“Só quem conhece o inverno valoriza a primavera.” A frase é repetida em países onde a estação fria é tão rigorosa, que priva os moradores de usufruir as benesses da natureza e os obriga a se manter protegidos em casa. Quando o calendário anuncia a virada, adultos e crianças vestem cores vivas e enchem as ruas de movimento e alarido.
Talvez a mesma sensação se apodere de quem se liberta da obrigação de pagar aluguel. A pessoa desembolsa um dinheiro sofrido e, passados os meses, tem a impressão de que o jogou pela janela. Sem teto próprio, corre o risco de ser despejada segundo os interesses do locador. É comum uma família mudar de endereço mais de uma vez por ano.
Vem, pois, em boa hora, o Casa Verde e Amarela. Destinado à população de baixa renda, o programa deve beneficiar 1,6 milhão de famílias até 2024. Norte e Nordeste — cujo desenvolvimento é menor do que o das demais regiões — serão favorecidos com juros menores. As taxas hoje oscilam entre 5% e 5,5% ao ano. Cairão até 0,5 ponto percentual.
A iniciativa apresenta dupla vantagem. De um lado, reduz o deficit habitacional. A escassez, segundo o Ipea, aproxima-se de 8 milhões de moradias — 14,9% dos domicílios. De outro lado, estimula a criação de empregos, calcanhar de aquiles do pós-pandemia. O governo prevê 2 milhões de novos postos de trabalho.
Críticos afirmam que, fora o critério de beneficiar famílias com renda mensal no patamar de R$ 2 mil, tudo segue praticamente os passos do Minha Casa, Minha Vida. O comentário não desqualifica o programa. Se a roda foi inventada, não há que desperdiçar tempo em redundâncias. Há, isso sim, que aperfeiçoá-la.
O mais importante é a escolha do local onde serão erguidas as moradias. Além de contar com infraestrutura, deve ser próximo do trabalho da maioria das pessoas. Oferecer residência distante, para cujo deslocamento se exige mais de um meio de transporte e horas de viagem, é repetir erro histórico — empurrar o pobre para longe, modelo urbano da casa grande e senzala.
Impõe-se mudar o paradigma, convocar a criatividade e abrir caminho para a inovação. Áreas do centro das grandes cidades — com novo perfil devido a mudanças nas formas de trabalho ou de ocupação de espaços — podem ser redesenhadas para beneficiados do programa. Com a colaboração de arquitetos, urbanistas e paisagistas, em vez de mais do mesmo, será mais do diferente.
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