
O programa Crédito do Trabalhador, nova modalidade de empréstimo consignado destinada a empregados do setor privado com carteira assinada, concedeu mais de R$ 1,28 bilhão em sua primeira semana de vigência, segundo dados da Dataprev divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nesta quinta-feira (27). O volume expressivo reflete a alta demanda por crédito entre os trabalhadores, que firmaram 193.744 contratos no período, com um valor médio de R$ 6.623,48 por empréstimo.
A modalidade, que permite o desconto das parcelas diretamente na folha de pagamento, tem sido vista como uma alternativa ao crédito rotativo do cartão, cujas taxas de juros são significativamente mais altas. No entanto, especialistas alertam para os riscos de endividamento excessivo e para a necessidade de planejamento antes da adesão.
O montante liberado nos primeiros sete dias, entre 21 e 27 de março, veio de um universo de 11,6 milhões de propostas enviadas pelos trabalhadores interessados. A expectativa do governo é que, nos próximos quatro anos, 25 milhões de trabalhadores tenham acesso à modalidade, movimentando mais de R$ 40 bilhões.
Segundo o ministro em exercício Francisco Macena, a alta adesão inicial demonstra a necessidade de crédito entre os trabalhadores e a facilidade proporcionada pela Carteira de Trabalho Digital, que centraliza as operações com transparência. No entanto, ele recomenda cautela na contratação dos empréstimos.
"Os empréstimos devem ser feitos com calma, sem ansiedade. É importante avaliar bem as condições e buscar a proposta mais vantajosa. Recomenda-se, inclusive, aguardar um número maior de instituições financeiras oferecerem suas taxas antes de tomar uma decisão", afirmou Macena.
Apesar das vantagens do crédito consignado privado, como juros mais baixos em comparação com outras modalidades, o economista Otto Nogami, professor do Insper, ressalta alguns pontos de atenção: como o comprometimento da renda, risco de superendividamento, desconto automático em caso de demissão e possíveis cláusulas desfavoráveis. "O crédito consignado privado pode ser uma alternativa válida para quem precisa de recursos, mas deve ser usado com responsabilidade para evitar impactos negativos na saúde financeira", alerta Nogami.
Alerta
A criação do Crédito do Trabalhador pode agravar o já elevado endividamento das famílias brasileiras. O alerta vem do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV (FGVcemif), que aponta a necessidade de cautela diante do cenário atual.
Embora o novo consignado ofereça juros reduzidos e desconto direto na folha de pagamento, especialistas enfatizam que o crédito no Brasil já atinge níveis preocupantes. Segundo Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif, o crédito é essencial para a economia, mas a crescente dependência dele pode trazer riscos. "É preciso haver cautela, tendo em vista o já elevado grau de comprometimento de renda da população para o pagamento de dívidas", ressalta.
Nos últimos anos, o aprimoramento da regulação, a entrada de novos atores no mercado e a ampliação de programas de transferência de renda impulsionaram o acesso ao crédito, especialmente para a população de baixa renda. Isso resultou em um crescimento expressivo do crédito ao consumidor, mas também elevou a inadimplência.
Dados da FGVcemif mostram que, em 2023, o volume de crédito para consumo como percentual do PIB aumentou significativamente, refletindo a maior dependência das famílias desse tipo de financiamento. Além disso, os juros cobrados sobre o crédito para pessoa física no Brasil seguem entre os mais altos do mundo, o que agrava o risco de inadimplência e dificulta a recuperação financeira dos devedores. Atualmente, mais de 72 milhões de brasileiros estão negativados.