Sem medir palavras e insistindo na tese da necessidade de criação de um tributo semelhante à defenestrada CPMF, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que nem o presidente da República ou da Câmara dos Deputados poderia impedir o debate sobre a possível reedição do imposto. Esqueceu-se, porém, que a sociedade brasileira pode e deve levar a discussão sobre o tema até as últimas consequências, uma vez que, afinal, será quem vai arcar com mais uma contribuição compulsória para os cofres da União. E já deu seguidas mostras contra a tributação.
Durante audiência virtual da Comissão Mista do Congresso, que analisa a reforma tributária, Guedes tentou esquivar-se quanto ao questionamento sobre a possibilidade da volta de uma CPMF com nova roupagem. O assunto foi discutido nas altas esferas governamentais e acabou provocando a queda do então secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, quando defendeu, abertamente, a reedição do tributo que incidia sobre todas as movimentações bancárias. Sepultado pelo parlamento em 2007, devido às repercussões negativas junto à população, o imposto voltou a ser considerado, agora, quando da retomada das discussões sobre a reforma tributária.
O condutor da política econômica do governo, pressionado pelos parlamentares da comissão especial, saiu em defesa da nova contribuição. Ela seria usada como compensação pela desoneração da folha de pagamentos, que alivia as contas de empresas de 18 setores da economia até 2021 — destaca-se que a tributação da folha no Brasil é de 43%, uma das maiores do mundo. “Sim, estamos estudando, temos falado sobre isso o tempo todo e as pessoas, por maldade ou ignorância, falam que isso é uma nova CPMF.” Ao mesmo tempo em que admite estudos para a criação de um tributo semelhante ao que foi extinto há 13 anos, Guedes esquiava-se quando o mesmo é comparado à sórdida CPMF.
A colocação do ministro foi prontamente rebatida por integrantes da comissão especial, a exemplo da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que disse fazer parte do “grupo de ignorantes” por não entender a extensão do tributo e se ele não está sendo maquiado para esconder sua real essência. “Já disse que passar batom na CPMF não vai transformá-la em imposto novo.” Outros parlamentares, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também se mostraram contrários à taxa, que incidiria sobre ricos e pobres da mesma maneira.
Necessário lembrar que o presidente Jair Bolsonaro, em consonância com os anseios da população, colocou-se contra a recriação da CPMF em diversas ocasiões, inclusive na campanha eleitoral que o levou à Presidência da República. Portanto, diante das vozes dissonantes em relação à recriação da famigerada CPMF, espera-se que a equipe econômica formule outras propostas para tocar a imprescindível reforma tributária, que está atrasada há muitos anos.
País do futebol avarento
O principal torneio continental de clubes do mundo recomeça hoje, e o futebol brasileiro (ainda) tem muito a aprender com a Uefa Champions League (UCL). Enquanto os nossos cartolas cometem um dos sete pecados capitais — avareza — na esdrúxula reengenharia do calendário, a Europa dá lição de flexibilidade em tempos de pandemia do novo coronavírus.
A entidade máxima do futebol europeu aprendeu apanhando. Alguns jogos das oitavas foram bombas biológicas antes da paralisação mundial das competições. A Uefa decidiu abrir mão de quase tudo o que havia planejado para a temporada em nome da conclusão segura do megaevento.
Os duelos de volta pendentes das oitavas serão com portões fechados onde estavam programados: Juventus x Lyon, na Itália; Manchester City x Real Madrid, na Inglaterra; Bayern Munique x Chelsea, na Alemanha; e Barcelona e Napoli, na Espanha. PSG, Red Bull Leipzig, Atlético de Madrid e Atalanta esperam os resultados. Depois, é “Copa do Mundo”, amigo.
A partir das quartas, todos os jogos serão em Portugal, nos estádios da Luz e José Avalade, em sistema de jogo único. A final estava programada para Istambul, na Turquia. Mudou para Lisboa. Sem pandemia, a UCL precisaria de mais 17 jogos para acabar. Com a crise sanitária, a tabela prevê 11 partidas. Na prática, menos viagens. Menos risco de contaminação.
Se a Uefa cedeu, por que o futebol brasileiro é tão avarento? O que justifica a manutenção das finais dos estaduais ou da recém-encerrada Copa do Nordeste com dois jogos? Não há público, um dos fatores capazes de desequilibrar. Logo, basta partida única em campo neutro.
