
O impasse durou 45 dias. A social-democracia, grande derrotada nas eleições de 23 de fevereiro, retornará ao poder em um governo de coalizão com o bloco cobservador formado pela aliança entre a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU). Sob a batuta de Friederich Merz, o próximo chanceler da Alemanha, os conservadores ganharam o pleito e cortejaram o Partido Social Democrata (SPD), de Olaf Scholz, chefe de governo em fim de mandato.
Entre os desafios da centro-esquerda e dos conservadores no comando da terceira maior economia do planeta — e a mais desenvolvida da União Europeia (UE) —, estão frear o avanço do partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), pôr fim à recessão de dois anos e trabalhar em prol da defesa comum da Europa ante o desentendimento com os Estados Unidos e a ameaça representada pela Rússia.
"Desejamos que o novo governo possa começar a trabalhar no começo de maio", anunciou Merz, ao lado de Lars Klingbeil, co-líder do SPD. Segundo o próximo chanceler, o acordo de coalizão para os próximos quatro anos foi forjado "em um contexto de crescentes tensões políticas mundiais (...) em que muitas forças, dentro e fora do país, trabalham (...) contra nós na Alemanha". Merz prometeu um "apoio integral" militar e diplomático à Ucrânia e acenou com planos de aumentar o gasto em defesa nos próximos anos.
O contrato de coalizão tem 140 páginas, que abordam os "desafios históricos" do país. "A política dos próximos anos determinará, em grande parte, se seguiremos vivendo em uma Alemanha livre, segura, justa e próspera", segundo o documento. Merz quer um "novo rumo para a política migratória", com o fim da imigração ilegal e a suspensão do reagrupamento familiar — medidas que devem agradar à AfD. O governo de coalizão tripartite do atual chanceler Olaf Scholz ruiu, em novembro, ante divergências orçamentárias.
Confiança
Cientista político da Universidade Luís Maximiliano de Munique, Gûnther Auth explicou ao Correio que Merz e o SPD tentam, acima de tudo, "espalhar sinais de esperança e confiança, no momento em que uma parcela muito significativa da população está decidida a se afastar da formulação de políticas centristas, que tem sido característica da Alemanha por décadas". "Muitas pessoas perceberam que 'conseguir de qualquer jeito' não é mais suficiente, dados os problemas colocados pela migração em massa, custos de energia, desindustrialização, degradação ambiental, infraestrutura falha e educação miserável", afirmou. O estudioso considera que, com a imposição de novas tarifas e regras fiscais a aliados, por parte dos Estados Unidos, sobra pouca margem de manobra para o novo governo de coalizão, no que diz respeito à economia. "A Alemanha é fortemente dependente do acesso aos mercados americanos, uma vez que a União Europeia também mantém interdependência com os Estados Unidos", justificou.
Aunth advertiu que o governo de coalizão pode ser desacreditado, logo no início, se investir em novas tentativas de disciplinar a população, ao tirar direitos básicos garantidos pela Constituição. Um fracasso dos conservadores e dos social-democratas poderia, inclusive, fortalecer a extrema direita, na opinião dele. "A AfD provavelmente ganhará mais credibilidade, na medida em que o novo governo falhar no combate à recessão, à inflação, ao desemprego, à migração em massa, à criminalidade e à crescente insatisfação com as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza", observou.
EU ACHO...
"Os principais desafios da coalizão será colocar um freio na desindustrialização e na recessão da economia, a fim de que o povo perceba o governo como capaz e legítimo. O ativismo político e o alarmismo em relação à Russia podem não ser suficientes para acalmar a maioria da população a longo prazo."
Gûnther Auth, cientista político da Universidade Luís Maximiliano de Munique
Trump não descarta ataque ao Irã
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que uma ação militar contra o Irã é "absolutamente" possível se não chegarem a um acordo sobre o programa nuclear iraniano, acrescentando que "não há muito tempo" para alcançá-lo. "Se for necessário, absolutamente", declarou Trump a jornalistas que perguntaram se a ação militar é uma opção. "Se for necessária intervenção militar, nós a teremos. Israel, obviamente, estará muito envolvido nisso e será o líder", acrescentou. As declarações foram feitas a apenas três dias do início das negociações entre Washington e Teerã sobre o programa nuclear iraniano.

Mais cedo, os Estados Unidos impuseram novas sanções a entidades e a uma pessoa ligadas ao enriquecimento de urânio de Teerã. O Departamento do Tesouro informou a imposição de sanções a cinco entidades, entre elas a Organização de Energia Atômica do Irã e uma pessoa por seu apoio a grupos "que gerenciam ou supervisionam o programa nuclear do Irã".
"A busca irresponsável do regime iraniano por armas nucleares continua sendo uma grave ameaça aos Estados Unidos, à estabilidade regional e à segurança mundial", declarou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, citado no comunicado. O Irã afirma, de forma reiterada, que desenvolve um programa nuclear para fins civis, especialmente a geração de eletricidade.