A Casa da Moeda do Brasil voltou a ser procurada para produzir ouro como lastro de ativos financeiros, uma atividade da qual a empresa se afastou no ano passado, entre outros motivos, por falta de segurança em relação à legalidade da matéria prima. A instituição informou ao Correio que, atualmente, "não tem contrato com empresas para confeccionar ouro". Essas empresas são as distribuidoras de títulos e valores mobiliários (DTVMs), instituições autorizadas pelo Banco Central para comercializar o metal.
Paralelamente, a Casa da Moeda se esforça para conscientizar o mercado e as autoridades sobre a necessidade de intensificar a repressão à extração ilegal e aprimorar a legislação do setor. Ainda disponibiliza como serviço uma solução tecnológica que certifica origem e processos, e permite rastrear o caminho do metal precioso desde a mina até o destino final.
- Empresas organizam mineração em torno de boas práticas socioambientais
- USP desenvolve ferramenta para identificar ouro ilegal, anuncia Jungmann
"Muito mais do que produzir ativos financeiros, hoje, a nossa principal missão como empresa de Estado é oferecer todo o know-how da Casa da Moeda. É oferecer uma solução que já funciona na Suíça, por exemplo, e implantar isso aqui no Brasil para que empresas não sofram com a concorrência desleal, que só faz sangrar o mercado", disse o diretor de Inovação e Mercado da instituição, Leonardo Abdias.
A empresa estatal atua no mercado de ouro há mais de 300 anos. "O início foi refinando, fundindo e transformando o ouro em valor, em moeda. Hoje, o meio circulante é outro, com o tempo tudo mudou. Mas esse mercado de ouro continua na essência da nossa missão. O que era cunhar moeda e botar em circulação se transformou em produção de ativo financeiro", explicou o executivo.
Ouro matogrossense
A Casa da Moeda está em negociação com uma distribuidora de títulos e valores mobiliários (DTVM) de Cuiabá, que quer contratar a estatal para transformar em ativo financeiro o ouro que compra de uma rede de garimpeiros que atuam legalmente na Baixada Cuiabana (MT). A Fênix espera formalizar a parceria com a Casa da Moeda até o fim do ano. Atualmente, 100% da produção da distribuidora cuiabana são exportados como mercadoria para o exterior.
Para lastrear produtos do mercado financeiro ou ser vendido como mercadoria, o ouro passa por várias etapas de extração, beneficiamento e comercialização. A Fênix DTVM aposta no processo que montou com pequenos e médios garimpeiros mato-grossenses, em que todas as etapas são vistoriadas, auditadas e certificadas, inclusive por empresas externas.
Nas minas, as boas práticas socioambientais são rigorosamente controladas. A água usada na planta de beneficiamento é de reuso, captada no fundo das próprias minas, sem descarte no meio ambiente. O mercúrio usado para aglutinar as partículas de ouro é quase totalmente reciclado, em índice que passa de 98%.
"Quando o produtor vende para um posto de compra, ele entrega o ouro físico e, também, faz a troca de custódia dos selos de origem. Esses selos de origem vão acompanhando o ouro (em uma cadeia chamada de blockchain, que não pode ser quebrada) até chegar na DTVM, que é a instituição que vai refinar esse ouro e produzir uma barra, por exemplo", explica Abdias. Na Casa da Moeda, todo o caminho do ouro é conferido e o material é fundido novamente, para receber uma espécie de carimbo físico, que fica impresso no lingote de ouro.
Medalhas
Apesar de as moedas de ouro e prata não serem mais produzidas como meio circulante, a Casa da Moeda mantém a tradição de cunhar esse tipo de peça, chamada tecnicamente de medalha. Geralmente, são produzidas em pequena escala para marcar alguma comemoração. Com a deterioração do mercado de ouro nos últimos anos, contaminado pela crise humanitária dos ianomâmis, em Roraima, e a revelação do poder destruidor do garimpo clandestino em terras protegidas, aumentou a exigência de joalheiros e investidores por ouro de origem legal, controlada e certificada.
De acordo com Leonardo Abdias, a Casa da Moeda tem interesse em retornar a esse mercado, que está "na essência" da instituição, e espera firmar contratos que viabilizem a retomada dos lançamentos. As medalhas comemorativas cunhadas pela empresa são disputadas por colecionadores e pequenos investidores, que fazem questão de ter a posse da peça física de ouro.
O último lançamento de medalhas de ouro se deu em dezembro de 2021, com uma série de 100 unidades em homenagem ao ex-jogador Zico. "A Casa da Moeda está pesquisando empresas do segmento no mercado brasileiro que atendam às diretrizes e à legalidade da extração de ouro", confirmou ele.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br