A estimativa para o crescimento da economia brasileira neste ano, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), passou de 1,7% para 1,9%. A projeção, que leva em conta uma atividade econômica mais forte do que o esperado no primeiro trimestre do ano, consta no primeiro Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de 2024, divulgado ontem pelo Banco Central.
De acordo com o documento, "sob a ótica da oferta, esperam-se recuo da agropecuária, após alta expressiva em 2023, e crescimentos de magnitudes semelhantes entre si e não muito distantes dos ocorridos em 2023, para indústria e serviços". A perspectiva vem abaixo das projeções do Ministério da Fazenda, que prevê expansão de 2,2% para o PIB este ano. Já os analistas de mercado, segundo o último Boletim Focus, esperam crescimento de 1,85%.
Para o consumo das famílias, a previsão de crescimento foi mantida em 2,3% pelo BC. A estimativa de consumo do governo passou de 1,1% para 1,9% e a da taxa de investimentos, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), subiu para 1,5%, ante 1% da projeção anterior. O relatório aponta também para um mercado de trabalho com dinamismo maior do que o esperado, com desemprego recuando e salários crescendo em ritmo mais elevado.
O Banco Central ampliou sua projeção de deficit em conta corrente para o Brasil em 2024 de US$ 35 bilhões para US$ 48 bilhões (ou 2,1% do PIB). "O cenário segue favorável, caracterizado por superavit elevado na balança comercial, ainda que menor do que em 2023; deficit moderado na conta de transações correntes; e investimento direto no país (IDP) em recuperação, com valor mais do que suficiente para o financiamento do deficit em transações correntes", diz um trecho do documento.
A inflação acumulada em 12 meses é de 4,5%, um recuo em relação ao último trimestre, quando era de 4,7%. Mas a expectativa ainda é de que a inflação termine o ano em 3,5%, dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), outra boa notícia. O indicador tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, o indicador pode ficar entre 1,5% e 4,5%.
"Copom não está dividido"
Em coletiva de imprensa, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, rebateu críticas contra a política monetária. "Existe uma avaliação, tanto local quanto internacional, de que o trabalho do Banco Central foi bem feito no sentido de promover uma convergência da inflação com custo baixo para sociedade", afirmou.
O chefe da autoridade monetária disse ainda que levar a inflação à meta é uma "missão". "Essa missão é estabelecida dessa forma com grande sucesso não só no Brasil, como no resto do mundo, porque a inflação alta é uma coisa que gera um desequilíbrio muito grande de renda e é uma coisa que afeta muito mais a camada da população mais carente", declarou.
André Colares, CEO da Smart House Investments, aponta que a probabilidade de ultrapassar a meta de inflação este ano é de 19%, conforme o RTI, e a chance de superar o limite inferior da meta este ano é de 4%. "A probabilidade de ultrapassar o limite superior da meta este ano é de 17%, o que é positivo", ressaltou.
Para o executivo, apesar da persistência das políticas monetárias restritivas, o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) mostra que a atividade econômica global e os mercados de trabalho mantêm-se resilientes. "No entanto, existe o risco de que a inflação, especialmente os índices subjacentes, permaneça elevada por um período prolongado. Os bancos centrais continuam enfatizando a importância de manter as taxas de juros elevadas até que haja confiança de que a inflação convergirá para as metas estabelecidas", frisou.
Diante do aumento da incerteza na conjuntura atual, Colares acredita ser necessário adotar uma abordagem serena e moderada na condução da política monetária. "Em vista disso, espera-se uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic (taxa básica de juros) na próxima reunião, o que é considerado apropriado para manter a postura contracionista necessária para conter a inflação. O controle da inflação é crucial para promover o crescimento econômico e a geração de empregos, além de preservar o poder de compra dos brasileiros", avaliou.
Ritmo e caminho
Campos Neto afirmou ontem que o Comitê de Política Monetária (Copom) não está dividido e que a última decisão foi unânime. A ata da última reunião, que reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 p.p., para 10,75% ao ano, apontou incertezas sobre a manutenção dos cortes.
Segundo ele, o que houve na reunião foi um questionamento de qual tipo de ritmo e caminho. "O Copom não está dividido, a decisão sobre o corte da Selic foi unânime. Tentamos abrir na ata um debate sobre visões futuras, em que existiam opiniões diferentes", disse.
"É importante dizer que a gente entendeu que existia uma incerteza maior sobre alguns temas que estávamos debatendo e pessoas diferentes tinham opiniões diferentes", explicou o banqueiro central. "Alguns membros argumentaram que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir", emendou.
Ao ser questionado sobre os próximos passos da autoridade monetária acerca da Selic, o presidente do BC reforçou que o comitê não se guia por precificações do mercado e explicou que a posição, manifestada por alguns diretores da autarquia, sobre a necessidade de reduzir o ritmo do ciclo de flexibilização monetária, não se refere especificamente à próxima reunião do Copom, marcada para junho, nos dias 18 e 19.
Autonomia do BC
Na ocasião, Campos Neto também voltou a defender a maior autonomia da autoridade monetária, que está em discussão no Legislativo por meio da PEC 65/2023. O tema foi recentemente alvo de polêmicas, por isso, o chefe do BC disse ter combinado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não abordaria o tema na imprensa, para evitar ruídos.
"Esse tema não é para ser tratado na mídia, foi o que combinei com o ministro Haddad. É um tema técnico", apontou. "É importante dizer que o Banco Central não encaminhou a PEC. Quem encaminhou a PEC foi o Legislativo. Esse projeto é do Legislativo", enfatizou.
O texto em questão determina que o BC deixe de ser uma autarquia federal com orçamento vinculado à União e passe a ser uma empresa pública com total autonomia financeira e orçamentária. O tema é o mais novo capítulo do embate com o governo, que já demonstrou incômodo com a independência da autoridade monetária.
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