É óbvio que o clima, em Itaquera, seria outro com a Fiel empurrando o Corinthians contra o Palmeiras na quarta-feira; ou a torcida alviverde lotando o Allianz Parque na decisão de amanhã do Paulistão. Hoje, é impossível. Não faz sentido inchar o calendário com decisões em ida e volta no Carioca (encerrado), Paulista, Mineiro, Gaúcho... É desperdício de datas.
A Uefa e os candidatos ao título da Champions League entenderam isso. Camisas pesadas do futebol mundial entraram em consenso. Aqui, não. O Candangão, por exemplo, terá duelos de ida e volta nas quartas, semifinais e decisão. É, no mínimo, bizarro.
O Brasileirão começa amanhã. Defendo o sistema de pontos corridos, mas, às vezes, é preciso abrir mão até da própria convicção em tempos de crise. É interessante 380 jogos (ida e volta) sem público? Excesso de viagens, risco de infecção... Mas estamos no país do futebol avarento.
Sr. Redator
Cartas ao Sr. Redator devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome e endereço completo, fotocópia de identidade e telefone para contato. E-mail: sredat.df@dabr.com.br
Lago Sul
A propósito da matéria que atribui concentração de riqueza ao Lago Sul, esclarecemos que o bairro começou a ser formado há cerca de 50 anos, habitado, sobretudo, por servidores públicos, professores, profissionais liberais e prestadores de serviços. Todos vieram com a coragem de enfrentar o desafio de trabalhar na nova capital.Com o tempo, pioneiros que moravam no Plano Piloto optaram por viver aqui. Dados da reportagem são inconsistentes. Um deles: atribuir 26,7% da renda aos 10% mais ricos e 12% aos 10% mais pobres. Os 80% restantes detêm 61,3% da renda. Logo, a classe média detém menos do que os 10% mais pobres. É um erro, pois cada grupo de 10% não teria mais do que 8,3% da renda do bairro. A matéria insinua uma plutofobia. Em vez de tomar o Lago Sul como modelo para o urbanismo de Brasília, investe no preconceito. No momento em que empresários imobiliários tentam transformar em uso misto a área destinada a uso residencial, equívocos como esse estimulam que políticas públicas punitivas contra os moradores sejam legitimadas em benefício de especuladores. Outro preconceito visível é fustigar os servidores federais civis, estigmatizando o bairro onde moram, não obstante o desequilíbrio nas carreiras públicas.
» Fernando Cabral,
presidente do Conselho Comunitário do Lago Sul
Líbano
Beirute, no hebraico beryth, tem significado alentador: corrente ou aliança de força. E é nesse sentido que, destruída várias vezes por terremotos, maremotos, guerras e atentados, Beirute encontrou alianças para se reconstruir sete vezes. Reconstruir e se refazer das cinzas para restaurar sempre o belo jardim cultivado a leste do Mar Mediterrâneo. O editorial Solidariedade ao Líbano (6/8) é retrato fiel do que é o Líbano em história, em cultura e em estatísticas. Sobretudo, em relação ao Brasil, que tem a maior comunidade libanesa fora do pequeno país do Oriente Médio. Aliás, segundo o último censo, o Brasil tem três Líbanos em gente, culinária e cultura dentro do território. Por isso, a catástrofe que atingiu Beirute atinge em cheio os brasileiros. A solidariedade que o presidente Bolsonaro prometeu ao Líbano tem de encontrar eco no coração de cada brasileiro. Não há uma família no Brasil sem laços de parentesco com o povo libanês. Eu mesmo, que tenho avós portugueses e italianos, sou orgulhosamente rodeado de parentes e contraparentes libaneses. Força, Líbano! “Seu esplendor será como o da oliveira e sua fragrância, como a do cedro”.
» Silvestre Gorgulho,
Lago Sul
» A ajuda recebida pelo Líbano dos países muçulmanos chama a atenção para o Islã. Um dos pilares da religião de Maomé é a compaixão: tratar o pai, a mãe, o filho do vizinho da mesma forma que trata o próprio pai, a própria mãe, o próprio filho. Daí porque, em tempos de paz, não se vê crianças ou adultos em situação de rua. Nem com a mão estendida mendigando ajuda. A segurança é total. Atacar estranho é como atacar um membro querido da família. Trata-se de belo exemplo para o mundo.
