Conflitos

Os caminhos para a paz

A conquista da paz passa também por ações governamentais, políticas públicas que proporcionem condições mínimas de vivência digna, com perspectiva de futuro para as novas gerações

ISAAC ROITMAN
Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2022 – 2030 O Brasil e o Mundo que Queremos

O poeta e pacifista russo, Evgueni Evtuchenko (1932 - 2017) em seu poema "Eu gostaria", assim se expressou: "Eu gostaria de nascer em todos os países, sem passaportes / eu gostaria de ter felicidade, mas não às custas dos aprisionados / eu gostaria de estar em todas as eras, iria então desconcertar toda a História para deixá-la atordoada...".

Na década de 80 do século passado, o poeta visitou a Universidade de Brasília, apresentando um recital no auditório da Reitoria. Na ocasião falou que ficaria feliz em ver todas as fronteiras extintas e todos os passaportes queimados, o que causaria um grande pânico entre os diplomatas. A utopia de não termos países, mas, sim, uma sociedade planetária universal é baseada no desejo de termos uma verdadeira paz na sociedade humana. Existem registros de guerras há cerca de 4.500 anos. Nas guerras mais recentes, como consequência de avanços tecnológicos, as máquinas de matar fez com que os conflitos fizessem muito mais vítimas em menos tempo, aumentando as mortes e o sofrimento da população civil.

Esse cenário de horror ameaça as futuras gerações se não revertermos esse quadro por meio da implantação de uma cultura de paz planetária. Paz não é apenas a ausência de guerra entre os países. Paz é garantir que todas as pessoas tenham moradia, alimento, roupa, educação, saúde, cultura, amor e compreensão. Paz é cuidar do ambiente em que vivemos, garantir a qualidade da água, o saneamento básico, a despoluição do ar, e o bom aproveitamento da terra. Paz é buscar serenidade dentro da gente para viver com alegria.

A verdadeira paz deve ser iniciada por meio de uma construção individual, pois o coletivo é fruto do individual. Ela só é possível se tivermos indivíduos pacíficos, tolerantes, desprovidos de preconceitos e atitudes discriminatórias. Paralelamente a indústria de armamentos precisa ser extinta. Enquanto tivermos países armados, em um mundo competitivo, onde se disputa o domínio geopolítico, visando o domínio comercial, pouco se importando com o sofrimento das populações, as guerras serão consequências inevitáveis.

A conquista da paz passa também por ações governamentais, políticas públicas que proporcionem condições mínimas de vivência digna, com perspectiva de futuro para as novas gerações, criação de emprego para a população jovem e adulta, pela não discriminação do idoso, da mulher, ou do diferente, incluindo nessas diferenças a religião, a raça, a opção sexual, o deficiente, o obeso, o índio, o estrangeiro. Há que ser percebido que a diferença enriquece, acrescenta e aprimora. Ao longo da história, vimos que os conflitos armados causam enormes prejuízos econômicos, sociais e humanos.

Guerras e conflitos violentos resultam na perda de vidas, na destruição de infraestruturas e na desestabilização de países e regiões inteiras. Além disso, a falta de paz gera um clima de insegurança e medo, afetando diretamente a qualidade de vida das pessoas. A paz é uma jornada interior, e cada um de nós pode contribuir para um mundo mais pacífico através de nossas escolhas e atitudes. Ela proporciona um senso de equilíbrio e tranquilidade, permitindo lidar de forma mais eficaz com os desafios da vida. Quando conquistamos a paz interior, somos capazes de transmitir amor, compreensão e empatia com os outros.

É fundamental que na educação formal e informal de nossas crianças e jovens, seja feita a promoção de valores éticos e de direitos humanos. Na história os grandes líderes pacifistas nos ensinam que a não violência deve ser implantada, o que exige exercício contínuo e incansável do diálogo. Infelizmente vivemos uma época em que carecemos de bons modelos éticos para guiar as nossas ações. Devemos então buscar nas mensagens de grandes líderes do passado a inspiração necessária para fazer a nossa parte na construção da cultura de paz. Entre outros, Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr., Dalai Lama, Albert Einstein, Nelson Mandela, Yitzhak Rabin, Madre Teresa de Calcutá e Amoz Oz. A jornada para a conquista da paz permanente é longa e precisa ser acelerada. Todos nós temos um papel importante a desempenhar na conquista de uma verdadeira e permanente paz. Lembremos o pensamento de Mahatma Gandhi: "Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho". 

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