado como moeda de troca nas transações comerciais globais.
Em vez da simples abertura comercial, o que deve ser perseguido é o aperfeiçoamento do modelo de comércio internacional, com a inclusão na pauta de exportações desde as matérias-primas mais simples aos bens de capital mais sofisticados, inclusive itens de elevado conteúdo tecnológico. Não se pode perder de vista que quando se trata de discutir a inserção no mercado internacional, existe uma via de mão dupla, em que o potencial de compra do mercado interno para os produtos importados deve ser oferecido em troca de oportunidades de exportação de produtos aqui fabricados.
O foco deve ser a participação do Brasil nas transações comerciais mundiais como protagonista, e não como mero coadjuvante. Antes de optar pela abertura comercial ampla e irrestrita, as autoridades devem ponderar que tal medida pode se transformar em golpe de misericórdia no desenvolvimento tecnológico e industrial do país.