» Marcelo Abi,
Lago Norte
» Foi triste ver Beirute em ruínas, destruída por uma explosão que veio sabe-se lá de onde. A cena, comum décadas atrás, parecia página virada. Pessoas ensanguentadas, vidraças quebradas, carros esmagados, multidões deslocadas, hospitais superlotados transmitem recado claro: somos nada vezes nada.
» José Enrico,
Asa Norte
Feminicídio
A polícia procura a causa do assassinato da mulher em Águas Claras. O motivo é sempre o mesmo: mata-se por ciúme ou outra razão qualquer. Fato é que mais um feminicídio é visto como “assunto de casal”. Vizinhança, mesmo percebendo os gritos da agressão, exime-se de meter a colher. A causa da barbárie é estrutural e vista como briga de marido e mulher. Taí um crime que se perpetua enquanto for incontestável o direito de matar mulheres.
» Thelma B. Oliveira,
Asa Norte
Lava-Jato
A Operação Lava-Jato vem sendo posta em xeque não por seus méritos, mas por supostas condutas e práticas questionáveis, assim chamadas de “lavajatismo”, que incluem a recusa de compartilhamento de dados com a Procuradoria-Geral da República, órgão que abriga a operação e a denunciada investigação de 38 mil pessoas. Só esses dois casos justificam séria apuração. É urgente que a sociedade saiba se a investigação das tais pessoas ocorreu sob autorização judicial. Apurar corrupção não justifica atos que sejam ou pareçam ser ilegais. A operação, também, não pode enveredar para o punitivismo (como suspeita parcela da imprensa) — ela não é instância do Judiciário! A julgar pelas notícias, tudo indica que, pelo menos, correção de rumos para a Lava-Jato (senão seu próprio fim!) é algo necessário e saudável para o bem da sociedade e da nossa democracia.
» Marcos Paulino,
Taguatinga
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Será que, depois da “PEC do Fraldão”, vão querer criar a “PEC do Caixão” para os ministros ficarem no STF até morrer?
Ivan T. de Pinho e Silva — Águas Claras
Sucesso ao jornalista Bruno Fonseca
(CB, 6/8), diretamente de Manaus para comandar o DF Alerta da TV Brasília.
Vicente Limongi Netto — Lago Norte
Uma boa reforma tributária é a que
visa simplificar e reduzir impostos. Aumentar a carga tributária, nem pensar.
José Matias-Pereira — Park Way
Não se pode criticar o bolsonarismo; não se pode motejar do governo; não se pode debicar da Seopi... Que ditadura mais parva essa democracia de Bolsonaro, heim!
Eduardo Pereira — Jardim Botânico
Desmatamento e interesse nacional
Gomez
O posicionamento dos investidores internacionais e dos líderes empresariais brasileiros contra o desmatamento da Amazônia reforça o óbvio: desmatar é contra o interesse nacional. A ciência informa, há muito tempo, que a Amazônia é vital para manter o regime de chuvas que alimenta parte significativa da produção agropecuária, da geração de energia hidrelétrica e do abastecimento urbano de água no Brasil. Além disso, a poluição do ar causada pelas queimadas causa seriíssimo problema de saúde pública. Há muito tempo defendemos a tese de que desmatar não é atitude inteligente nem coerente com uma visão de prosperidade e sustentabilidade para o futuro do Brasil.
Agora, além dos prejuízos já conhecidos, temos a provável perda de investimentos internacionais em todos os segmentos da economia. Adiciona-se a isso o fechamento formal de muitos mercados aos produtos brasileiros e as formas sutis de afastar as empresas nacionais das mais diversas oportunidades de negócios. A deterioração da imagem do Brasil no exterior por causa das crescentes taxas de desmatamento e queimadas prejudica a maioria dos brasileiros. A pergunta óbvia é: por que o governo não combate o desmatamento de forma eficaz uma vez que isso beneficia apenas os grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais?
