Beneficiada pelo crescimento da receita com a venda de combustíveis, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 44,6 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 3.718% em relação ao resultado de R$ 1,16 bilhão obtido no mesmo período do ano passado, durante a pandemia. Para o presidente Jair Bolsonaro (PL), os altos ganhos da estatal são "um estupro", segundo disse, ontem, durante a live que faz nas quintas-feiras nas redes sociais.
Durante a transmissão, o chefe do Executivo pediu, com a voz alterada, que a estatal não aumente mais os preços dos combustíveis. "O Brasil, se tiver mais um aumento (no preços dos combustíveis), pode quebrar. E o pessoal da Petrobras não entende, ou não quer entender. A gente sabe que há leis. Mas a gente apela à Petrobras para que não aumente os preços", disse.
"Sei que tem acionistas", continuou Bolsonaro. "Mas quem são os acionistas? Fundos de pensão dos Estados Unidos. Nós estamos bancando pensões gordas nos Estados Unidos", afirmou, sem mencionar que a União é a maior acionista da empresa, com 37% do capital total e 50,28% das ações com direito a voto e, portanto, se beneficia dos altos lucros da companhia. "Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais os preços dos combustíveis", concluiu.
Em carta a acionistas, o presidente da estatal, José Mauro Coelho, disse que "a Petrobras está distribuindo os frutos de sua geração de valor para a população brasileira". Ainda ontem, o conselho de administração da empresa aprovou a distribuição de R$ 48,5 bilhões em remuneração aos acionistas, o equivalente a R$ 3,71 por ação ordinária ou preferencial. "Adicionalmente, apenas no primeiro trimestre, recolhemos o total de R$ 69,9 bilhões em tributos e participações governamentais, um aumento de 95% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado", informou o diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araujo Alves.
Escalada
O principal motivo do lucro elevado da estatal é a escalada do preço do petróleo no mercado internacional, impulsionada pela guerra na Ucrânia. Desde janeiro, a estatal reajustou os preços do diesel e da gasolina duas vezes nas refinarias para manter a paridade com as cotações internacionais. O preço do barril do petróleo no exterior subiu de US$ 60,90, no primeiro trimestre do ano passado, para US$ 101,40, em média, nos três primeiros meses de 2022, uma alta de 66,5%.
Mahatma dos Santos, analista do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), critica a opção pela paridade de preços da companhia com o mercado internacional. "A manutenção dessa política revelou-se, mais uma vez, elemento central da estratégia de geração de valor da companhia, a despeito dos seus impactos nefastos no custo de vida dos brasileiros", disse Santos.