O Orçamento de 2021 nem sequer foi aprovado e o Ministério da Economia apontou a necessidade de cortar R$ 17,5 bilhões em despesas para cumprir o teto de gastos — regra que limita o avanço das despesas à inflação. Além de ser cogitada a retirada de recursos da Previdência e do auxílio-doença para direcionar a ações como obras e outros gastos locais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entrou na mira da supressão de verbas e alertou para os riscos de um corte de R$ 1,7 bilhão feito na verba do Censo Demográfico, a principal pesquisa estatística do país.
A sondagem, que estava prevista originalmente para o ano passado, mas foi adiada devido à pandemia do novo coronavírus, visitaria aproximadamente 72 milhões de domicílios, em apenas três meses. Mais de 200 mil pessoas trabalhariam na coleta de informação e organização de dados. A notícia da redução no orçamento causou revolta nos funcionários do instituto.
“O país necessita das informações geradas pelo Censo, que são essenciais para subsidiar políticas públicas em diversas áreas, especialmente em um contexto de pandemia, em que esses dados são estratégicos para o avanço da vacinação e para o planejamento de infraestrutura em saúde”, afirmou o IBGE, por meio de nota.
Como Haiti e Líbia
Em manifesto, ex-presidentes do instituto pedem que o Censo previsto para este ano seja mantido. Assinaram o documento Edmar Bacha, Eduardo Nunes, Eduardo Augusto Guimarães, Edson Nunes, Eurico Borba, Sérgio Besserman Viana, Simon Schwartzman e Silvio Minciotti. “Instamos aos senhores senadores e deputados, membros da Comissão Mista do Orçamento, que preservem os recursos do Censo e não deixem o país às cegas”, salienta o manifesto, acrescentando que, sem o levantamento, o Brasil se juntará a Haiti, Afeganistão, Congo e Líbia, que estão há mais de 11 anos sem informação estatística adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais.
Em artigo publicado no jornal O Globo, a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, e o diretor de Pesquisas, Eduardo Rios-Neto, defenderam a manutenção do orçamento. Eles ressaltaram que o censo é crucial não apenas para o pacto federativo, mas também para a geração de dados que permitam solucionar os desafios do país: “Defendemos o cumprimento da nossa missão enquanto gestores de um instituto de estatística, que tem como uma das principais atribuições a realização do Censo Demográfico. Sem o Censo em 2021, as ações governamentais pós-pandemia serão fragilizadas pela ausência das informações que alicerçam as políticas públicas com impactos no território brasileiro, particularmente em seus municípios”, observou o texto.
Não é a primeira vez que o Censo tem o orçamento reduzido. Em 2018, o projeto foi orçado pelo IBGE em R$ 3,4 bilhões, mas foi diminuído para R$ 2,3 bilhões, em 2019, devido às dificuldades do governo em fechar as contas. No fim de 2020, a verba foi novamente reduzida, para R$ 2 bilhões.