Três hipóteses devem ser avaliadas. A primeira é a de que existe uma ideologia no governo que defende o paradigma de que a floresta é obstáculo ao progresso. Portanto, para os que defendem esse modelo ultrapassado, remover a floresta é positivo. A segunda é a de que existem grupos de interesse enraizados no governo e na base de sustentação no Congresso ligados aos interesses econômicos que se beneficiam do desmatamento. Para esses segmentos, afrouxar os controles ambientais é bom e se traduz em ganhos financeiros. A terceira é de que o enfraquecimento dos órgãos ambientais, com a redução dos orçamentos e a nomeação de dirigentes sem formação técnica na área ambiental, reduziu a eficácia e a eficiência das políticas públicas.
Independentemente da importância relativa dessas hipóteses para explicar o cenário de aumento constante nas taxas de desmatamento desde o início de 2019, devemos enfrentar o fato. Não há como negar os dados das imagens de satélite. Existem muitos satélites e as imagens são cada dia mais precisas e disponíveis. Não adianta alimentar a narrativa de que a imagem negativa do Brasil se deve a um surto de desinformação súbita da comunidade internacional. Infelizmente, os grandes investidores internacionais e os líderes empresariais brasileiros estão bem informados. Portanto, combater a crise com campanha de comunicação não resolverá o problema.
O caminho é razoavelmente óbvio: precisamos enfrentar o desmatamento de forma séria, buscando tanto a eficácia quanto a eficiência das medidas de combate. O Brasil tem inteligência instalada para definir o que deve ser feito. Foi a ação integrada do governo federal e dos governos estaduais que levou à redução do desmatamento no período de 2003 a 2012. Vale destacar que também contribuíram muito para o resultado as organizações da sociedade civil, as empresas e produtores rurais, os movimentos sociais, artistas e a academia. Foi um somatório das ações de todos que produziu resultados positivos e trouxe enorme reconhecimento e credibilidade ao Brasil como líder internacional na área ambiental.
É necessária a união dos principais segmentos da sociedade brasileira para construir um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. É essencial alinharmos uma visão de longo prazo de que o desmatamento em todos os biomas é ruim para o Brasil. É do interesse nacional caminhar o mais rápido possível para o desmatamento zero. Para isso, o governo federal deveria revitalizar os órgãos responsáveis pela política ambiental, fundiária, indígena e a Suframa, contratando servidores, aumentando o orçamento e nomeando dirigentes com formação técnica e competência gerencial.
Em paralelo, deveria apoiar financeiramente os estados e municípios para que também tenham mais eficácia nas ações. É necessário profunda mudança de narrativa, que deveria incluir desde o presidente até o restante da equipe, nos mais diversos escalões. Feito o redirecionamento geral, aí, sim, caberia contratar empresas de comunicação e marketing para dizer ao mundo que o Brasil retomou os trilhos da proteção da Amazônia contra o desmatamento.
Entretanto, para o Brasil, a Amazônia é importante demais para ficarmos esperando que o governo federal faça a sua parte. É hora da união de todos em defesa de uma Amazônia sustentável, que deveria incluir diferentes segmentos da sociedade civil: organizações não governamentais, empresas, produtores rurais, movimentos sociais, artistas e academia. Devemos fazer uma grande aliança nacional em defesa de uma Amazônia onde a floresta em pé seja vista como elemento vital para um projeto nacional capaz de atrair o apoio de lideranças políticas de todas as esferas de governo e do Legislativo, engajamento do Judiciário e do Ministério Público.
Como contrapartida, poderíamos solicitar o oposto do que vem acontecendo: mais doações para o Fundo Amazônia, mais abertura de mercado para os produtos brasileiros de origem sustentável e mais investimentos no Brasil, especialmente na economia verde. Fazer isso seria realmente defender o interesse nacional.
Charge
Vai ser dada a largada
Em 24 de janeiro, publiquei aqui o artigo intitulado Renovação ou experiência, no qual abordei as características que seriam buscadas pelo eleitorado no pleito deste ano que, na ocasião, ainda estava previsto para 4 de outubro, e o país nem sequer suspeitava da pandemia que nos atingiria em cheio semanas depois, permanecendo até hoje. Por essa razão, em 2 de julho, o Congresso Nacional promulgou a PEC adiando as eleições para dia 15 de novembro.
Volto ao tema porque, entre os dias 31 de agosto e 16 de setembro, os partidos políticos realizarão convenções para escolher as candidaturas a câmaras municipais e prefeituras. Para o Poder Executivo, é possível o estabelecimento de coligações. Já no Legislativo, cada legenda terá que concorrer isoladamente, medida correta, mas que traz novos desafios e perguntas. Na disputa para as prefeituras, os partidos devem apostar em coligações ou no lançamento de candidaturas próprias? E como montar uma chapa de vereadores competitiva?
