
Sob um forte esquema de segurança, a cidade de Roma aguarda líderes globais e representantes diplomáticos para o funeral do papa Francisco, que morreu na segunda-feira, aos 88 anos. Ao menos 130 delegações estrangeiras estão confirmadas para a celebração de sábado, de acordo com o Vaticano, que também anunciou a presença de 50 chefes de Estado e 10 soberanos. Luiz Inácio Lula da Silva, Donald Trump, Javier Milei e o príncipe William são alguns dos nomes esperados. Católico devoto, o ex-presidente norte-americano Joe Biden também participará da cerimônia. Ele e o pontífice tinham uma relação próxima.
Desde quarta-feira, quando o caixão com o corpo do papa chegou à Basílica de São Pedro, todos os acessos ao Vaticano e as ruas adjacentes foram fechados. Policiais italianos, carabineiros e a gendarmaria (força de segurança) do Estado católico fazem patrulhamentos e revistas constantes. Estima-se que 2 mil agentes estejam a serviço permanente na área.
Além das medidas terrestres, foi delimitada uma zona de exclusão aérea sobre Roma, que funcionará 24 horas por dia. Também foram impostas unidades anti-drones com sistemas de interferência de sinal para evitar qualquer atividade suspeita. Aviões de combate estão em alerta para intervir, se necessário, e atiradores de elite foram estrategicamente posicionados nos telhados ao longo da Via della Conciliazione e da colina Gianicolo. Helicópteros da polícia sobrevoam constantemente o centro histórico da capital italiana.
Segundo Pierfrancesco Demilito, chefe da assessoria de imprensa da Proteção Civil italiana, entre 2 mil e 2,5 mil voluntários foram mobilizados para ajudar os 250 mil fiéis esperados na Praça de São Pedro. O número foi estimado com base na participação popular do funeral de Bento XVI, em 2023.
A cerimônia fúnebre de Francisco, que começará com uma missa de corpo presente na praça do Vaticano e se encerrará com o sepultamento na Igreja de Santa Maria Maggiore, coincide com o início do Jubileu, o ano sagrado da Igreja Católica. A logística é particularmente complicada devido às obras de infraestrutura que já estavam afetando a cidade e à sobrecarga dos sistemas de transporte.
Homenagem
Ao menos 90 mil pessoas percorreram a nave central da Basílica de São Pedro entre as 11h de quarta-feira e as 19h de ontem, segundo o serviço de imprensa do Vaticano. Milhares continuam a passar pelo templo barroco para homenagear o jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio.
Entre os visitantes, os jogadores do clube AS Roma e familiares do pontífice foram se despedir de Francisco. Mauro Bergoglio, um dos sobrinhos de Francisco, viajou da Argentina para Roma graças a uma doação privada. "Ofereceram-me e aceitei porque era a única maneira que eu tinha de me despedir", disse o filho do falecido Oscar Bergoglio, irmão do papa, à Rádio Mitre Argentina. Mauro, enfermeiro que vive em Buenos Aires, declarou na segunda-feira em um programa de televisão que gostaria de viajar, mas que não tinha condições financeiras. Uma empresária doou as passagens.
A capela-ardente — ou seja, o local onde o corpo está exposto — foi fechada por apenas duas horas na madrugada de quinta-feira, e o Vaticano afirmou que, dependendo da afluência, poderia prolongar novamente sua abertura. Os fiéis têm até a noite de sexta-feira para prestar a homenagem ao papa. Às 20h30, o simples caixão de madeira revestido de zinco será fechado e preparado para o funeral.
Após a missa, onde, além dos fiéis, estarão membros do Vaticano, os chefes de Estado e as delegações estrangeiras, ocorrerá o enterro na basílica mariana. Desde Leão XIII, em 1903, todos os papas foram sepultados na Basílica de São Pedro. Devoto da Virgem Maria, o papa Francisco explicitou, em testamento, o desejo de que seu corpo fosse depositado na igreja de Santa Maria Maggiore.
Nascido na capital argentina em 1936, o papa liderou a Igreja Católica desde março de 2013 com um pontificado reformista, centrado nas periferias geográficas e sociais. Como demonstração de seu compromisso com os mais necessitados, um grupo de pessoas pobres estará presente no sábado na basílica mariana, com rosas brancas nas mãos, quando o féretro papal chegar para o sepultamento, informou o Vaticano. O público geral poderá prestar homenagens a partir de domingo.
Conclave
O Vaticano descartou, até o momento, decidir a data de início do conclave para manter o foco no funeral. A eleição acontecerá na emblemática Capela Sistina, em um prazo de entre 15 e 20 dias a partir da morte. Mais de dois terços dos 135 cardeais eleitores foram nomeados pelo falecido papa.
Os cardeais decidiram na quarta-feira que os tradicionais nove dias de luto no Vaticano após a morte de um pontífice — os Novemdiales — começam amanhã. O cardeal argentino Víctor Manuel Fernández celebrará a cerimônia do sexto dia.
Do latim cum clave (com chave), o conclave é um ritual ultrassecreto, onde os cardeais votantes ficam completamente isolados do resto do mundo. A primeira eleição papal do tipo ocorreu em 1276 que até hoje conserva tradições. Uma das mais emblemáticas é a fumaça, que sai da chaminé do Vaticano. No caso de eleição do pontífice, o resultado da queima das cédulas é branco. Caso contrário, a chamada fumata é preta, o que exige uma nova votação.
Saiba Mais
Simplesmente Franciscus
Franciscus — em latim, Francisco. Essa será a única inscrição na lápide do papa, que morreu na segunda-feira, aos 88 anos, e será enterrado amanhã na Basílica de Santa Maria Maggiore. O desejo foi expresso pelo pontífice em seu testamento, onde também declarou que gostaria de que seu túmulo ficasse na igreja mariana, em Roma, em vez de na tradicional Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Em uma breve declaração acompanhada de uma foto do projeto, o Vaticano especifica que o mármore usado vem da Ligúria, uma região no noroeste da Itália de onde vêm alguns dos ancestrais do pontífice argentino. A lápide também contará com uma reprodução da cruz peitoral usada por Francisco em vida. A sepultura será localizada em um corredor lateral, próxima ao altar do santo italiano de quem Jorge Bergoglio tomou o nome emprestado.
Segundo Marcelo Valle, professor de Relações Internacionais do Ceub, a simplicidade do túmulo de Francisco reforça a imagem que o papa sempre quis transmitir, de humildade e desapego. "Como primeiro papa jesuíta, ele inspirou-se em São Francisco de Assis, conhecido pela vida despojada e humilde. Ao optar por um funeral simples e ao pedir que fosse registrado apenas o nome 'Francisco' sobre sua sepultura, sem menções a títulos ou cargos, o papa deixa uma última lição de humildade, que contrasta fortemente com os ritos tradicionais geralmente destinados aos papas."
Bernini
Santa Maria Maior, uma imponente construção do século 5 no centro de Roma, dedicada à Virgem Maria, é uma das quatro basílicas papais da Cidade Eterna. Ela abriga os túmulos de sete pontífices, incluindo Clemente IX, o último dos quais foi enterrado lá, em 1669. No templo, também fica a sepultura do arquiteto e escultor Bernini, autor das colunatas da Praça de São Pedro.
A igreja foi erguida por volta do ano de 432, a pedido do papa Sisto III na Colina Esquilina e abriga algumas das relíquias mais preciosas do catolicismo. Por isso, é um dos locais de peregrinação mariana mais visitados de Roma.