O Brasil despencou na preferência dos investidores. Em 2013, o país era o terceiro na lista dos mais interessantes para os executivos de empresas de investimentos. Agora, ocupa a 10ª posição, sendo considerado estratégico na opinião de apenas 5% dos entrevistados de pesquisa da consultoria PwC, que realiza estudos anualmente com CEOs globais.
No ano passado, o Brasil estava na 8ª posição, mas foi superado por Canadá e Austrália. Em primeiro lugar no levantamento estão os Estados Unidos (41% das respostas), seguidos por China (27%) e Alemanha (18%). Os motivos para o desencanto com o Brasil estão relacionados à baixíssima expectativa de crescimento econômico, ao cenário político local e à questão ambiental — apenas 27% das empresas nacionais adotaram a meta de emissão de carbono zero. Assim, o país perdeu relevância no mercado, avalia o presidente da PwC, Marco Castro.
Na visão de 69% dos participantes do estudo, a instabilidade macroeconômica é a principal preocupação, além de riscos cibernéticos (50%). As altas taxas de desemprego e o temor de instabilidade ainda maior com a aproximação das eleições também afetam o desempenho do país. A análise faz sentido, visto que opiniões coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central, por exemplo, preveem crescimento para 2022 de cerca de apenas 0,29% — número que vem caindo desde os primeiros dias do ano.
A situação também tem levado empresas estrangeiras a deixar o país. É o caso da montadora Ford, das operações da Mercedes-Benz na cidade de Iracemápolis (SP) e da produção de TVs, áudio e câmeras da Sony. Apesar da cena geral negativa, um setor segue otimista: o de private equity. A postura tem a ver com o grande número de fusões e aquisições no ano passado, que movimentaram mais de US$ 5,6 trilhões. No Brasil, o aumento nesse tipo de operação foi de 52%.
Vale lembrar, no entanto, que dados do FMI e de outras grandes consultorias e instituições financeiras apontam que o Brasil deve ter o pior desempenho entre 12 países emergentes, com previsão de alta de 1,5% no PIB, contra 5,1% para os outros 11.
O economista William Baghdassarian explicou que esses investidores são relevantes porque temos um problema de financiamento externo. "Exportamos mais do que importamos, mas, quando pegamos toda o balanço, precisamos de recursos externos para fechar a conta. Os valores são elevados, de US$ 50 bilhões a US$ 80 bilhões, dependendo do ano."
Além disso, desde 2014 o país não tem superávit nas contas públicas. "Isso resulta numa capacidade cada vez menor do país em fazer investimento público", destaca Baghdassarian. "Aqui, há muito tempo não temos episódios, por exemplo, de repúdio de dívida. Porém, sistematicamente o governo muda as regras do jogo, tornando a economia não amigável para investidores", comentou.
O economista ressalta que, em vez de trazer estabilidade e confiança para a economia, o presidente da República acaba gerando muita incerteza. "No 7 de setembro do ano passado, ele juntou milhares de caminhoneiros em Brasília com a expectativa de que invadiriam o Supremo", exemplificou Baghdassarian. Para ele, o investidor não vai ser "maluco" de investir em um país que tenha essas ações.
*Estagiária sob a supervisão
de Odail Figueiredo