Muito se vê e ouve falar sobre os casos da covid-19 no Brasil, que ultrapassaram a trágica marca das 100 mil mortes pela doença. Os números são gigantescos: mais de 3 milhões de pessoas infectadas e passa dos 2 milhões o total de pacientes recuperados, além de centenas de milhares em investigação. A todo momento, temos notícias sobre a evolução da doença, estudos e desenvolvimento de vacinas. É indiscutível que a ciência é a saída tanto para a detecção quanto para o tratamento e, no futuro — breve, espero — , a imunização.
Sabe-se que os danos causados pela pandemia vão além das perdas de vidas insubstituíveis. Em todos os setores, principalmente na economia do país, estados, municípios e, mais dolorosamente, nas finanças pessoais. Independentemente das discussões — políticas ou não — sobre as medidas tomadas por governantes no enfrentamento do novo coronavírus e sobre as responsabilidades de cada um, é necessário ter em mente que a suspensão do isolamento social, reabertura de comércios e serviços e demais atividades não significam que o vírus se foi.
Desde os primeiros registros de casos, em fevereiro deste ano, estamos carentes de uma campanha massiva para a mudança de hábitos da população. Os meios de comunicação divulgam reportagens sobre medidas sanitárias de proteção, há cartazes afixados nos estabelecimentos com recomendações para o uso de álcool em gel, lavagem das mãos, distanciamento, etc. Mas, é preciso mais.
Quem lembra do Sujismundo? Os cinquentões e sessentões, com certeza. E o Zé Gotinha? Este, é mais recente. Personagens de peças publicitárias do governo, eles se tornaram símbolos. Criado por Ruy Perotti em 1972 (era governo militar, ok, mas vamos falar de publicidade), o boneco porcalhão, mal-educado, que jogava lixo na rua, protagonizou uma campanha para melhorar os hábitos de higiene e limpeza da população. Caiu no gosto do povo e até virou adjetivo.
Da mesma forma, em 1986, o artista plástico Darlan Rosa, mineiro radicado em Brasília, criou o Zé Gotinha, um bonequinho simpático, cujo objetivo era incentivar a vacinação contra a poliomielite. A figura engraçada atraiu crianças e facilitou a vida dos pais e responsáveis e ressaltou a importância da prevenção, além de tornar mais leve a tarefa de receber a gotinha e, nas demais campanhas, as furadinhas.
O que esses dois personagens têm em comum? O dever dos governantes de esclarecer, informar e incentivar os brasileiros de uma forma continuada, diuturnamente. “Não basta ser pai”, já dizia uma outra publicidade, “tem que participar” (Gelol, em 1984). Não basta ser governo, liberar verba, é preciso educar. Sempre. Precisamos incutir os bons hábitos: lavar as mãos, usar máscara, não tocar a face. Dessa forma, vamos poder fazer funcionar escolas, empresas, repartições públicas, comércios, etc. Até que toda a população possa ser imunizada. E além.
Os novos hábitos devem seguir pelos anos que virão, por gerações, com campanhas permanentes, dessas que ficam martelando na nossa mente, que fazem mudar atitudes, que abrem os olhos de adultos e, principalmente, das crianças. Hábitos que seguirão para o futuro. Afinal, há coisas que, dificilmente, se apagam da nossa lembrança. Por falar nisso, há uma outra campanha: mesmo quem não usa sutiã, sabe que o primeiro a gente nunca esquece.