Insensatez
Governo algum pode subsistir se não puder contar com um manancial preciso e bem-elaborado de informações, que capacite e oriente sua administração na tomada de decisões corretas. Informação, nesse caso, é tudo. Não se trata aqui de bisbilhotar a vida dos cidadãos em busca de pretensos inimigos internos. O tipo de informação que interessa diz respeito direto aos cidadãos, uma que sirva de ferramenta para buscar melhorias de vida para cada um dos brasileiros.
Gestores realmente sérios e, principalmente, aqueles munidos de programas de governo consistentes e exequíveis, jamais prescindem de ter, ao alcance das mãos, o maior volume possível de dados dos mais diversos. No caso de dados levantados a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Censo Demográfico, o volume e a qualidade de informações contidos nessa pesquisa é vital para o nosso país. Somente por meio desse laborioso trabalho, realizado num país continental como o nosso, com todas as dificuldades que conhecemos, em meio a tanta variedade de realidades físicas e humanas, é possível se pensar em implementar políticas públicas adequadas com vistas a um desenvolvimento racional e sem improvisações de última hora.
Pela importância e sensibilidade dos dados coletados por esse instituto, não seria nenhum exagero se, a cada governo que tomasse posse, fosse imediatamente precedido de amplo e detalhado censo, de forma a municiar o novo mandatário de um retrato fiel e atual do país que administrará pelos próximos quatro ou oito anos. Bem sabemos que, em uma década, as mudanças operadas num país são profundas e, às vezes, produzem um verdadeiro ponto de inflexão, com alterações e mudança de rumos até contrárias.
Para os administradores, a atualização permanente é mais do que necessária, é vital e indiscutível para si e para a sociedade. Para isso, não basta saber, apenas, o tamanho da população e como está distribuída pelo território. É preciso, sobretudo, conhecer as condições de vida de cada brasileiro, qual o nível de escolaridade de cada indivíduo, em que condições de emprego e renda se encontram nossa população. É tão necessário para o país e sua gente, que o Censo e mesmo institutos como o IBGE deveriam, num mundo ideal, pairar sobre governos, partidos, ideologias (grande problema) e outras organizações políticas, necessárias para o sistema democrático, mas irrelevantes do ponto de vista das ciências humanas e das pesquisas.
Depois de manter, por meses, o IBGE sob intenso fogo de artilharia, com críticas e ameaças de todo tipo, justamente porque o instituto cumpria seu papel de mostrar a realidade do país, num retrato que, na opinião do atual governo, feria a imagem de sua administração, Jair Bolsonaro chamou de farsa as pesquisas que indicavam aumento do desemprego.
Nessa guerra inglória contra um instituto composto por profissionais do mais alto gabarito técnico, o governo sugeriu, entre outras medidas estapafúrdias, enxugar o questionário submetido aos milhões de pesquisados, simplificando, aos interesses do Planalto, uma pesquisa que é, reconhecidamente, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, como séria e muito bem-elaborada.