Vivemos tempos difíceis, é fato. Estamos prestes a completar cinco meses de isolamento social e com uma certeza: o pesadelo mostra-se longe de acabar. Com a quantidade de mortes estabilizada em um patamar alto — média de quase mil casos fatais diários no Brasil e em torno de 50 no Distrito Federal —, é impensável imaginar que a vida voltará ao normal em breve. Exceto para aqueles que consideram a pandemia de covid-19 apenas um número e resolveram “tocar o barco” a qualquer custo.
O vaivém sobre a reabertura das escolas particulares no DF é um bom exemplo. Não há fórmula mágica. Em meio ao debate dos educadores sobre a manutenção do ano letivo e o ensino a distância, a discussão esbarra sempre em dois extremos. De um lado, há pais que querem ver as crianças longe de casa, de volta ao convívio social diário com meninos e meninas da mesma idade. Do outro, os que colocam a segurança sanitária como prioridade máxima e temem trazer a doença para dentro da residência. Então, é difícil chegar a um consenso. Sem uma solução para o impasse, ficamos sem uma medida que agrade a toda coletividade. E vai se empurrando com a barriga.
E isso é reflexo da sociedade brasileira. A cultura individualista está cada vez mais presente. Pensar no melhor para o vizinho, para o colega de trabalho ou para toda a sociedade é apenas um detalhe para grande parcela da população. Não há a busca do bem comum. E muito disso decorre da falta de um líder, de uma referência. De alguém que mostre qual o melhor caminho para sairmos dessa situação em que nos encontramos.
Uma situação que se agrava ainda mais com o estado de polarização em que estamos. No Brasil, o combate ao novo coronavírus é, antes de tudo, político. A divergência ideológica pôs em segundo plano a busca pela melhor estratégia proposta por médicos, sanitaristas, epidemiologistas e cientistas. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que pessoas morreram de covid-19 porque deixaram de tomar cloroquina. Deixe sua preferência política de lado por um instante e tente responder à seguinte pergunta: isso faz algum sentido? Será que, no fundo, o próprio presidente acredita nisto?
Para muitos, a pandemia é a maior tragédia já vivida. Pais perderam filhos; filhos perderam pais e avós; avós perderam netos. Marcas eternas. Culpados serão apontados aos montes. Muitos serão julgados nas urnas. Enquanto isso, o nosso novo normal — uma expressão recente e já tão batida — é esse: mil mortes hoje, mil amanhã, mil depois. Um ciclo trágico.