A semana com mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no radar e a expectativa que permeia grande parcela do mercado é que o Banco Central deve elevar a taxa de juros atual de 12,75% para 13,25%. Um aumento de 0,5 ponto percentual.
A reunião ocorre na semana seguinte em que foi divulgado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de maio, que indicou uma desaceleração da inflação. Alguns analistas preveem que essa tendência seja mantida nos próximos meses, o que pode influenciar a taxa de juros do BC. Após aumentos sucessivos, o movimento esperado por economistas é que, nas próximas reuniões do Copom, os brasileiros já poderão perceber uma estabilização na taxa Selic e, futuramente, uma queda para um valor de juros de um dígito.
O professor de economia do Ibmec-DF William Baghdassarian prevê que a taxa deve se estabilizar em 13,25%, mas indica que os efeitos de 2021, quando a taxa ainda era de 2%, ainda são sentidos na economia brasileira. Para ele, a decisão de diminuir drasticamente os juros em 2020 foi precipitada, visto que a pandemia de covid-19 já dava sinais de aumentar a inflação.
"Na minha visão, ele (Banco Central) baixou demais (a taxa). É aquela história do desespero. Você está tão desesperado para reaquecer a economia, que você entrega tudo. Só que, na hora que chegou o momento seguinte, você acabou tendo que subir demais", pontua o professor.
"O modelo que o Banco Central utiliza foca na inflação, não do mês atual, mas na inflação de 18 a 24 meses à frente. Então, é como se eu tivesse uma certa doença e eu tomasse um remédio hoje, mas a gente soubesse que o efeito dele só vai se dar a partir de 18 meses à frente. Então por isso que é difícil você acertar um momento da entrada e o valor da subida de juros, porque você acaba tendo que acertar lá na frente", explica Baghdassarian.
Pessimismo
Alguns economistas já enxergam o cenário futuro com certo pessimismo. Para o economista-chefe da Gladius Research, Benito Salomão, a taxa Selic deve atingir o patamar de 14,25%, e passar por um longo período de estabilidade. A queda, na visão dele, viria apenas no fim do próximo ano ou no início de 2024. "Nós teremos ainda um longo caminho a percorrer nessa desinflação e, na minha opinião, nós teremos taxas de juros em dois dígitos ainda por pelo menos um ano à frente", analisa.
Mesmo com uma série de aumentos na taxa de juros, para conter a inflação, o IPCA continua subindo ao longo do ano. Especialistas dizem que o cenário de instabilidade política, gerado principalmente pela troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além da alta probabilidade de um segundo turno acirrado nas eleições deste ano, prejudica a estabilidade econômica do país.
"Nós estamos presenciando uma disputa política todos os dias. Instituições sendo ameaçadas, instituições do estado democrático de direito. Então, tudo isso está muito maior e por isso que a taxa de juros tem subido", analisa o economista Felipe Queiroz.
"Quando um país tem uma instabilidade política muito grande e os agentes econômicos não têm certeza de que as regras do jogo serão mantidas, então, eles têm uma tendência a não aplicar os recursos nesse determinado país. Esse é o fator que faz com que a taxa de câmbio se mantenha ainda no patamar que está mesmo com a taxa de juros", completa.
Para tentar controlar a inflação, que se intensifica com o clima político desfavorável, o Banco Central então iniciou em 2021 uma série de aumentos na taxa de juros. Uma elevação de mais de 10 pontos percentuais, que dá indícios de recuo nas próximas reuniões. Para Salomão, o BC age sozinho para conseguir estabilizar a economia, que, na visão do professor, poderia estar menos volátil, não fosse a instabilidade política.
"Talvez nós poderíamos ter uma inflação mais baixa se nós não tivéssemos tido períodos de extrema volatilidade na taxa de câmbio, e que produziram um efeito inflacionário perverso na nossa economia, por via dos preços dos produtos importados. Então, nós temos que considerar que o Banco Central, embora ele esteja agindo bem para tentar controlar a inflação, ele está agindo sozinho", pontua.
* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza