O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, ontem, dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). O levantamento apontou um crescimento de 1,7% no volume de março. O resultado surpreendeu positivamente o mercado, que esperava alta menor, de 0,8%. Assim, analistas atualizaram as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
A PMS confirma que a reabertura da economia tem ajudado na retomada dos serviços. Na média, esse setor está 7,2% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Conforme os dados do IBGE, as cinco categorias investigadas registraram resultados positivos, com destaque para transportes — principalmente, os relacionados ao varejo e à agricultura —, que avançaram 2,7%.
Mas a retomada ainda é desigual. O segmento mais afetado pela pandemia, o de serviços prestados às famílias — que inclui hotéis e restaurantes e é o que mais emprega —, registrou a segunda maior alta entre as cinco categorias no mês de março, de 2,4%. Contudo, essa atividade ainda está 12% abaixo do patamar pré-covid.
Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembrou que um dos principais fatores para que os serviços prestados às famílias demorem mais para se recuperar é justamente a inflação, que está elevada e acima de 12% no acumulado em 12 meses até abril.
"Os dados do setor de serviços de março foram bastante positivos, mas, quanto mais os serviços prestados às famílias demorarem para se recuperar, o mercado de trabalho vai ter uma recuperação mais lenta. Com a inflação elevada e bastante disseminada, ainda vai demorar essa atividade voltar a crescer", destacou o economista. Ele lembrou que, como tudo está tudo caro e as famílias cada vez mais endividadas, "as pessoas vão sair menos para viajar ou comer fora de casa".
Revisões
A surpresa positiva com os dados da PMS provocou uma nova onda de revisões para o PIB deste ano, mas analistas alertam que, por conta da inflação persistente e da perspectiva de um aperto mais forte na política monetária do Banco Central, as previsões do PIB de 2023 tendem a piorar. O Credit Suisse, por exemplo, revisou a previsão de crescimento do PIB deste ano de 0,2% para 1,4%. E, para o de 2023, rebaixou a estimativa de alta de 2,1% para 0,9%, diante de uma expectativa de maior pressão inflacionária e da taxa básica de juros (Selic) chegando a 14% ao ano em agosto.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, adiantou que pretende revisar a projeção atual do PIB deste ano, em 1%, para algo próximo de 1,5%. "O bom desempenho dos serviços, ao lado do comércio e indústria, reforça o cenário de um primeiro trimestre mais forte, justificando rever o PIB deste ano para cima", explicou. Para 2023, entretanto, ele prevê que o PIB deverá registrar alta em torno de 0,20%. (RH)