Nessa altura dos acontecimentos, parcela significativa de eleitores que votou nas propostas de governo do então candidato Jair Bolsonaro percebeu que ajudou a eleger um tipo específico de presidente da República, e não a composição do STF. Além disso, quando o presidente declarou que não formaria uma coalizão de partidos para sustentação de seu governo no Congresso, diagnósticos pessimistas, declarados, inclusive, pelo ex-presidente Collor, diziam que o governo não teria sucesso para aprovar a sua agenda. Parte dessa metamorfose, ou retorno a si mesmo, pode ser debitada diretamente ao presidente, e decorre de sua inabilidade política para o exercício do cargo frente a um Congresso eivado da velha política.
Outra parte dessa mudança deve-se, como dissemos, ao sistema de presidencialismo de coalizão, em que fatores vitais, como a governabilidade com todas as suas nuances, só podem ser realizados por meio de sintonia fina com o parlamento. Em outras palavras, qualquer governo que se apresente neste país disposto a alterar a carcomida República, tão cheia de vícios e mazelas, tem seu poder limitado pelos interesses, até inconfessáveis, de um naco significativo da classe política que parasita o Estado, desde a chegada de Cabral. Infelizmente, mesmo com todo apoio popular possível, não há estratégia que frutifique sem que os mandatários montem uma coalizão multipartidária no Legislativo. Romper esse ciclo não é tarefa para políticos sem estofo e sem uma trajetória muito bem delineada desde o início. Mesmo políticos experientes acabam se tornando presas fáceis em mãos acostumadas a puxar o tapete de todo ou qualquer incauto mais apressado.
Para aqueles que acreditam que bravatas e outras ameaças podem melindrar um Legislativo escolado em negociações, a tarefa de dificultar os caminhos da Presidência é ainda mais fácil de ser consumada. Bolsonaro não é primeiro presidente a mudar de rumos e, talvez, não será o último, mesmo diante de um quadro inusitado e dramático como uma pandemia. Depois de leiloar a cabeça do ex-ministro Sergio Moro para o chamado Centrão, alterando radicalmente a agenda de combate à corrupção, o presidente, que sempre foi um político isolado dentro do Congresso por décadas, se viu na contingência de atrair o mesmo Centrão para dentro do governo, como forma não apenas de garantir espaço de governabilidade, mas, sobretudo, escapar de uma saraivada de pedidos de impeachment que dormita nas gavetas do Congresso.
Se a saída intempestiva de Moro indicava retorno às velhas práticas no quesito ética no governo, sinalizando uma rendição ao poderoso lobby de um passado que insiste em permanecer vivo e entranhado na máquina pública, a debandada, agora, de importantes auxiliares do superministro da Economia, Paulo Guedes, precedida de outras baixas importantes, pode apontar para um abandono, sem choro, nem vela, do tão pretendido e anunciado programa de liberalismo econômico. Se não houver coalizão dentro do Executivo, mais uma vez, no horizonte, os cavaleiros do apocalipse representados pelo aumento de gastos públicos, em desrespeito não apenas às normas de responsabilidade fiscal, mas de abandono das medidas que impunham o teto de gastos.
A emissão anunciada da nova cédula de R$ 200, com a estampa do lobo-Guará, marca o prenúncio de uma virada ao passado, a um tempo em que acreditávamos ter deixado para trás. Assim retornamos aonde nunca saímos, dando voltas sem proveito, alheias aos nossos próprios problemas que não são poucos. É uma pena.
A frase que foi pronunciada
“A paciência é uma árvore de raízes amargas e frutos doces.”
Filósofo de Mondubim,
pensando em como o provérbio persa ajudaria Bolsonaro
Inacreditável
» Dizia Dom Bosco que, na capital do Brasil, correria leite e mel. Não deu outra. Com a Caesb sendo a única fornecedora de água, não tem para onde os consumidores fugirem. A água tem mesmo cor de mel. Comprove no Blog do Ari Cunha a qualidade da água oferecida pela companhia em uma região onde o IPTU vai às nuvens. Acredite. Isso não é o pior. Pior mesmo é ver na conta que coliformes têm um parâmetro mínimo exigido. E mais. Quase todos os itens estão fora do parâmetro adotado pela própria Caesb. Mais uma novidade: além da tarifa “variável” cobrada, agora há uma tarifa “fixa”.
Ele veio!
» Essa ladainha contra o dr. Marcos Trajano, da UBS do Lago Norte, está parecendo politicagem. Tira horta, põe horta, tira mangueira, paga multa. O lado bom da história é que, pelo visto, há um médico que bate o ponto e trabalha todos os dias na unidade.
História de Brasília
A prefeitura poderia muito bem estudar o término da construção do restaurante popular do Aeroporto. Está na estrutura, e parou no governo do dr. Jânio. Com um restaurante popular, o movimento seria maior, e o Laurinho bem que poderia baixar os preços tão altos, hoje em dia.
(Publicado em 14/1/1962)