No Hospital de Base, entre tantas vítimas da selvageria no trânsito, há uma jovem em estado gravíssimo lutando bravamente pela vida. Aos 18 anos, ela teve a mama esquerda dilacerada e a mão amputada após ser arrastada em cima do capô de um carro por quatro quilômetros. Quatro quilômetros.
A brutalidade aconteceu na madrugada do último domingo, quando ela e o marido voltavam para casa. A moto em que estavam foi atingida na traseira por um veículo de passeio. O condutor, assessor parlamentar no Senado Federal, fugiu sem prestar socorro às vítimas e só se apresentou à delegacia na terça-feira, dois dias depois da batida.
A carteira de motorista dele está bloqueada e, por isso, ele não poderia estar dirigindo. O Correio procurou o Detran para ter informações sobre os motivos do bloqueio e desde quando ele está proibido de pegar o volante. Mas o Departamento de Trãnsito informou que não pode dar esse tipo de informação.
Os advogados declararam à imprensa que o cliente está com depressão, tomando medicamentos e sofreu um “apagão”. Acrescentaram que ele não ingeriu bebida alcoólica nem fez uso de outros tipos de substâncias que pudessem alterar seu estado de consciência naquela noite. O condutor prestou depoimento e foi para casa.
O assessor parlamentar já foi autuado duas vezes por dirigir embriagado. Uma delas, em 2008, cinco meses após a lei seca entrar em vigor no Brasil. Ele trafegava na contramão da via quando foi abordado. A outra atuação por alcoolemia foi em 2010.
O Correio apurou que, além dessas infrações, há outras registradas no prontuário de habilitação do assessor parlamentar. Entre 2008 e este ano, são ao menos 10 infrações por excesso de velocidade: três dos registros, por volta das 4h de uma única noite. Tem, ainda, autuações por avanço de sinal, estacionamento em local proibido e uso de celular ao volante.
Com os dados a que o Correio teve acesso, não é possível assegurar que ele tenha cometido todas as infrações de velocidade, avanço de sinal e estacionamento irregular. Mas, se foi outra pessoa, o assessor não procurou os órgão de trânsito para transferir a multa.
Uma jovem de 18 anos luta pela vida no hospital de Base porque um motorista, que devia estar longe do volante circula impunemente pelas ruas da cidade. Como ele, há centenas de outros. O caso de domingo é um pequeno retrato do que pode acontecer quando o Estado se omite ou demora a fazer cumprir o que manda a lei.