Faltando mais de um ano para o fim do primeiro mandato de Jair Bolsonaro (PL), o ministro da Economia, Paulo Guedes, não consegue mais recompor cargos estratégicos da pasta com nomes de peso do mercado financeiro. Com isso, tem usado soluções caseiras para viabilizar a reestruturação do ministério, que será anunciada em breve.
"Em tempos normais, esse esvaziamento é natural. Muitos entram no governo para adquirir experiência de Estado, porque o mercado busca esse tipo de conhecimento, e depois saem. Mas o governo Bolsonaro tem uma característica de confusão que não atrai mais os profissionais do mercado", avaliou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Estão previstas a criação de uma nova secretaria e um cargo de adido no exterior com o objetivo de atrair investidores ao país. Para Melo, as mudanças não surtirão efeito, porque não há legado na área econômica que melhore a imagem do país.
Segundo o analista, Guedes perde credibilidade ao insistir que o Brasil "está decolando. "O país está em recessão técnica e, se olharmos para o que serão os quatro anos de mandato, o sentimento é de fracasso", destacou. Ele acrescentou que, é natural todo ministro ser otimista, mas "não dá para inventar", pois o PIB do Brasil teve desempenho pior que o de países vizinhos, como Colômbia e Chile.
A nova Secretaria Especial de Estudos Econômicos (S3E), será chefiada pelo secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. O economista Aloísio Araújo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), ex-assessor de Guedes, foi convidado, mas declinou. Além da estrutura da SPE, a nova secretaria vai abrigar o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE).
As mudanças passam pelas saídas do secretário especial de Produtividade e Competitividade (Sepec), Carlos Da Costa, e do secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto, que devem ir para o exterior. No caso de Da Costa, que vai chefiar o Escritório de Representação do ministério, em Washington, o cargo ainda precisa ser criado.
A pasta afirma que a nova secretaria especial e o novo cargo nos Estados Unidos serão criados "sem aumento de custos". Mas a especialista em contas públicas Juliana Damasceno, da Tendências Consultoria, acredita que a equipe econômica está contando com o aumento da receita devido à inflação elevada, neste ano, sem ter uma contrapartida efetiva. "O governo vai consumir uma folga conjuntural que não vai se repetir", lamentou.
A substituição de Da Costa e Tostes Neto, que vai para Paris trabalhar junto à OCDE, também foi caseira. A chefe da assessoria especial, Daniella Marques Cosentino, e o auditor Julio Cesar Vieira Gomes, serão os substitutos, respectivamente. O escolhido por Guedes para o lugar de Daniella, o ex-deputado Alexandre Baldy (PP), foi vetado por Bolsonaro por ter trabalhado no governo de João Doria (PSDB).