Para responder às perguntas, a premissa obrigatória é a elaboração da estratégia política adequada. O que, afinal, é estratégia? Há inúmeras definições disponíveis e em minhas palestras costumo afirmar que toda estratégia é resultado da combinação de três elementos: definição do norte — saber aonde se quer chegar; escolha dos caminhos — como fazer para chegar lá; conhecimento do ambiente — como utilizar os recursos disponíveis.
Entretanto, no Brasil, país continental, ao aplicarmos esses elementos para analisar o cenário eleitoral nos 5.570 municípios, encontramos uma peculiaridade, qual seja, a fragilidade orgânica, programática e ideológica das agremiações partidárias, permitindo a formação de alianças, no mínimo, inusitadas em que adversários antagônicos nos planos nacional e regional se juntam para concorrer no âmbito local.
Por isso, os partidos precisarão fazer escolhas, a principal das quais relativa ao objetivo. Se tiverem como foco o cumprimento da cláusula de barreira prevista para as eleições gerais de 2022, enxergarão a disputa legislativa de novembro como etapa para acumular forças nacionalmente, fazendo que concentrem as energias na construção de chapas competitivas, capazes de obter votação expressiva e eleger o maior número possível de vereadores.
Tal escolha pode implicar, de forma subjacente, o lançamento do maior número possível de candidaturas próprias às prefeituras, mesmo sem grandes chances de vitória, apenas como forma de ampliar a exposição da imagem do partido. E, mesmo que não seja decisão adotada de maneira organizada em âmbito nacional, essa lógica também pode ser adotada em cada localidade isoladamente.
Nesse sentido, faz-se mister observar cuidados na montagem das chapas de vereadores. O primeiro é garantir que as pré-candidaturas tenham um mínimo de viabilidade eleitoral, ou seja, razoável potencial de atração de votos para a legenda. O segundo é trabalhar para preencher o total de vagas. Para quem não sabe, cada partido pode registrar candidaturas até o máximo de 1,5 vez a quantidade de vagas existentes nas câmaras municipais.
O terceiro é garantir a cota de 30% de vagas para mulheres. Ou seja, se, num município, houver 20 vagas, a chapa pode ter até 30 nomes, dos quais 10, obrigatoriamente, de candidaturas femininas. O quarto cuidado é não aceitar o registro de falsas candidaturas femininas. O TSE deixou claro que, se forem identificadas candidatas laranja, será concedida permissão ao juiz para cassar toda a lista de candidatos a vereadores da legenda antes mesmo da votação.
Além dos cuidados acima, é necessário estabelecer, de forma transparente, as regras internas quanto à utilização de recursos dos fundos partidário e eleitoral, lembrando que a legislação delega à direção nacional de cada partido o poder de decidir os critérios da distribuição entre as candidaturas. Por sinal, nesse assunto, muitas vezes vale o ditado “quem não chora não mama”.
Outro fator relevante é o enorme interesse que parlamentares federais e estaduais têm nas eleições municipais, já que vereadores e prefeitos constituem parte significativa das bases de apoio para 2022. Como se vê, é um conjunto de decisões difíceis de tomar. Qualquer erro pode levar à derrota, e os acertos não garantem a vitória. Sabe-se que política eleitoral não é ciência exata. É imprescindível ter visão estratégica e planejamento mas, acima de tudo, trabalho, muito trabalho.
Visto, lido e ouvido
O futuro das gerações e a preservação do meio ambiente
Com uma área de aproximadamente 188 mil km², o Pantanal é considerado a maior área úmida continental do planeta. Esse magnífico bioma, um dos maiores patrimônios naturais do Brasil, ao lado da Amazônia e do próprio Cerrado, o Pantanal abriga cerca de 3,5 mil espécies de plantas, 124, de mamíferos, 463, de aves e 325, de peixes. Nesse verdadeiro paraíso úmido, encontram-se, ainda, diversas comunidades tradicionais, formadas por povos indígenas que habitam a região há milênios, além de populações de quilombolas e outros povos locais, que concorrem para a formação de uma rica e preciosa cultura pantaneira. À semelhança da tragédia que vem se abatendo sobre a Amazônia, a imensa região do Pantanal também sofre, há anos, com a ação nefasta do agronegócio e de outros personagens que agem nessa região movidos apenas por interesses econômicos imediatos e a qualquer custo.
