Depois de o governo e a equipe econômica comemorarem publicamente durante meses os resultados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), como se as estatísticas de contratação mostrassem sucessivos recordes em 2020, fase mais aguda da pandemia pela covid-19, a realidade se impôs. No entanto, ontem, o Ministério do Trabalho revisou os dados do Caged, que adotou nova metologia, e demonstrou que o saldo verdadeiro em empregos formais criados no ano passado foi quase a metade do divulgado. Com isso, as novas vagas com carteira assinada caíram de 142.690 para 75.883.
De acordo com o ministério, a "pequena diferença" é consequência de declarações de empresas fora do prazo e do processo de transição das declarações para o eSocial — foram incluídos trabalhadores temporários, que não eram contabilizados antes e isso torna os resultados incomparáveis. Em nota, o órgão informou que a revisão "reflete, na verdade, uma mudança no resultado bruto de admissões e demissões — apenas 3,6% de demissões a mais do que o informado no fim de 2020 e 1,8% de admissões a mais do que o informado no fim de 2020. Essa pequena diferença se deve a declarações fora do prazo pelas empresas". Tradicionalmente, os dados do Caged podem ser atualizados até 12 meses após a data da movimentação (admissão ou demissão), segundo a pasta.
Atividade fraca
Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, assinalou que os dados corrigidos "se ajustam à realidade que vivemos, com atividade fraca, juros e inflação em alta". Ele lembrou que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), criticado pelo governo por apresentar dados divergentes, constatou leve queda na taxa de desemprego, para 13,7%. "Para 2021, o crescimento econômico deve ficar em 5% e, em 2022, em 0,5%. Mas o emprego continuará nos patamares atuais", alertou.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust, é natural que, em uma fase de desaceleração do crescimento, com a combinação de aumento dos juros, se tenha uma desaceleração do emprego formal. "Lembrando sempre que o saldo do Caged no final do ano costuma ser negativo, é sazonal. No entanto, a tendência agora é de que a média de abertura de vagas formais no primeiro trimestre de 2022 seja menor que a desse ano. Mas vai cair menos, percentualmente, do que foi na pandemia", disse.