MEIO AMBIENTE

Amazônia e o satélite

''A questão de hoje, na Amazônia, é afirmar a presença brasileira de maneira civilizada. Ou seja, tornar evidente o respeito ao meio ambiente e à proteção da vida dos indígenas''

» ANDRÉ GUSTAVO STUMPF Jornalista
postado em 01/09/2020 04:00 / atualizado em 01/09/2020 08:05
 (crédito:    )
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No dia 10 de agosto de 1823, o capitão tenente inglês John Pascoe Greenfell chegou a Belém do Pará no comando do navio de guerra Maranhão e anunciou que havia quase um ano que D. Pedro I proclamara a Independência do Brasil com apoio da Inglaterra. Afirmou não esperar nenhuma oposição. Ocorre que a capital do Grão-Pará, província que incluía os atuais Maranhão, Pará, Amazonas, Mato Grosso, Roraima e Piauí desde 1751, por ato do soberano português, mantinha ligações estreitas com Lisboa.


O Grão-Pará constituía outro país, desde a dinastia filipina, por decisão de Filipe III, no período conhecido como união ibérica. Dois países amigos. Um seria o Grão-Pará, cuja primeira capital foi São Luís, e o outro, o Brasil, cuja capital era Salvador. Disposição de fazer o Brasil e Grão-Pará se tornar um país só era novidade na época. A viagem de navio a vela de Belém a Lisboa levava cerca de 20 dias. Até ao Rio de Janeiro exigia cerca de dois meses. A Independência na Amazônia ocorreu em agosto de 1823 em ambiente pesado. O pessoal do norte queria permanecer ligado a Portugal. Sob ameaça de bombardeio, os paraenses aderiram ao Brasil independente.


O sentimento nacionalista português se disseminou na região por causa da decisão do Marquês de Pombal de criar a província do Grão-Pará em 1757 e designar o irmão para governar aquela vasta região, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. A construção do forte do Presépio em 1621, que daria origem à cidade de Santa Maria de Belém do Pará, foi ato de defesa contra ataques franceses, que reivindicavam toda a área entre o Maranhão e a Guiana Francesa. O novo ciclo tinha por objetivo colonizar o interior, criar fortes e cidades, movimento que proporcionou a criação da Capitania do Rio Negro e sua capital, Barcelos. Manaus surgiu depois da fundação do forte da Barra, onde o Rio Negro se encontra com o Amazonas.


O Brasil é um país enorme e sua história convive com visões diversas e até antagônicas. Foi descoberto por Pedro Álvares Cabral no ano de 1500. Estudiosos afirmam que Vicente Yanes Pinzon encontrou a Amazônia, em 1502, durante a terceira viagem de Colombo à América, quando batizou o Rio Amazonas de Mar Dulce. D. Pedro II fez várias viagens nacionais e internacionais. Esteve na Europa, nos Estados Unidos e foi até a Terra Santa, passando pelo Egito. Jamais colocou os pés na Amazônia. A região foi atacada por franceses, ingleses, espanhóis, alemães, holandeses e mais recentemente por norte-americanos. Pagou caro pelo atrevimento de reagir contra a Independência e tentar ficar no lado português.


O Brasil independente virou as costas para o norte. Desenvolveu o centro-sul e deixou a Amazônia à deriva. Houve geração de riqueza no fugaz momento da borracha, nos primeiros anos do século 20. Depois veio o abandono. O Brasil se ligou ao norte apenas em 1960, quando JK inaugurou a rodovia Belém-Brasília, com mais de dois mil quilômetros de extensão. Até então o brasileiro só chegava a Belém de navio ou de avião. Depois os governos militares decidiram recuperar o tempo perdido. E iniciaram um período de obras para integrar a área ao governo do Brasil. Naturalmente, os antigos frequentadores da região, europeus de modo geral, protestaram em nome da defesa do meio ambiente. O índio figura como porta-estandarte na manifestação de protesto que emociona europeus e norte-americanos.


A questão de hoje, na Amazônia, é afirmar a presença brasileira de maneira civilizada. Ou seja, tornar evidente o respeito ao meio ambiente e à proteção da vida dos indígenas. Não há como esconder, escamotear nem falsear sobre o que ocorre naquela imensa região, metade do território nacional. Satélites civis ou militares de diversas nacionalidades vigiam o espaço aéreo e terrestre nas 24 horas do dia. Tudo é exposto à curiosidade pública internacional. É impossível impedir que nacionais e estrangeiros saibam o que ocorre lá.


O Brasil nunca deu muita bola para a Amazônia. Henry Wickman embarcou em Santarém, em 1876, no SS Amazonas, que fazia a linha Liverpool-Manaus. Levou sementes de seringueira para a Inglaterra, de onde foram transferidas para a Malásia. A consequência foi a falência da produção nacional de látex. Hoje, os tempos digitais exigem respostas no elevado nível do desafio. Somente a empresa do empresário Elon Musk está em processo de lançar 122 satélites para prover, até 2021, internet de alta velocidade em qualquer ponto do planeta. Inclusive na Amazônia. A proteção da floresta úmida requer forte ação de relações públicas, imprensa e tecnologia de ponta. Tentar criar narrativa própria poderá prejudicar ainda mais a já problemática imagem do Brasil no estrangeiro. E produzir novos e maiores obstáculos para o comércio exterior do país. 


* Jornalista 

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