Para esses atores da destruição, a vegetação, os animais e outros recursos naturais são, muitas vezes, considerados empecilhos ao “progresso”, devendo, portanto, ser retirados do caminho, tratorados ou queimados. O pior nessa tragédia é que nenhum governo, tanto do passado quanto da atualidade, nunca viu nada demais com o que ocorre naquelas áreas remotas. Aproveitando os discursos, o que tem pregado o atual governo em desfavor das questões do meio ambiente, o Pantanal parece ter se tornado, do dia para noite, uma região de ninguém, onde, o que vale, é justamente o vale-tudo.
Com isso, essa região vem passando por sua mais profunda crise das últimas décadas. A seca, também recorde, contribui ainda mais para a destruição de todo esse delicado ecossistema, acendendo, como nunca, a preocupação de ambientalistas não só do Brasil, mas de todo o planeta. Além da seca, que, a cada ano, torna-se mais severa, aumentaram as queimadas e os desmatamentos.
No mesmo sentido, as fiscalizações foram sensivelmente abrandadas, com o desaparecimento de multas e de outras penalidades aos predadores da natureza. O governo, literalmente, fechou os olhos para o problema, assim como vem fazendo com a região amazônica. A atuação federal, nesses casos, só acontece por pressão internacional, principalmente quando investimentos e outros recursos econômicos estrangeiros ameaçam paralisação. Ou quando aumentam os boicotes a produtos brasileiros, como vem acontecendo em larga escala mundo afora.
O que os cientistas têm alertado é que o descaso com a Amazônia afeta diretamente também o Pantanal, apesar da distância. O recorde de incêndios na Amazônia, em junho desse ano, acelerou e fez crescer, ainda mais as queimadas no Pantanal. O desmatamento e as queimadas tanto no Pantanal quanto na região amazônica são fenômenos que acabam por afetar os chamados rios aéreos, com consequência direta na diminuição do regime de chuvas nessas regiões e em todas as outras no país.
O processo lento e, de certa forma, programado de destruição desses dois magníficos biomas, únicos no planeta, trarão prejuízos irreversíveis ao Brasil e às futuras gerações, que poderão ser obrigadas a sobreviver em regiões agrestes e desérticas, sem água, sem vegetação, empobrecidas pela ação criminosa de grupos e pela inanição de governos, para quem o futuro sempre se esgota nas próximas eleições.
A frase que foi pronunciada
“ No fundo do seu coração, o homem aspira a reencontrar a condição que tinha antes de possuir consciência. A história é meramente um desvio que ele toma para chegar lá.”
Emil Cioran, foi um escritor e filósofo romeno radicado na França.
Consome dor
» Com mais demanda, o número de reclamações aumenta em relação ao iFood. Demora na entrega do alimento, troca de encomendas, falta de comunicação sobre o endereço, fazendo o responsável pelo transporte não entregar a comida, e o envio de cupons de desconto no aplicativo que dá sempre erro. Merece uma revisão dos restaurantes.
Há males
» Constantemente, esta coluna expõe a opinião dos leitores sobre o tratamento sofrível que o comércio dispensa aos clientes. A situação na pandemia parece que reverteu isso. Quem conseguiu manter o emprego teve uma reciclagem forçada na escola covid-19.
Menos burocracia
» Veio em boa hora a Portaria da Corregedoria TJDFT– GC 67/2020, art. 2º. II. Cartórios facilitam o atendimento pelo próprio site, telefone ou e-mail.
História de Brasília
Leitor nos escreve pedindo que façamos uma sugestão à TCB sobre a efetivação da proibição de se fumar nos ônibus, defendendo os passageiros, que ficam incomodados, e a empresa, que tem seus bancos queimados. Conclui o missivista, numa extrema coincidência de ponto de vista com a maioria da cidade, ao dizer que “tudo será fácil, agora, sr. Ari, enquanto não temos vereadores”. O recado final é para a Justiça, que deve conhecer o ponto de vista da cidade.
(Publicado em 13/1/1962)