
Ela nasceu em Brasília. Ele, em Goiânia. Thaís Soares Oliveira e Gabriel Moura Queiroz, ambos com 34 anos, vivem em Washington e decidiram casar-se na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, em 25 de agosto de 2022. Trinta e quatro dias depois, a 8.899km, na Cidade do Vaticano, o casal foi abençoado pelo papa Francisco, durante a tradicional audiência geral de quarta-feira.
"No evento, há a sessão chamada Sposi Novelli, reservada para os recém-casados na Igreja Católica. Quem se casou em até 60 dias pode requisitar um ingresso, gratuitamente. Fizemos o nosso por intermédio do Pontifício Colégio Norte-Americano", contou Gabriel ao Correio.
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O Vaticano pediu que ambos fossem com os trajes usados no casamento. "Foi muito bonito, pois havia vários casais vestidos de noivos. As pessoas nas ruas gritavam 'Auguri!' ('Parabéns!, em italiano), uma atmosfera linda", disse Thaís.
Gabriel e Thaís sentaram-se na primeira fileira. Ele se lembra que, em determinado momento, Francisco passou diante deles e demonstrou bom-humor. "O papa fazia 'joinha' e uma cara, como se quisesse dizer 'Casou bem, hein?'. Ele foi supersimpático com todo mundo", relatou Gabriel. Depois da celebração da audiência geral, formou-se uma fila de convidados e dos recém-casados. "Quando chegou a nossa vez, foi muito surreal. Eu e o Gabriel tínhamos organizado para dizer o que queríamos. Falei com ele em espanhol, pedindo-lhe a bênção. Contei-lhe que somos do Brasil e beijei a mão dele. Foi um momento muito lindo", acrescentou Thaís.
Gabriel admite ter ficado extasiado e que faltaram palavras "para um momento tão único e especial". "Só consegui apertar a mão dele e dar um sorriso. Foi um dos instantes mais especiais de nossas vidas. Saímos abençoados diretamente pelo papa." Para eles, Francisco merece um lugar especial no coração. "É um momento muito triste, mas a gente guarda essa bênção com muito carinho e com muito amor", completou Thaís.
Os olhos do papa
"Perdi um pai", desabafou ao Correio o óptico optometrista italiano Alessandro Spiezia, que tornou-se um grande amigo do papa, após atendê-lo por duas vezes em sua Ótica Spiezia, na Via del Babuino, em Roma. "O Santo Padre veio fazer os seus óculos pela primeira vez em 2015. Depois, me concedeu sua amizade. Ele retornou à ótima em 2024. Ligou-me pessoalmente e disse que precisava fazer um exame de vista. Eu me prontifiquei a ir à residência de Santa Marta, mas ele respondeu que eu não deveria me incomodar e que viria à nossa ótica com Luca, também optometrista", afirmou.
"Ao longo dos anos, ele me deu sua amizade, seu carinho e sua disponibilidade. Todas as vezes que me recebia, sempre tinha um grande sorriso", disse Spiezia. A derradeira ocasião em que se viram foi em 11 de dezembro. "Ele me recebeu com um grupo de pesquisadores, oftalmologistas e empresários do setor óptico, em comemoração ao Dia de Santa Luzia, a protetora dos olhos. Sempre nos recebendo com um sorriso maravilhoso. Que o Senhor o acolha em seus braços", acrescentou o optometrista. Para Spiezia, Francisco foi "o papa do mundo". "Éramos todos filhos do papa Francisco."
A advogada brasiliense Gabriela Fialho, 26 anos, mora em Roma há sete meses. Escolheu a capital da Itália para o mestrado em direito internacional. "Soube da morte de Francisco ao acordar. Peguei o celular para ver as notícias e me deparei com a notícia no site Vatican News. Sou católica e senti muito. Francisco foi um grande papa e um grande homem, que cumpriu o seu serviço até o fim, se entregou até a última gota", disse à reportagem. No domingo, Gabriela esteve na bênção Urbi et orbi ("À cidade de Roma e ao mundo"), na Praça de São Pedro, e ficou bem próxima do altar. "Quando ele apareceu para dar a bênção, nitidamente percebemos que a voz dele estava mais fraca. Nós, católicos, mantivemos a esperança, que foi o que ele pregou no Jubileu deste ano."
Em 27 de fevereiro, Gabriela recebeu uma carta do pontífice, assinada pelo seu assessor, monsenhor Roberto Campisi. Em Roma, existe a tradição de enviar mensagens ao papa, por meio do serviço postal do Vaticano. "Eu pedi a ele que rezasse por mim, pela minha família e pela minha mãe, que tinha falecido recentemente. Mesmo no hospital, passando pelo sofrimento, ele disse que rezava por minha mãe e pediu-me que orasse por ele. Também me aconselhou que nunca tivesse medo e se lembrou de uma homilia na Jornada Mundial da Juventude, na qual instou os jovens a não temerem."
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